Correio da Cidadania

Teorias

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A respeito da análise do socialismo com características chinesas, ou vietnamitas, alguns setores da esquerda aceitam as teorias a granel dos pensadores liberais. Segundo elas, a China e o Vietnã já teriam se tornado capitalistas, só faltando liquidar ou transformar seus partidos comunistas, assim como os Estados que eles comandam.

 

Essas teorias não aceitam que seja socialista um país que, em seu processo de desenvolvimento, utilize mercado, propriedade privada e integração ao mercado mundial capitalista, mesmo em combinação com planejamento estatal, propriedade estatal, propriedade coletiva, industrialização e agricultura familiar. Afirmam que essas aparências de socialismo estão, na verdade, subordinadas ao processo de expansão capitalista.

 

Se a China e o Vietnã houvessem afundado sob essa sopa aparentemente eclética, se seus partidos comunistas e seus Estados nacionais não continuassem afirmando estarem na fase inicial da construção socialista, e fizessem como os russos e europeus do leste, que admitiram o capitalismo como sua salvação, talvez não se devesse perder tempo com suas experiências.

 

No entanto, ao contrário dos países que seguiram a cartilha do Consenso de Washington, tanto a China quanto o Vietnã estão se transformando de países atrasados, durante boa parte do século 20, em países avançados e desenvolvidos. A China, em especial, que iniciou mais cedo as reformas em seu socialismo, está ingressando paulatinamente num estágio de país desenvolvido, enquanto o Vietnã evolui para se tornar um novo "tigre" asiático.

 

Além disso, para evitar que o uso dos mecanismos de mercado crie pobreza e miséria, os Estados chinês e vietnamita intervêm na economia e na sociedade, realizando os ajustes necessários para reequilibrar a distribuição da renda e proporcionar um crescente acesso de sua população aos bens materiais e culturais. Temos, então, um problema que afeta aos pensadores, tanto liberais quanto socialistas.

 

Aos primeiros, porque pode demonstrar a possível existência de uma economia de mercado não dominada pelo capital, embora com este presente. Isso explica, em grande parte, o sucesso da China e do Vietnã no enfrentamento da atual crise mundial, em especial em sua capacidade de criação de novos postos de trabalho e realocação dos desempregados. Mas deixa as teorias liberais em frangalhos.

 

Aos segundos, porque pode demonstrar que o socialismo é realmente um processo de transição para a superação do capitalismo. Suas funções básicas seriam: a) desenvolver as forças produtivas, inclusive com a utilização de formas de propriedade capitalistas; b) desenvolver mecanismos de redistribuição permanente da renda, de modo que o enriquecimento se estenda paulatinamente a toda a população; c) desenvolver a democratização política em consonância com a democratização educacional, cultural, econômica e social, de modo que o saber, a renda e a propriedade sejam de acesso universal.

 

Tudo isso deixa em transe certas teorias de socialismo igualitário, mas também do liberalismo.

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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Comentários   

0 #7 Vale lembrarAugusto Patrini Menna Barreto 24-07-2009 11:53
Vale lembrar também que os regimes fascistas - como por exemplo o Nacional-socialista da Alemanha, também intervieram na economia em nome da justiça social, e se propunham a ser uma quebra com o liberalismo. Então percebe-se que a coisa é mais complicada do que liberais malvados de um lado e anti-liberais bonzinhos de outro...
O nazismo também tinha programas sociais, e algum conteúdo "socialista" mas era um regime odioso! Por quê? Por que ignorava que Direitos Humanos são para todas as pessoas.
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0 #6 Não importa o que são na teoria...Augusto Patrini Menna Barreto 24-07-2009 11:47
Acho vergonhoso que alguns setores de esquerda ainda não incorporaram a questão democrática e a questão dos Direitos Humanos. Não importa que na teoria China e Viatnã ou Coréia do Norte, Laos etc) sejam capitalistas ou comunistas, importa é que são ditaduras, encabeçadas por partidos autoritários e anti-democráticos. A batalha em prol do socialismo nesses países está perdida enquanto estes regimes não cairem... A China é o país mais capitalista da face deste planeta, não importa se o partido que ainda a controla seja chamado comunista, seu regime é ultra-capitalista, e em termos de liberdade política em termos que comparação histórica beira o fascismo.
Que vergonha defender esse regime; o mundo é mais complicado do que alguns pensam. Não se trata dos bons contra os maus - EUA contra China, ocidente contra oriente... a História indica isso. Ass coisas não "evoluem", ou involuem, elas apenas acontem no meio de fatores econômicos, políticos e históricos determinados. Essa concepção escatológica foi superada a muito pela historiografia brasileira e mundial, só existe ainda no discurso de alguns saudosos da guerra fria e em alguns (péssimos) livros de história do ensino fundamental;
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0 #5 Mais elementosRaymundo Araujo Filho 24-07-2009 09:31
Hoje no Programa Faixa Livre, aqui no Rio, conduzido pelo economista Paulo passarinho, houve uma mesa redonda sobre a China.

Foram três professores universitários de renome nos estudos sobre o País, todos eles defendendo as teses aqui expostas pelo Wladimir pomar.

Elegeram Den Xiao Ping como o grande cérebro do atual estágio do que chamam 'Socialismo Chinês".

Em resumo disseram:

1) Que a China fez uma Perestroika (abertura econômica), sem a Glasnot (abertura política), para salvar a China do atraso.

2) Disseram que o aporte do capital internacional por lá, é muito bem regulado pelo Estado, com pesados depósitos impostos ao sistema Financeiro privado.

3) Que a transferência de tecnologia para a China era necessária, para integrá-la ao mundo

3) Atribuíram à informação distorcida da mídia, o índice que indiquei como sendo o maior na defasagem estrutural entre o campo e a cidade, desconhecendo que são dados internacionais, subscritos pelo governo Chinês.

3) nada disseram sobre o fato de ser 80% da população a custear o desenvolvimento para 20% da população urbanizada, industrializada e beneficiária de serviços e contato com o mundo.

4) Perguntados sobre a questão ambiental, fizeram o discurso que é uma armadilha dos países ricos para cercear o desenvolvimento dos pobres, quando a China não é um Brasil ou Venezuela, mas sim o segundo poluidor do mundo.

5) Justificaram as grandes e mega obras de infra estrutura energética, como o que será por lá, a maior hidrelétrica em tamanho, no mundo, etc. e tal.

6) E que isso vai possibilitar a distribuição do Bolo, muito em breve, de forma mais acentuada.

7) Relevaram como secundária a questão política, apoiando eles, o Estado forte e policial por lá, além da falta de mecanismos de expressão Popular, institucionalizadas.

Assim, telefonei para um amigo também ouvinte do programa, para dizer que, pelo que vejo, uma associação de Delfin Neto com JK, e uma boa dose de militarismo anti popular, parece fazer a cabeça dos nossos professores e articulistas.

Às favas com o Socialismo, e ainda por cima, de forma equivocada, chamando aquilo de Socialismo.

Estaria disposto a discutir esta questão, mas dando os nomes certos, às coisas certas. Mesmo sem acentuar nenhum juízo de valor àquela experiência, podemos chamá-la de tudo, menos Socialismo.

No máximo, uma aventura Estatocrática, que, alguns podem aprovar incondicionalmente, enquanto outros, com mais prudência, preferem analisar sem querer identificá-la como algo parecido com uma Revolução Socialista.

Este meu amigo, ao fim de nossa conversa disse: "Lamentavelmente, em vez dos países periféricos fazerem uma inflexão na direção dos conceitos de qualidade e desenvolvimento comunitário e descentralizado, com forte presença Popular, em resposta ao Capitalismo Globalizante, aconteceu o contrário, estes países, incluindo a China, é que fizeram uma inflexão, na direção do Desenvolvimento Superestrutural e Centralizado em Oligopólios Internacionais, aderindo á velha fórmula de fazer o Bolo crescer, para depois distribuí-lo". Inclusive atuando de forma não ética, senão ilegal, com a exportação de quinquilharias e artigos de baixíssima qualidade, mas de preço popular, enquanto vendem às elites e dirigentes sua Setorial e Refinada Tecnologia de Ponta, em Joint Ventrures empresariais.

O Socialismo pressupõe, ao meu ver, uma mudança de matriz produtiva e de mecanismos de participação política. Se não, vamos repetir o passado, ou pior, juntar em um só país, o pior do Socialismo autoritário, com o pior do capitalismo corporativo.

De forma clara e inequívoca podemos, sim, discutir a Chima. mas sem fantasias ideológicas, na verdade falsas, ao meu ver.
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0 #4 o a definição do valter pomarbraz 23-07-2009 18:24
oi valter- neste texto voce fez uma sintese do processo que todos nós estamos acompanhando, faz qual é sua posição pessoal de forma teórica e prática para uma maior avanço da sociedade e do humano.No meu entender ao ler o texto me parece
que esta sua posição e que eles estão caminho correto o avanço de nossas lutas. É isso ou éw oputra coisa?
braz pt13 barretos
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0 #3 terceira viaCarlos Alberto Paes 22-07-2009 07:47
O que podemos visualizar nesta questão de mudanças economicas globais é que, nem o comunismo ou o capitalismo, estão conseguindo se manter frente a nova face economica e tecnologica global. Paises capitalistas e socialistas estão enxergando que nesta nova era que vivemos, será necessario uma terceira via, e isso seria provavelmente um misto de capital/socialismo, para atender as necessidades humanas, sociais e economicas.
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0 #2 Calma lá!!!Ronaldo Oliveira 22-07-2009 04:16
É bem verdade que \"o comunismo não é um estado de coisas a ser perceguido, mas o processo de transformação do atual\", entretanto ver na simples intervenção estatal a presença do socialismo é forçar.

É preciso que Pomar apresente mais elementos que demonstre existência real de suas \"funções básicas\", em especial os itens \"b\" e \"c\".

Com tanto relativismo, qualquer coisa pode se dizer no caminho do socialismo, até o governo Lula que prioriza o agronegócio, bancos e grandes empresas. Que distribui bilhões a estes e migalhas ao povo.

Que fala em democratização, mas luta por salvar Daniel Dantas e Sarney, ao tempo que vai entregando a amazônia e leiloando nosso petróleo. Que ignora a constituição e não faz a auditoria da dívida. Etc. etc.

Axé
BAguinha
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0 #1 Pelo DebateRaymundo Araujo Filho 21-07-2009 11:25
O que chamam de desenvolvimento apontado para o Povo na China, tem como resultado que este país tenha hoje, o maior índice de diferenças econômicas e estruturais, entre o campo e a cidade. http://portuguese.cri.cn/199
/2006/12/28/

Diversos mendigos chineses, dizem que é melhor ser mendigo nas Cidades, do que pobre no interior.

As grifes de luxo internacionais mantêm Pequim como prioridade para suas expansões.

O que acontece na China, ao meu ver, é um novo capítulo, talvez pós moderno, de fazer com que 80% do Povo pague por melhorias para os outros 20%.

"E depois nóis vê como é que fica!"

Vai ver que o Socialismo é isso mesmo. Será?
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