Lula e o Pós-Consenso de Washington
- Detalhes
- Wladimir Pomar
- 16/01/2010
Os críticos do governo Lula analisam a conjuntura pós-eleições de 2002 como uma fantástica energia política liberada. O Brasil teria eleito Lula para mudar. Em tais condições, avaliam, Lula não teria aproveitado aquela fantástica energia por receio de que a crise econômica se agravasse com a inflação recrudescendo, o dólar a R$4,00 e o risco Brasil aumentando.
Eles não traduzem o que significa uma fantástica energia política liberada, num contexto em que a vitória de Lula se deveu a um amplo acordo com parte significativa da burguesia. E também não dizem se, nem como, seria possível manter algum controle sobre a situação se Lula houvesse reduzido abruptamente a taxa de juros e o superávit primário, e aumentado os gastos do orçamento, naquele quadro de elevação da inflação e do câmbio, e de créditos externos dependentes do sistema financeiro internacional. É muito fácil dizer o que não deveria ter sido feito, mas é muito difícil dizer o que poderia ser feito.
Não é por acaso que esses críticos chamem de cavalo-de-pau na economia o aumento da taxa de juros de 25% para 25,5% e depois para 26,5%, o aumento do superávit primário de 3,5% para 3,75% e posteriormente para 4,25%, e o corte R$ 14 bilhões do orçamento, segundo eles atingindo a área social. Pelo jeito, não entendem o significado do termo cavalo-de-pau, isto é, manobra de emergência em que um veículo é levado a mudar bruscamente sua direção e sentido. Este não foi o caso da economia brasileira de então, nem da política predominante no PT. Assim, resolveram utilizar uma figura forte apenas para impressionar, o que demonstra falta de argumento.
O que poderiam ter criticado é que o governo Lula, para acalmar o mercado financeiro, além de nomear para a presidência do Banco Central o banqueiro Henrique Meirelles, exagerou na continuidade da política monetária, num contexto internacional em que o Banco Mundial e o FMI já se viam constrangidos a aceitar mudanças na ortodoxia econômica, e em que um espirro da economia norte-americana já não era mais capaz de causar tantos estragos, porque o centro dinâmico da economia mundial havia se transferido para a Ásia do Pacífico.
O governo Lula poderia ter aproveitado muito mais as novas condições internacionais se tivesse maior clareza das conseqüências globais da emergência da China e Índia, para ter uma política de crescimento mais ativa já no primeiro mandato. Mas, além de encontrar devastada a máquina estatal de planejamento e projetos, o governo Lula pode alegar que essa clareza também faltava, ou ainda falta, a seus críticos.
Por outro lado, continuar confundindo a política social do governo Lula com políticas de caráter compensatório é o mesmo que desconhecer o caráter e os resultados reais daquela política. Pior ainda é considerá-la decorrência da admissão do Banco Mundial sobre a necessidade de juntar o social com a economia e a política, chamada de pós-Consenso de Washington. Propostas de políticas sociais de redução da pobreza fazem parte da história do PT bem antes que o Banco Mundial, diante dos problemas políticos decorrentes do neoliberalismo, decidisse ajustar suas estratégias para não perder os dedos e as mãos.
Além disso, hoje apenas os cegos continuam sem enxergar que a política social do governo Lula significou um movimento de pinça para contrapor-se à continuidade da política monetária e, mais ainda, à continuidade da política econômica em seu todo, forjando um forte apoio social entre os mais pobres. Podemos até criticar o governo Lula por haver aceso, no primeiro mandato, uma vela a Deus (os pobres) e outra ao Diabo (o sistema financeiro), momentaneamente à custa dos anjos (a classe média).
Mas não podemos negar que sua política social, embora combinada com a continuidade da política fiscal e monetária anterior, também esteve associada a uma política diferente de diversificação das exportações e serviu para criar as bases políticas, sociais e econômicas para a retomada do crescimento econômico e a adoção de uma política industrial. Podemos até reclamar que isso foi feito com lentidão, e que ela poderia ter sido associada a medidas mais eficazes de assentamentos rurais e de apoio à economia agrícola familiares. Mas, é difícil negar que, mesmo sem criar grandes atritos, ela introduziu mudanças paulatinas na política monetária.
Portanto, se quiserem ser mais consistentes, os críticos do governo Lula precisam partir da correlação real de forças no momento da vitória, em 2002, e dos resultados concretos do primeiro e segundo mandatos, num complexo processo de administração de contrários, que talvez também fosse necessário mesmo se houvesse ocorrido uma revolução no Brasil. Sem a mente aberta, tanto para os defeitos, quanto para as qualidades positivas do processo em curso, será difícil sair do clichê Lula e Pós Consenso de Washington.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
{moscomment}
Comentários
De minhaparte, eu me incomodaria muito mai eem ser chamado de aristocrata do que alvo de uma tentativa de amenizar o debate comuma metáfora alegórica.
Em todo o caso, sou daquelesque, na política, dou mis importância ao conteúdo do que à forma.
Conhecedor das lides da agricultura, reconheço algumas coisas ao longe, a saber: Presença de venenos nas verduras, frutas e legumes, notadamente quando estão acima dos tais já largos índices permitidos (todos calculados ficticiamente para pessoas de 60 Kg, como se as crianças e muitos adurtos tivessem este peso), a presença de resíuos de Uréia = Sulfato de Amônio, fertilizante de alta solubilidade, derivado do petróleo e largamente utilizada, sem o menor controle. Reconheço um vegetal pelo seu tamanho, textura e estrutura, até pelo tato, como se deficiente visual eu fosse, o que não me impediria, assim como a muitos que estão excluídos o trabalho, como "deficientes" e poderiam ser grandes agentes de saúde pública, pelo faro e tato apurado.
O supermercado Pomar é uma fraude, pois vende porcarias comestíveis, com fachada de alimentos saudáveis.
Lanentavelmente, e esperando não ofender quem quer que seja, apenas tornar mais leve a discussão política ( O Wladimir é um "gentleman", embora muito aristocrata, a meu ver), posso afirmar que o que Wladimir Pomar nos "vende", tem aparência de feiura maquiada, ao olhar de qualquer um, minimante informado.
Em primeiro lugar, se há estes críticos a que Wladimir atribui a "teoria do cavalo de pau", eu não os conheço. A não ser umas minúsculas tendências que se dizem radicais de esquerda, mas que continuam abrigadas no PT, estranhamente a compor politicamente com isso aí. Ah! E alguns, que dizem fazer oposição ao Lulla, mas dão a impressão que ele é razoável, tamanha são as maluquices que dizem.
A esquerda de oposição ao Lulla que eu conheço, dialogo e que fazem parte do meu universo político-ideológico e miltante, não fala esta baboseira, muito própria de serem exaltadas, justamente por aqueles que, aristocratas como Wladimir Pomar insistem em "escolher" os adversários que, de ante mão, sabem que serão bem contestados, por suas teses "racionalistas".
Mas, o espectro com o qual me articulo, certamente poderia dizer ao W. Pomar, parafraseando aquele episódio do Clinton: "É POLÌTICA (e não economia)! seu... - e não lhe chamaria de estúpido, por que eu estaria mentindo, em relação oao Pomar (o que acho guardo para mim, com todo o respeito).
Assim, a tarefa que acharíamos conveniente e condizente com a primeira eleição de Lulla, era gerenciar estaa economia capitalista, mas preparando o Povo Brasileiro, através do chamamento à sua organização e manifestação pública da necessidade das mudanças preconizadas na campanha eleitoreira, e não a Anestesia Social que aplicaram.
Assim, poderíamos forçar uma situação, ainda não de ruptura (pois Lulla e o PT não são disso...), mas de preparo de avanços a serem feitos, com o protagonismo popular e, por que não, Reformas Profundas e Estruturais no "modus fasciendi" da Política Partidária e Social e Políticas Públicas do novo presidente, em 2002.
A Economia vem depois da Política!
E tem gente que chama este Reformista Radical que vos escreve (enquanto o Povo não é protagomnista) de "ultra esquerdista". Além de terem sorte, estes não sabem o que realmente é "ultra esquerdismo". Para isso recomendo a leitura da vida e obra de Makhno.
Vão me achar um santo...
Gente, isso é sério!
Quando se trata do interesse da população, nada é divulgado..
Ligue 0800-619619 nas opções vai digitando 1. Diga que é para votar a favor do cancelamento da taxa de telefone fixo. O Projeto de Lei é o de nº 5476 este projeto está tramitando na 'COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR' na Câmara. Eles não sabem até quando vai à votação.
INTERESSE DE TODOS: cancelar a taxa do telefone. Esse tipo de assunto NÃO é veiculado na TV ou no rádio, porque eles não têm interesse e não estão preocupados com isso. Então temos de correr atrás, afinal quem paga somos nós!
O telefone a ser discado (0800-619619, de segunda à sexta-feira das 8 h às 20h) é da Câmara dos Deputados Federais. Passe para frente esta mensagem para o maior número possível de conhecidos e amigos. Não pague mais assinatura telefone fixo.
Vamos divulgar!!
MUDA BRASIL. DIVULGUE ! ! ! .........
Porém, o que podemos observar, mais uma vez, é um texto superficial, com poucos fatos e argumentos, mas com muitas “afirmações categóricas”. Vou destacar três questões.
A rigor, uma política compensatória se define justamente pela compensação da exploração do trabalho ou opressão do capital com a intervenção do Estado, provendo algum patamar de sobrevivência ou distribuição. Enquanto que direitos sociais são conquistas que buscam emancipar o trabalho da subordinação do capital. Tais direitos sociais ganharam mais substância com a conjuntura pós-guerra do pleno emprego (o que não é mais possível, no contexto histórico da financeirização da riqueza), dessa forma, além de estabilidade no mercado de trabalho, as pessoas tinham uma boa renda e um rede de proteção social (saúde, educação, assistência social), desmercantilizados e com qualidade. É o chamado Estado de Bem Estar Social.
Ao criticar o bolsa família como política compensatória, não se quer desmerecer o direito básico de todo o ser vivo de sobreviver. Ao contrário, achamos que isto ainda é muito pouco perto da magnitude de riqueza expropriado todos os dias dos trabalhadores.
É preciso ponderar que o bolsa família, como política compensatório de transferência de renda, tem um aspecto relevante a ser reconhecido - a sobrevivência de seres humanos – além de outros efeitos positivos, como aumento do mercado interno e proteção das pessoas em se submeterem a trabalhos hiper-explorados com remunerações hiper-baixa.
Entretanto, é preciso reconhecer também que tal política está desenhada como uma benesse do Estado, reforçando seu caráter burocrático e paternalista, por um lado, e a percepção, no senso comum, de dependência e subordinação. Os estudos sérios demonstrar que não se consegue, em geral, escapar das armadilhas da pobreza e desenvolver uma ação político-emancipatória. A riqueza social continua sobre amplo controle de grupos privados.
Sobre o crescimento econômico, o colunista deveria observar melhor os fatos. Por um lado em boa medida tal crescimento foi fomentado pelas políticas compensatórias, mas que tem um efeito limitado e restrito ao consumo básico, e pelo crédito, que no médio e longo prazo são passivos na renda média ou mesmo bolhas financeiras. Outro ponto deste crescimento é o aumento do setor agrário-exportador, que também é muito problemático (ora, já tivemos mais de 4 séculos para comprovar que esta via não traz desenvolvimento efetivo), além disso, temos uma contra-reforma agrária, com aumento da dominação do grande latifundiário, e agora, o que é mais temeroso ainda, temos uma séria ameaça sobre a soberania do território e aos ecossistemas, com a lei de grilagem, esta, junto com as obras de infra-estrutura do PAC (especialmente na região norte), estão articuladas na priorização da exportação de matéria primas (e destruição implacável dos ecossistemas junto com exploração ainda maior do trablaho), sob amplo controle de grande corporações internacionais, uma perspectiva de ampliação crescente da sangria das nossas riquezas naturais, com isso se consegue promover a regressão do nosso país a uma lógica pré 1930.
A questão da industrialização e do pré-sal de fato será muito popular para os desavisados, porém, ao se pensar mesmo a fundo e com seriedade, temos também em curso uma linha ou projeto de desenvolvimento extremamente equivocado, e que trará enormes prejuízos ao nosso povo. A matriz do petróleo está condenada historicamente, ela é altamente poluente e concentradora de renda e geradora de disputas e guerras. Ora, vamos gastar colossais quantias de recursos públicos para viabilizar o pré-sal, simplesmente copiando ações que deram, para alguns países, enormes rendas no passado com este recurso, mas esquecendo de toda a cobiça e disputa, inclusive bélica, que aconteceu, além dos enormes passivos ambientais, que estão colocando em risco a vida neste planeta. Dessa forma, estamos deslocando recursos preciosos, que poderiam estar viabilizando pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias renováveis, limpas, ecológicas e baratas, um salto de civilização que o Brasil poderia indicar ao mundo...
Uma coisa é a existência de um grupo dirigente que teve a inteligência de pactuar, com os donos do mundo, formais mais efetivas e sutis de dominação, utilizando a velha receita do ”pão e circo”, outra coisa dialmetricamente oposta é um movimento estratégico, com táticas defensivas no curto prazo, mas combinando táticas progressistas e de enfrentamento no médio e longo prazo, desarmando paulativamente os mecanismos de opressão, e buscando criativamente alternativas, numa relação orgânica (e não cupulista), com os setores progressistas da sociedade brasileira ... Porém essa segunda opção não está acontecendo, como podemos constatar analisando os fatos em conjunto.
Ao contrário, todas as ações do governo petista projetos um futuro sombrio: contra-reforma agrária, avanço das exportações de matérias primas, uso de mecanismos tayloristas e opressivos de gestão do serviço público, uso político-eleitoral dos cargos de dirigentes públicos, cooptação de lideranças e movimentos, promoção de um tipo de desenvolvimento conservador e já problemático e esgotado nos ditos países “ricos”, enfraquecimento da universidade pública no ensino e pesquisa, por meio do fomento a práticas de ensino a distância, perda de autonomia científica do pesquisador, editais e recursos para desenvolver produtos para o mercado capitalista, arrocho salarial, aumento da jornada de trabalho, massificação do ensino superior, com mais alunos e menos condições de ensino... políticas sociais que geram paternalismo, vulneralibidade e dependência política/ideológica, transposição de águas, belo monstro... a lista é longa...
Sinto muito dizer aqueles que, na sua história ou essência, foram comprometidos com as lutas emancipatórias, mas ainda acreditam que este governo é “autêntico”, “progressista”, ou “de esquerda”, há um engano grande aqui.
Os fatos demonstram que a grande diferença entre os dirigentes petistas e os tucanos e que aqueles souberam entender que mesmo para dominar, há limites na extração de riqueza e dominação ideológica, logo, é preciso repassar algumas migalhas para que a dor da fome não leve a revolta (o “pão”), e também combinar diversos artifícios de anestesia ideológica, como copa do mundo, olimpíadas, cinema, “Brasil Potência” (o “circo”). Não há absolutamente nada, de concreto, que projete, ainda que no longo prazo, perspectivas de luta contra a subordinação e opressão do capital, exceto projetos de dominação e perpetuação de um mesmo grupo no controle do aparato estatal. Vejo com muita preocupação todas essas tendências, com graves ameaças a todos...
Por fim, sinceramente gostaria de entender o que acontece com pensadores, colunistas, intelectuais que ainda insistem numa visão distorcida da realidade? Será incapacidade de ponderação? Será miopia advinda da paixão a dominação carismática lulista? Ou será que estão apenas contribuindo para manter a “ordem”, e assim colaborando com mais tragédia, dor e sofrimento?
Assine o RSS dos comentários