O percurso do Partido Republicano
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- Virgilio Arraes
- 21/01/2012
2012 é ano de eleição presidencial nos Estados Unidos. Há quase quatro anos, originou-se lá a severa crise econômica por que ainda dobram os sinos em todo o mundo. Naquela época, o Partido Democrata, após dois mandatos fora da Casa Branca, aparentava ter renovada vontade para desfazer a herança deletéria da gestão de George Bush.
Nos dias atuais, não é mais possível ao presidente Barack Obama negar a acolhida de boa parte das diretrizes do predecessor, principalmente na política externa, ao demorar muito para executar a retirada dos efetivos do território iraquiano e ao não definir outro padrão de conduta na atuação do país em solo afegão, através da liderança de uma coligação militar cada vez menor.
O processo de escolha de um candidato de um grande partido à Casa Branca é complicado, longo e caro, porém é mais democrático porque cada estado escolhe a forma de seleção, em decorrência da preservação do princípio federativo. Em algumas unidades, o primeiro colocado obtém a soma de todos os votos; em outras, a destinação deles é proporcional. Em uns, todo eleitor pode votar; em outros, apenas os filiados a uma determinada agremiação.
Nascida no Wisconsin, a realização - hoje, consolidada - de prévias é fruto do progressismo político da primeira metade do século passado, com o propósito de reduzir o crescente caciquismo nos partidos. Gradativamente, outros estados acolheram a inovadora proposta e, em poucos anos, o processo se legitimaria em todo o país.
Se Mitt Romney vencer as duas últimas prévias de janeiro - Carolina do Sul, local em que tem apoio da governadora, e Flórida - ele provavelmente se consagrará candidato do Partido Republicano. Caso contrário, o ungido será conhecido na chamada Super Terça, a ocorrer no dia 6 de março, data em que dez estados efetivam a escolha de pouco mais de 400 delegados.
Em sendo indicado como o nome de preferência republicana, por quais caminhos poderia ele trilhar, com o propósito de diferenciar-se do opositor democrata? Barack Obama tardiamente acena para a classe média, desamparada e desesperançosa nos últimos anos, ao evocar de maneira enevoada a responsabilidade social do Estado.
Por seu turno, Romney prega de modo simplista o encolhimento do Estado, à moda neoliberal do setor privado: a diminuição dos quadros funcionais significaria menos despesas e, portanto, mais lucros. Na transposição inadequada desta visão para o setor público, se houvesse menos funções, ou seja, menos burocracia, existiria menos empecilhos e, por conseguinte, mais eficiência.
Na comunicação aos eleitores céticos, e por que não aos mais desinteressados politicamente, o aspirante republicano menciona que o adversário desejaria transformar os Estados Unidos em uma nova Europa, marcada por uma crise econômica, por sua vez, derivada de supostos gastos públicos generosamente voltados para o bem-estar imediato da população.
O modelo europeu seria inviável no médio prazo, de sorte que se ofertaria uma miragem aos norte-americanos mais desvalidos. Desta maneira, o presidente seria inimigo do país, por tentar desviar-se dos verdadeiros princípios norte-americanos, em especial a livre iniciativa.
De maneira consciente, os republicanos não informam à opinião pública que a insubsistência temporária dos governos europeus decorre de destinações cada vez mais amplas do orçamento para o pagamento de juros da dívida pública, utilizada, por sua vez, para financiar o próprio endividamento, não o benefício cotidiano das sociedades de lá.
Resta saber se os cidadãos estadunidenses ainda se encantam pelo canto neoliberal da sereia, de tão poucos resultados para eles desde os anos 90. Os democratas intuem não e, deste modo, lançam aos eleitores mensagem de cunho social-democrata, ainda que hesitantes.
Diante da lenta recuperação da economia norte-americana, os mercadólogos políticos de Obama perceberam que falas de alto teor social podem atrair para o atracadouro do Partido Democrata, ao menos até novembro, os milhões de náufragos da persistente crise.
Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.