País agrário industrial
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- Wladimir Pomar
- 30/05/2007
A Operação Navalha continua, a revista Veja acusou o presidente do
Senado de receber dinheiro de uma empreiteira, a PF reduziu seu ímpeto
de fazer vazamentos para a Globo, e há poucos sinais de que ocorram
novas notícias bombásticas a curto prazo. Portanto, retomemos nossos
comentários sobre a história do capitalismo brasileiro.
O período do regime militar foi de consolidação do predomínio
capitalista. O Brasil passou a transformar boa parte dos minérios que
explorava, inclusive petróleo, produzindo ferro gusa, aço, navios,
veículos automotores, aviões, produtos químicos diversos, máquinas
eletro-domésticas, tecidos etc. Tornou-se grande produtor de carnes
(bovina, suína e aves), e um dos grandes produtores mundiais de soja,
aproveitando os solos corrigidos dos cerrados. Além disso, implantou um
programa inovador de álcool combustível, tendo a cana-de-açúcar como
fonte.
Apesar disso, eram identificáveis falhas complexas nesse
desenvolvimento. A industrialização concentrou-se no sudeste e, em
parte, no sul. As demais regiões foram mantidas em atraso. A
modernização da agropecuária, além de propiciar uma utilização
perdulária do dinheiro público e do meio ambiente, também se concentrou
em algumas regiões. Nas demais, persistiram as antigas relações
semi-servis de trabalho. E a agricultura comercial, chamado
agronegócio, passou a ameaçar os pequenos agricultores familiares,
expropriando-os por dívidas ou por outras formas.
A lógica capitalista impôs à industrialização e à modernização agrícola
um processo em que alguns setores recebiam fluxos mais intensos de
investimentos, enquanto outros eram abandonados. Criaram-se, assim,
cadeias produtivas descontínuas, pouco densas, com elos inexistentes ou
localmente dispersos, e uma infra-estrutura distorcida. Portanto, com
maiores custos e menor capacidade competitiva.
Algumas das estatais procuravam adensar suas cadeias produtivas, mas
isto não era fruto de uma política industrial, nem agrícola, integrada,
de cunho nacional. A política industrial subordinava-se aos interesses
imediatos de alguns setores e empresas, principalmente estrangeiras,
como aconteceu com a indústria automobilística e com a indústria naval.
E a política agrícola subordinou-se aos interesses dos produtores das
commodities do momento.
Não foi imposto qualquer zoneamento agrícola às plantations. Nada as
obrigou a conservar as áreas de florestas nativas, nem internamente,
nem entre elas. A destruição do meio ambiente tornou-se metódica.
Num quadro como esse, o país estava despreparado para enfrentar de
forma soberana os desafios da nova revolução técnico-científica e da
nova globalização capitalista.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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