A crise norte-americana e o resto do mundo
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- Wladimir Pomar
- 12/03/2008
A presente globalização, em certa medida, deu sobrevida ao capitalismo. O progresso tecnológico nos países em desenvolvimento cresceu de 40% a 60% mais rapidamente do que nos países desenvolvidos, entre o final de 1990 e o início dos anos 2000, expandindo o modo capitalista de produção para áreas até então consideradas inviáveis.
Contrariamente ao que muitos pensavam, esse progresso capitalista não aumentou o número de pessoas vivendo em miséria absoluta nos países em desenvolvimento. Esse número foi reduzido de 29%, em 1980, para 18%, em 2004, em grande parte porque a industrialização dos países emergentes absorveu grandes contingentes de trabalhadores rurais, cuja renda estava abaixo da linha da pobreza.
Por outro lado, isto não significa que as contradições capitalistas estejam sendo resolvidas. Ao contrário, ao disseminar ainda mais seu modo de produção ao redor do mundo, o capitalismo agrava mais fortemente as contradições presentes nos países desenvolvidos. E, no mundo em desenvolvimento, prepara o terreno para que tais contradições comecem a convergir, globalmente, para um ponto em que se tornará patente a incapacidade capitalista de, ao mesmo tempo, gerar riqueza, distribuí-la segundo as necessidades de cada membro da sociedade, e preservar a natureza que fornece aos seres vivos as condições de sua existência.
Se compararmos a atual crise financeira norte-americana a crises idênticas, de um passado não muito distante, não será difícil notar que existe uma nova situação global. A crise está abalando principalmente os países desenvolvidos, enquanto o mundo em desenvolvimento está sendo afetado relativamente muito pouco. O exemplo da China é emblemático.
Muitos analistas previam que esse país deveria crescer 10%, em 2008, contra 11,4%, em 2007, se a economia mundial não sofresse abalos. Eles também acreditavam que, caso a crise norte-americana descambasse para a recessão, isto deveria causar um estrago significativo na economia chinesa, fazendo com que sua taxa de crescimento caísse para 8%.
Porém, essas previsões "pessimistas" sobre a economia chinesa são o sonho otimista dos planejadores chineses. Desde a crise financeira de 1999, eles têm feito esforços para reduzir o ritmo de crescimento de sua economia para 7% a 8% ao ano. O fato de eles terem que continuar redobrando seus esforços para diminuir aquele ritmo, independentemente da crise americana, apenas mostra que uma parte do mundo está eventualmente blindada contra as ondas de choque das crises do capitalismo desenvolvido. O que não é pouco.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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