Ainda a sociedade industrial
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- Wladimir Pomar
- 08/02/2010
Foi na onda neoliberal de superar a sociedade industrial que FHC e sua trupe quase conseguiram quebrar a sociedade industrial capitalista que vinha sendo construída no Brasil. Ao invés de buscarem alternativas soberanas às dificuldades de reprodução do capital, no contexto da nova globalização capitalista, subordinaram o país às pretensões das grandes corporações transnacionais - CTN.
As CTN pretendiam manter as informações sob seu controle, incorporar empresas nacionais para manter as lucrativas e fechar as inviáveis, realocar suas plantas produtivas em países agrários e aproveitar-se do menor custo da mão-de-obra, tudo para elevar sua taxa média de lucro, ou sua margem de rentabilidade, questão chave para a reprodução ampliada do capital.
O governo brasileiro de então esnobou as experiências de países como a China e a Índia, que abriram suas portas aos capitais estrangeiros, mas sob a condição de instalarem plantas novas, para o adensamento das cadeias produtivas industriais nacionais, além de transferirem informações tecnológicas e também abrirem o comércio mundial a elas.
Nessas condições, enquanto no Brasil a globalização capitalista, pretensamente pós-industrial, quebrou indústrias e intensificou o desemprego e a precarização do trabalho, naqueles e em outros países da Ásia ela contribuiu para que a indústria se desenvolvesse em ritmo rápido e a classe operária industrial crescesse bem mais do que em todo o período de industrialização da Europa e Estados Unidos.
Em menos de 30 anos, a China e outros países asiáticos desenvolveram uma sociedade industrial que tende a superar as sociedades industriais européia e norte-americana. A emergência da China, ainda considerada improvável por boa parte do pensamento de esquerda e de direita até o início do século XXI, colocou o Brasil e o resto do mundo diante de questões inusitadas, tanto a respeito do industrialismo quanto da relação da economia com as questões ambientais, sociais e políticas.
Embora exista muita gente que continue separando a economia não só do meio ambiente, mas também das questões sociais e políticas, os exemplos da China, Brasil e outros países emergentes mostram justamente que não é possível fazer essa separação.
No caso da China, diante do passivo ambiental de quase seis mil anos de história, a maior parte não-industrial, que utilizou ao máximo seus recursos naturais, a construção de uma nova sociedade industrial vem sendo fundamental na criação das condições materiais para superar aquele passivo, embora inicialmente tenha contribuído para agravá-lo.
No caso do Brasil, cujo passivo ambiental também é enorme, apesar da história relativamente curta de sua civilização, será difícil acertar as contas com aquele passivo se o país não desenvolver uma forte sociedade industrial. Nesse sentido, as pessoas que continuam separando meio ambiente de economia e bem-estar social não entenderam nada. O Brasil precisa buscar a sustentabilidade ambiental ao mesmo tempo em que deve alcançar a sustentabilidade social e política e ser industrialmente competitivo, num mundo globalizado.
Essa equação, na sociedade de classes em que vivemos, na qual os interesses do capital ainda são hegemônicos e dominantes, não é fácil de elaborar nem solucionar, mesmo estando no governo. O exemplo do Pré-Sal é significativo. Trata-se de um recurso mineral altamente poluente, mas cuja exploração pode contribuir para elevar a riqueza social do país a um novo patamar, assim como para avançar em muitos dos problemas relacionados ao meio ambiente.
Diante disso, o governo Lula tenta colocar em prática um novo marco regulatório, no qual o sistema de partilha predomine nas parcerias do Estado com a iniciativa privada na exploração dos recursos. A Petrobras será a parceira estatal exclusiva e a Petrosal a estatal reguladora. Além disso, o governo se empenhou para que todos os estados brasileiros partilhassem dos royalties gerados pela exploração, e para que fosse criado um fundo social, a ser aplicado em educação, ciência e tecnologia e redução da pobreza.
Alguns setores políticos consideram insuficientes as medidas propostas pelo governo. Defendem o total controle do Estado sobre o Pré-sal, embora tal controle esteja assegurado. Na verdade, o que eles defendem é a proibição da participação privada, nacional e estrangeira, na exploração e produção. Porém, não sugerem de onde o governo brasileiro deve tirar os recursos necessários para desenvolver essa exploração e produção a curto e médio prazos.
Por outro lado, como não poderia deixar de ser, o tema envolve ainda a contradição de se desenvolver uma fonte energética suja e finita, num momento em que o mundo e o Brasil se esforçam para ampliar o uso de fontes limpas e renováveis. Essa contradição só pode ser resolvida satisfatoriamente se o pré-sal, como Lula tem dito, for um passaporte para o futuro. Ou seja, se as demandas e os recursos utilizados para sua exploração resultarem no adensamento das cadeias industriais brasileiras, no resgate do débito social (maior redistribuição de renda, educação, saúde e melhores condições de moradia, saneamento e transportes), na proteção e recuperação do meio ambiente e no desenvolvimento científico e tecnológico.
Do mesmo modo que o pré-sal, a sociedade industrial da qual fará parte contém contradição idêntica. Sua equação e solução dependem do desenvolvimento e do direcionamento que forem dados às riquezas geradas. O que, por sua vez, dependerá da correlação das forças políticas e do desenvolvimento da luta de classes no interior da sociedade capitalista. É principalmente aí que economia e questões sociais e ambientais e políticas se encontram.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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Comentários
A entrevista do Walter Pomar rendeu um comentário muito engraçado e muito certeiro de uma senhora, ouvinte histórica do Programa, que disse "Walter Pomar é muito articulado e fala muito bem, mas apenas tenta nos provar que Tomada e Focinho de Porco são a mesma coisa". Em seguida, recebi uma mensagem eletrônica de outro ouvinte do Programa dizendo "ao ouvir a entrevista de Walter Pomar, lembrei-me daquele famoso aviso afixado nos bares e padarias - Fiado Só Amanhã -".
Wladimir Pomar incorre nos mesmos erros cometidos pelo Walter, quando, embora acertadamente, analisam as iniciativas de FHC, relativiza os descaminhos de Lulla, cujo governo chafurda em uma ginástica ilusionista de "Estado Forte", mas apenas adequando o Estado Brasileiro, às novas perspectivas das Corporações Capitalistas, agora mais ainda oligopolizadas, como resultado da "crise" (entre aspas por ter sido um estratagema provocado), que impõem a etapa de não mais apenas a privatização dos serviços, ações e iniciativas de governos, mas sim a própria formação de "joint ventures" com os Governos, em contratos draconianos, onde o governo entra com o dinheiro, e as corporações com a gestão e os lucros.
As compras de bancos falidos por Lulla (o PROER de FHC virou migalha, frente a isso), e agora as Braskens da vida, além da Privatização das Hidro e Termo Elétricas, dos Gaseodutos, associados a redução de impostos como forma de artificializar a baixa inflação e poder de compra da sociedade, são alguns dos exemplos. Fora os régios R$220 bi de pagamento de juros da dívida crescente e incontrolada, para poderem dizer que sem as empresas não há verba no governo para o Social.
A recente anunciada redução de 8% dos impostos da gasolina, veio no bojo do não divulgado aumento não divulgado, em exatos 8% praticado pela Petrobrás para a gasolina para as distribuidoras. Rema-se para ficar no mesmo lugar, apenas mais cansado, como nos pesadelos recorrentes.
A abertura de cursos profissionalizantes para os beneficiários do Bolsa Família nos mostra bem que o governo, com o nosso dinheiro, qualifica trabalhadores para servirem às empresas que se apropriaram da execução das obras e projetos, mas acoplando aí uma grande mais valia realizada pelo lucro de 100% líquido em cada empreitada desta (fora o roubo...), e exonerando do Estado, e transferindo para o empresariado capitalista, a CULTURA executiva do desenvolvimento do País e, consequentemente a IDEOLOGIA do que é desenvolvimento.
Por isso eu afirmo "Um Outro Arranjo é Possível", ainda mais tendo como ponto de partida o estágio em que estava a sociedade brasileira na primeira eleição de Lulla (esta sequer é citada pelos representantes da família Pomar, como algo a ser levado em conta para protagonizar a elaboração do Projeto Brasil).
Exatamente na primeira eleição de Lulla, os consensos sociais e populares estavam sobejamentes acordados e consolidadados, quais sejam, a Reforma Agrária, a Revisão e Resgate das Privatizações, o Passar a Limpo a forma de fazer política, o fim de alianças espúrias por quem foi derrotado eleitoralmente pelo Povo (Sarney, Barbalho, Renam, Collor, Romero Jucá, Gedel, Maluf, entre outros).
A contrapartida para esta Pantomima da Ilusão que faz Lulla ser reverenciado por quem ele devia ameaçar politica e economicamente, nada mais é do que a entrega em "join ventures" as riquezas brasileiras, o setor agrário (hoje tomado por investidores estrangeiros) e sistema financeiro internacional.
Assim, com esta facilitação entrreguista que joga nossa dívida interna para R$2 Trilhões (70% do PIB), dívida externa já novamente em R$250 bi, a exoneração de nosso Petróleo bruto (moeda forte) em troca de dólares (moeda fraca), adoção das técnicas empresarias e predaoras de produção agropecuária, até muinha avó seria agraciada com os títulos máximos do Capitalismo Internacional.
Mas, para Outro Arranjo SER Possível, há que se ir ao Povo com ideologia Popular, e não com migalhas periféricas, as sobras dos fabulosos lucros, porque aí é covardia.
O que e verdade que estar na vanguarda tecnologica e fundamental para conquistar a soberanea.O que fez, no passado ,a Inglaterra poderosa com a revolucao industrial foi que nesse momento isso representava estar na frente em termos de dominio tecnologico .O mesmo passou ,seculos antes, com os paises da peninsula Iberica .Portugal e Espanha estavam na vanguarda em teconologias de navegacao , inclusine em tecnologia militar .
Evidentemente nao queremos tambem formar um Imperio , mas se quesermos ter um comercio internacional que nos favoreca teremos que ser capaz de vender tb produtos que os outros paises nao tenham ,ainda ,condicoes tecnologica para produzir .Se almejarmos a soberanea economica tb teremos que dominar tecnologia militar de defesa .
Atenciosamente Sandro
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