Capitalismo e socialismo
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- Wladimir Pomar
- 04/12/2007
No Brasil, parcelas da esquerda partem do pressuposto que as contradições de nossa sociedade são próprias da ordem capitalista. Não seriam derivadas de qualquer atraso ou gargalo de desenvolvimento nacional, produzido pela permanência de setores ou interesses pré-capitalistas. Daí concluem que isso tornaria evidente que estamos em uma etapa socialista da revolução.
Os defensores desse pressuposto dizem que a população brasileira não vive em função da soja, da celulose e da mineração, mas sim de seus pequenos negócios e da sua agricultura familiar, opostos ao capitalismo. E, supõe-se, precursores do socialismo.
Eles também sustentam que a energia do rio Madeira não interessa para a maior parte da população, que depende do mercado interno, dos serviços públicos, da capacitação tecnológica e do micro-crédito. Em outras palavras, mercado interno, serviços públicos, capacitação tecnológica e micro-crédito estariam em oposição aos setores agro-exportadores e às grandes empresas do capitalismo, e seriam partícipes da etapa socialista.
É interessante que não notem que esse tipo de discussão está colocado nos limites estritos da ordem capitalista. A luta, justa e necessária no atual contexto brasileiro, entre os pequenos negócios, a agricultura familiar e outros setores de pequenos proprietários, contra os grandes negócios, é eminentemente uma luta de pequenos capitalistas contra grandes capitalistas. É aquilo que no jargão político se chama luta democrático-burguesa.
Ao monopolizar o capital, as tecnologias, as rendas e as terras, triturando os pequenos (e também os médios) capitalistas, o grande capital introduziu brutais distorções no desenvolvimento das forças produtivas e nas relações de produção, repondo na ordem do dia problemas que pareciam superados por seu desenvolvimento. Portanto, recolocou na ordem do dia uma reivindicação histórica da sociedade brasileira, a da democratização da propriedade, urbana e rural, o que é importante para a luta socialista, mas não é socialismo.
Pretender que a sobrevivência e o desenvolvimento desse pequeno capitalismo, contra o grande capitalismo, represente a entrada na "etapa socialista" pressupõe não só dizer que o pequeno capitalismo sobreviverá no socialismo, mas principalmente que ele é o próprio socialismo. Não deixa de ser uma forma de evitar os temores dos pequenos capitalistas, escondendo que a ultrapassagem, ou a ruptura, com o capitalismo inclui a socialização de, pelo menos, uma parte substancial da propriedade privada dos meios de produção.
Seria melhor dizer francamente, para os pequenos capitalistas, que nas condições de oligopolização da sociedade brasileira, somente o socialismo tem condições de realizar a democratização da propriedade e garantir a sobrevivência, por um tempo razoável, dos pequenos capitalistas ao lado das formas socialistas de propriedade. Isso pode dar um nó na cabeça de muita gente, mas é muito mais educativo do que espalhar ilusões.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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