Mobilização de massas por conta própria
- Detalhes
- Wladimir Pomar
- 10/06/2009
Na história do Brasil ocorreram muitas mobilizações de massas populares por conta própria. Só para citar algumas, no final dos anos 1910, grandes greves operárias. Nos anos 1940, manifestações massivas pela participação na guerra contra o fascismo. Durante os anos 1950, grandes greves operárias em São Paulo. No final dos anos 1970, grandes greves operárias no ABC paulista. Nos anos 1990, reação popular contra o apelo de apoio feito por Collor.
Mobilizações menores, realizadas por iniciativa das próprias massas, têm sido incontáveis. Se formos examinar as grandes mobilizações, elas muitas vezes são o resultado de um prolongado processo de pequenas mobilizações por conta própria.
O torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães foi o gatilho que impulsionou as massas populares a romper as proibições da ditadura varguista e transbordar os sentimentos antifascistas, que já vinham expondo de diferentes maneiras. Incontáveis "operações tartaruga", por inúmeros motivos localizados, foram o aprendizado "normal" para as greves no ABC.
Em todos esses casos, como em muitos outros, as pequenas mobilizações por conta própria representam um termômetro do estado de espírito das massas e de sua tendência de luta. Um dos aspectos importantes da participação de líderes e militantes dos partidos populares nesse aprendizado "normal" consiste, justamente, em poderem medir essa tendência e contribuir de forma ativa na organização e na mobilização propriamente dita.
Quando tais líderes e militantes estão presentes, e são ativos, há uma propensão de assumirem a direção das mobilizações. Isto dá a impressão de que se deveu a eles o fato de as massas haverem se mobilizado. No entanto, eles só assumiram a direção porque estavam presentes e porque captaram as razões e os limites da luta.
Não é por acaso que, mesmo estando presentes, há lideres e militantes que não conseguem ser reconhecidos como dirigentes. Tentaram impor objetivos e formas de luta mais avançados, ou mais atrasados, por incapacidade de captar as razões e limites a que as massas haviam chegado em seu aprendizado "normal". Basta rever a mobilização operária do ABC, no final dos anos 1970, para ter uma visão mais nítida desse processo de mobilização por conta própria e de reconhecimento dos dirigentes para a luta.
Também não é por acaso que, quando não há líderes e militantes de partidos populares envolvidos no processo de aprendizado das massas, estas criam seus próprios dirigentes para a luta. Um dos casos mais conhecidos foi o dos bóias-frias, em Leme (SP), no início dos anos 1980.
Portanto, a história tem inumeráveis exemplos de mobilizações de massas por conta própria. Reconhecer essa espontaneidade nada tem a ver com "passividade" ou "adaptação" a baixos níveis de mobilização. Significa apenas partir do pressuposto de que as massas populares são os verdadeiros autores e atores da história humana. Sem entender sua dinâmica de aprendizado, nem ter em conta sua capacidade de mobilização por conta própria, tal pressuposto não passa de teoria vazia.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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Comentários
Desculpe me intrometer novamente, tinha até me desinteressado deste debate contigo, ou melhor, com seus artigos, justamente por achar que tergiversavas e mudavas o rumo de acordo apenas com suas própriass conclusões.
Mas, se bem me lembro, discutíamos, e a partir de suas proposições iniciais, sobre a DESMOBILIZAÇÃO POPULAR, esta causada PROPOSITADAMENTE pelo governo Lulla (ainda insisto nos dois lls), com a desculpa da tal Governabilidade que redundou nesta vergonheira de Sarneys e quetais, que vemos hoje.
De repente, vejo neste texto um viés crítico a um certo vanguardismo que, em absoluto ninguém aqui propôs (e não que não exista , em certa medida por aí). É só ir em seu nome aqui no Correio e reler o que escrevemos.
O que criticávamos foi, aí sim e com certeza, esta DESMOBILIZAÇÃO que, esta sim proposital, articulada e incentivada por muitos que deviam respeitar uma ascensão pacífica, de massas e contundente, que culminou com a eleição do Lula em 2002, mas que acabou servindo para o governo do Lulla, este sim amparada por forte esquema vanguardista que pretendeu substituir o que vinha se espraiando no Brasil. Só que a vanguarda que usurpou o processo é a vanguarda do Atraso.
Sabemos nós, e muito bem, que existem vários tipos de revoltas e mobilizações expontâneas "das mssas". E sabemos que muitas delas apenas exoneram a impossibilidade de tomarem para si as rédeas do processo, muitas vezes acabando em barbáries e desconstrução do tal tecido social. E servindo de desculpa para a buerguesia "baixar pau", pela Ordem.
Há quem se adeque a esta farsa social e econômica que vivemos, com ítens de um cardápio macabro de nossa economia e país. Há quem veja nesta calmaria social não um efeito anestésico aplicado para suprimir a dor, sem curar o que lhe causa.
Não é o meu caso, podes ter a certeza.
Portanto, vir aqui acusar de vanguardismo inconsequente a crítica aos Anestesistas Sociais que fazemos, é querer jogar com inverdades.
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