Correio da Cidadania

O Brasil e a aversão ao risco

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As crises sistêmicas capitalistas tendem a expandir-se tanto pelos efeitos reais sobre a demanda e os ativos financeiros, quanto pelos efeitos sobre as decisões relacionadas a juros, créditos e investimentos. Ou seja, elas podem expandir-se tanto em função de riscos e efeitos reais, quanto de riscos e efeitos supostos, o que também é chamado de aversão ao risco.

 

A maioria dos analistas econômicos não vê riscos de longo prazo para as exportações brasileiras de manufaturados. As indústrias instaladas no Brasil, nacionais e estrangeiras, estão com mercados diversificados em regiões localizadas fora do epicentro da crise atual. No entanto, apesar disso, tais empresas podem ser atacadas pela aversão ao risco da crise norte-americana. Com medo de que a crise se espalhe, mesmo parcialmente, pela Europa, América Latina, África e Ásia, elas talvez se sintam mais seguras redirecionando suas vendas para o mercado interno.

 

Com isso, elas tendem a excluir os manufaturados da pauta de exportações, e podem causar uma crise interna de super-oferta. Nessas condições, o Brasil se verá diante da possibilidade de voltar à condição de exportador absoluto de matérias-primas agrícolas e minerais. Possibilidade que pode concretizar-se ainda mais rapidamente se, à aversão ao risco das indústrias, se juntar a aversão ao risco das autoridades monetárias, mantendo os juros elevados e a moeda valorizada, e deixando sem controle o movimento dos capitais de curto prazo.

 

Alguns analistas saudaram a decisão do Banco Central do Brasil, única e exclusivamente pela aversão ao risco, de manter inalterada a alta taxa de juros. No entanto, a aversão ao risco deveria ter levado o BC a reduzir os juros, mesmo em pequena escala, justamente porque há risco de expansão da crise norte-americana. Sem o rebaixamento dos juros, o real continuará a ser valorizado. Se acrescentarmos a isso a queda dos juros nos Estados Unidos e a desvalorização constante da moeda americana, o real tende a valorizar-se ainda mais, fazendo os manufaturados brasileiros perderem competitividade.

 

Nessa situação, a aversão ao risco terá se transformado em risco real pela ação das autoridades monetárias, agravando a retração do mercado externo do país e empurrando a produção das indústrias brasileiras para o mercado interno. O que não as livrará do risco. Com o real valorizado, os preços dos produtos asiáticos e norte-americanos se tornarão ainda mais baixos, inundando o país de importados. A indústria, ao invés de livrar-se do risco real, ficará sob pressão ainda maior, colocando em dúvida a rentabilidade dos investimentos programados.

 

Num processo em cascata, a aversão ao risco de realizar novos investimentos se transformará em risco real, colocando o Brasil outra vez diante da ameaça de crescimentos ridículos. Portanto, o tratamento da aversão ao risco tornou-se uma questão chave para o futuro.

 

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

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