Ainda a crise e o Brasil
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- Wladimir Pomar
- 07/11/2008
O Brasil ainda tem vulnerabilidades externas? Claro que tem. Ele ainda depende, para seu crescimento, da importação de bens de capital, incluindo tecnologias que não produz. Depende, em certa escala, de financiamentos externos para suas exportações e importações. E ainda se vê obrigado a produzir superávits primários vultosos, para garantir o pagamento de suas dívidas externas, o que reduz substancialmente sua capacidade de poupança e de investimentos produtivos. E, mais grave do que tudo, não tem um mercado de capitais de curto prazo regulado.
Por outro lado, se compararmos as atuais vulnerabilidades com as existentes há seis anos, as diferenças para melhor são significativas. Podemos até não concordar com a morosidade e com os métodos utilizados para reduzi-las, mas somente a cegueira ou a má-fé diante da realidade pode afirmar que nada mudou e que a estabilidade do Brasil é de papel.
Não se pode desdenhar o fato de o Brasil depender só em 14% do mercado norte-americano para as suas exportações, tomando como premissa uma pseudo-dependência, em relação àquele mercado, de países para os quais o Brasil aumentou suas exportações, a exemplo da China.
Isto é o mesmo que jogar com informações desencontradas, para demonstrar as vulnerabilidades brasileiras. Só quem não entendeu as modificações ocorridas na divisão internacional do trabalho e do capital nos últimos 30 anos, nem o novo papel que a China desempenha nesse processo, pode supor que esse país "dependa" dos Estados Unidos.
A China exporta para o mercado norte-americano cerca de 20% de seus produtos destinados ao mercado internacional. Isto represente um volume considerável, mas está longe de representar uma "dependência", principalmente se levarmos em conta as potencialidades de expansão do mercado doméstico chinês e os planos de expansão desse mercado para substituir a previsível redução das importações dos Estados Unidos, em decorrência de sua recessão.
Portanto, numa avaliação isenta de preconceitos, o Brasil não está tão fraco como há 5 ou 10 anos. Uma de suas principais conquistas, nos últimos anos, consistiu em haver praticamente dobrado o volume de seu comércio externo e diversificado suas parcerias. Isso permitiu não apenas obter saldos substanciais na balança de pagamentos, mas também contribuiu para o crescimento econômico e a retomada do processo de industrialização nacional, com o aumento da importação de máquinas e equipamentos industriais.
O aumento do número de parceiros internacionais, em especial na Ásia do Pacífico, que se tornou o novo pólo mundial de desenvolvimento industrial e social, pode ajudar o Brasil a enfrentar melhor a presente crise sistêmica. Tais países estão em condições de evitar a recessão e manter um comércio ativo conosco. Assim, embora os Estados Unidos ainda sejam os principais parceiros do Brasil no comércio internacional, haver reduzido a dependência em relação a eles não seria algo desprezível, particularmente diante da atual crise.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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