Haverá uma sociedade pós-industrial?
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- Wladimir Pomar
- 21/11/2007
O desenvolvimento científico e tecnológico aponta para uma sociedade na qual o trabalho vivo deve ser mínimo. Não é segredo para ninguém que há muitas fábricas nas quais é alta a produção, mas é mínimo o número de trabalhadores empregados. Empresas desse tipo são encontradas tanto nos EUA e na Europa, quanto em diferentes países do mundo, a exemplo do Brasil. A expressão mais evidente dessa tendência é o forte desemprego estrutural existente nos países de capitalismo desenvolvido e em alguns emergentes.
Daí resultam duas questões que, em geral, aparecem embaralhadas. A primeira relaciona-se com o conceito de sociedade pós-industrial. Se tomarmos os países capitalistas avançados, eles continuam altamente industrializados, mesmo havendo transferido inúmeros elos de suas cadeias produtivas para países que oferecem melhores condições de elevar as margens de rentabilidade, ou lucro. Com esse movimento, contribuíram para espraiar, como nunca, a industrialização para novas áreas do globo.
Portanto, se olharmos sob o prisma da produção industrial, o que se observa é a disseminação da sociedade industrial. Ela não se dá mais sob a forma dos antigos parâmetros da máquina a vapor e dos teares mecânicos. Mas, em muitos países, ela ocorre acompanhada por um forte renascimento do artesanato e de formas arcaicas de organização manufatureira. Assim, por qualquer ângulo que se olhe, seria mais adequado falar em sociedades industriais de altas tecnologias, ou algo parecido, ao invés de falar de pós-industrial, convivendo com sociedades industriais que combinam altas tecnologias e tecnologias tradicionais.
A segunda questão relaciona-se com o mercado de trabalho industrial. Aqui sim podemos dizer que o trabalho futuro tende a ser pós-industrial. O desenvolvimento científico e tecnológico permite elevar a produtividade industrial a níveis em que o trabalho vivo tende a ser mínimo. Isto vai ocorrer também com as atividades agrícolas e os serviços, havendo a tendência de tornar a força de trabalho humano cada vez mais dispensável. Mesmo que a racionalidade humana mude a lógica capitalista, e implante um processo de redução paulatina da jornada de trabalho, chegará um momento em que será necessário passar da redução da jornada para o rodízio no trabalho e para outras formas hoje ainda não testadas.
No entanto, ainda não chegamos aí. E, olhando o planeta como um todo, ainda há um razoável caminho pela frente, seja para desenvolver a indústria e a agricultura, de modo a suprir as necessidades humanas, seja para elevar a produtividade em toda parte e colocar a humanidade diante da obrigação de realizar o trabalho livre como sua própria essência de vida.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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