A defensiva estratégica socialista
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- Wladimir Pomar
- 15/09/2008
A defensiva estratégica socialista teve início nos anos 1970. Mas a maior parte da esquerda, no mundo todo, teve pouca percepção de que a vitória vietnamita era o ápice do grande impulso da luta de classes em todo o mundo e que, a partir dela, o que ocorreu foi uma redução gradativa, mas forte, dos movimentos massivos e das guerras revolucionárias que haviam marcado os anos precedentes.
Embora movimentos guerrilheiros ainda tenham se mantido em alguns países, quem quer que faça um balanço cuidadoso dos anos que se seguiram à derrota norte-americana no Vietnã vislumbrará facilmente uma curva descendente. Isto, por si só, já seria suficiente para fazer com que os socialistas revissem suas estratégias e considerassem a necessidade de colocar-se em defensiva.
Ao lado disso, a União Soviética e os países socialistas do leste europeu esgotavam suas tentativas de construir o socialismo "puro", vendo-se constrangidos a buscar novos caminhos. Os primeiros sinais dessa crise apareceram no início dos anos 1960, e daí em diante só se agravaram. A China, por seu turno, em meados dessa mesma década, ingressou na mais radical tentativa de desenvolver suas forças produtivas através da participação coletiva massiva.
Quando os anos 1970 findaram, a União Soviética e os países socialistas do leste europeu, assim como Cuba e Vietnã, já haviam entrado em estagnação econômica e social. E a China, tendo esgotado o empuxo da Revolução Cultural, entrava num intenso processo de reformas para desenvolver-se, incluindo a retomada da economia de mercado.
Por outro lado, nesse mesmo período, os países imperialistas da América e da Europa ingressaram numa reestruturação profunda, para tentar superar sua tendência de queda da taxa média de lucro, agravada pelo surgimento de novos concorrentes capitalistas, como o Japão e os Tigres Asiáticos. Beneficiados pela guerra da Coréia e pelos planos norte-americanos de ajuda financeira e econômica para conter a expansão chinesa, o Japão se tornara uma nova potência econômica, enquanto os Tigres demonstravam uma competitividade inusitada.
Portanto, durante os anos 1970, seja pelo declínio das lutas de massas e revolucionárias, seja pelo esgotamento das tentativas de desenvolver as forças produtivas por meio do uso exclusivo da propriedade social, seja ainda pelo novo padrão de expansão capitalista, o socialismo já havia entrado em profunda defensiva estratégica.
O não reconhecimento desse fato, tanto econômico quanto social e político, levou comunistas e socialistas a adotarem políticas erráticas e a realizarem aventuras dos mais diferentes tipos, à esquerda e à direita, tanto nos países socialistas quanto nos capitalistas. O que contribuiu, em grande medida, para a vergonhosa derrocada dos regimes socialistas, na União Soviética e no leste europeu.
Assim, bem vistas as coisas, a defensiva estratégica do socialismo tem causas objetivas bem visíveis, fincadas no declínio momentâneo da luta de classes, na derrota do tipo soviético de construção socialista e na reestruturação que começou a levar o capitalismo a uma nova etapa de seu desenvolvimento.
Wladimir Pomar é analista político e escritor.
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Comentários
A rigor, o refluxo temporário da luta socialista se deve à fragilidade da construção e consolidação de uma real e profunda cultura socialista, que privilegie o bem-estar coletivo, em detrimento da sedução pelos padrões de consumo e do vício consumista das economias e sociedades ocidentais apodrecidas e moralmente decaídas. Esse processo exatamente se inicia com a ascenção da canalha revisionista na União Soviética, na segunda metade dos anos cinqüenta, e dos seus asseclas e congêneres, inimigos do grande Mao, na China, na década seguinte, espalhando-se, daí então, pelos demais países. Essa canalha revisionista finca o marco da sua hegemonia a partir da capitulação vergonhosa no episódios dos mísseis instalados em Cuba, em 1961, que lá deveriam ter permanecido, ativos, A QUALQUER CUSTO.
Por outro lado, o abandono gradativo do conceito socialista de planificação democrática (verdadeiramente democrática, com crescente aperfeiçoamento dos métodos de programação, acompanhamento e controle gerencial) centralizada, em prol adoção da mercadoria, é, a um só tempo, causa e conseqüência, mas a base é, sem dúvida, o relaxamento das políticas de construção de uma cultura enraizadamente socialista, aliada a um processo permanente, contínuo, vigoroso de erradicação das ervas-daninhas oportunistas.
O resto é visão pequeno-burguesa, de quem se faz presa da ansiedade por sancionar, ex-post, a história decorrida no curto prazo recente, que se toma como (falsa) base de análise.
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