Papel internacional da China
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- Wladimir Pomar
- 04/07/2008
A demanda chinesa por matérias primas, especialmente minerais, vem sustentando os preços das commodities, que têm peso importante nas exportações de diversos países em desenvolvimento. O exemplo do minério de ferro brasileiro, exportado principalmente pela Vale, é significativo, com as importações da China tendo crescido mais do que 40% apenas em 2007.
A China também desempenha papel importante nas relações econômicas e comerciais entre os países em desenvolvimento, através de acordos de comércio e investimentos. Atualmente, o governo chinês tem encorajado as empresas nacionais a investirem nos países asiáticos, africanos e sul-americanos, através de créditos a juros baixos. Além de um fundo soberano de 200 bilhões de dólares, a China criou um fundo de desenvolvimento especialmente para a África e perdoou as dívidas de países mais pobres, no valor de quase 1,5 bilhão de dólares.
No caso da África e América do Sul, a China tem se voltado prioritariamente para o desenvolvimento de áreas como energia, telecomunicações e transportes, que são vitais para o desenvolvimento dos sistemas produtivos dos países daqueles continentes.
Porém, os países centrais acusam a China de concentrar seus esforços apenas em áreas de seu próprio interesse. Ela estaria dando atenção prioritária ao financiamento da exploração mineral e de petróleo e gás natural, além amarrar tais financiamentos ao fornecimento de equipamentos e mão-de-obra chineses.
A China, por seu lado, reconhece que demonstra especial interesse nessas áreas, mas que isso não é exclusividade sua. E acentua que os percentuais de equipamentos embutidos em seus financiamentos têm sido muito inferiores aos praticados pelos países desenvolvidos, o que tem funcionado como forte atrativo para nações que pretendem industrializar-se.
A China também reconhece que tem feito contratos de serviços de mão-de-obra com países que passaram décadas em guerra civil e não possuem força de trabalho com qualificação mínima para implantar grandes projetos de infra-estrutura. Fora isso, os chineses afirmam não haver casos em que esse fator tenha sido impedimento para seus financiamentos externos.
Nos últimos dois anos, a China sofreu um forte desequilíbrio em sua balança comercial, com superávits superiores a 300 bilhões de dólares em cada um dos anos, o que está conduzindo-a a adotar políticas mais ativas de importação, ao mesmo tempo em que eleva o poder de compra de suas populações rurais e urbanas e universaliza os serviços públicos de seguridade social, saúde e educação, em especial nas áreas rurais.
Num quadro de crise internacional de crescimento, essas medidas de fortalecimento do mercado interno podem contribuir para ampliar as demandas chinesas não só por commodities, mas também por produtos industrializados de diversos países. Se ela conseguir isso, reforçará as tendências de crescimento industrial, principalmente dos países asiáticos, africanos e sul-americanos, restando pouca dúvida de que seu papel global crescerá.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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