Correio da Cidadania

A crise e as oportunidades brasileiras

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A crise do capitalismo desenvolvido é, como afirmamos em outros comentários, tanto uma ameaça ao desenvolvimento do Brasil, quanto novas possibilidades e oportunidades para o país.

 

A chave para manter a economia funcionando, ao contrário do senso comum dos setores empresariais, não consiste em manter as linhas de crédito. Embora isto seja necessário, ninguém vai obter crédito se estiver desempregado. O decisivo, então, será manter e ampliar a oferta de empregos. Esse foi o foco essencial do New Deal de Roosevelt, na crise de 1929-1933. Esse foi o foco principal da China, na crise de 1997-1999, e é seu foco principal na atual crise.

 

Isso porque apenas com grandes contingentes de empregados na população economicamente ativa é possível manter um mercado interno dinâmico. Nesse sentido, a manutenção das metas do PAC, de reconstruir e ampliar a infra-estrutura energética, de transportes e tecnológica do Brasil, joga um papel fundamental na criação de empregos e na distribuição da renda.

 

No entanto, como o empresariado privado entrou em pânico, não quer perder nenhum tostão, e não faz parte de sua natureza fazer sacrifícios, talvez seja necessário que o governo interfira ainda mais fortemente. Não foi por acaso que, nas crises passadas, o papel do Estado foi determinante. E que, também na atual crise, a burguesia apele para o Estado, embora no sentido exclusivo de salvar-se, e não a todos.

 

Portanto, tendo em vista que parte considerável da atual mão-de-obra empregada será dispensada dos setores afetados pela crise, é recomendável que o governo amplie as metas do PAC. Paralelamente a essas medidas, tendo em vista impedir que as taxas de desemprego afetem o conjunto da economia e o mercado interno, o governo poderia agir com ousadia no apoio ao setor das micro e pequenas empresas, tradicionais absorvedoras de grandes contingentes de força de trabalho.

 

Pode, por exemplo, intensificar os programas de assentamento dos milhares de trabalhadores sem terra e os programas de apoio à produção das economias familiares rurais, para intensificar a produção de alimentos e biocombustíveis, e diminuir o desemprego rural. Pode reduzir ainda mais drasticamente os encargos de diversos tipos, que pesam sobre as micro-empresas produtoras de bens industriais e de serviços, para aumentar a oferta de produtos de consumo mais baratos. E, para evitar que suas reservas internacionais virem pó, e que o Real continue se desvalorizando além dos limites necessários, pode adotar medidas de controle das entradas e saídas dos capitais externos de curto prazo.

 

Com isso tudo, e com o atendimento a algumas das medidas reclamadas pelo empresariado grande e médio, o governo garante as taxas de emprego, aumenta o poder de compra da população, dá condições para a burguesia abandonar seu pânico, mantém parte considerável de suas reservas (cerca de 50 bilhões já foram queimadas) e, apesar da crise, retoma o ciclo de crescimento em novas bases.

 

Novas bases porque consolida o papel do governo, aumenta com legitimidade a participação dos capitais estatais na economia, reforça efetivamente a participação, na economia e na sociedade, dos micro e pequenos empresários capitalistas, urbanos e rurais, e, mais do que tudo, abre um vasto caminho para aumentar o número de assalariados empregados nos diversos setores econômicos.

 

Wladimir Pomar é analista político e escritor.

 

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