A questão do socialismo
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- Wladimir Pomar
- 13/04/2010
O programa petista de governo, mesmo que inclua algumas reformas estruturais, ainda ficará nos limites do capitalismo de características brasileiras. Isto se deve, em grande parte, ao fato objetivo de que no Brasil as forças produtivas sociais ainda não se desenvolveram plenamente e a luta de classes ainda não ganhou contornos suficientemente definidos.
Embora seja um país continental, com possibilidades de desenvolver quase todas as cadeias produtivas industriais necessárias ao atendimento das suas necessidades sociais, o Brasil ainda tem lacunas consideráveis. Por exemplo, é fraco na produção de máquinas-ferramentas, máquinas pesadas, componentes eletrônicos e outros produtos de média e alta tecnologia. Basta passar em revista a pauta do comércio externo para verificar o quanto o Brasil depende da importação desses e de outros bens de capital.
O Brasil também está atrasado no desenvolvimento das ciências e tecnologias como principais forças produtivas. Ele possui alguns setores avançados, como os de softwares específicos e de tecnologias de sondagem e exploração petrolífera de grande profundidade. No entanto, basta comparar a quantidade de patentes registradas pelo Brasil com os números de registros dos demais países emergentes para verificar o quanto estamos atrasados nas áreas que decidem o futuro do desenvolvimento. Portanto, o Brasil ainda tem um caminho relativamente longo no desenvolvimento das forças produtivas, antes que elas entrem em conflito inconciliável com as relações assalariadas de produção.
Por outro lado, a luta de classes no Brasil enveredou por um caminho institucional que tem permitido realizar uma certa harmonização entre os interesses contrários das classes populares e das classes dominantes. Mesmo contra a vontade, a burguesia se viu constrangida a correr o risco de deixar que partidos populares, como o PT e os partidos socialistas e comunistas, se tornassem instituições capazes de disputar eleitoralmente parte do Estado e governar diversos níveis da federação, inclusive o central.
Esta é uma situação política completamente diferente de todas as demais situações históricas vividas pelo povo brasileiro até 1989. É verdade que, em 1928, os comunistas e socialistas tentaram participar do processo eleitoral. E que, em 1946, os comunistas apresentaram candidatos à presidência, governos de estados e prefeituras. Entretanto, seus poucos prefeitos eleitos foram impedidos de tomar posse. Logo depois, em 1947, o PCB teve o registro cassado, foi jogado na clandestinidade e seus senadores, deputados e vereadores também tiveram seus mandatos cassados.
Infelizmente, tem gente que desconhece que, durante um século de República, o Brasil viveu apenas alguns poucos suspiros democráticos. A maior parte do tempo viveu sob diferentes formas ditatoriais. Primeiro, as ditaduras militares e civis da oligarquia dos coronéis do sertão da República Velha. Depois, a ditadura de transição de Vargas e a ditadura aberta do Estado Novo. Em pouco mais de dois anos, a democracia da Constituinte de 1946 foi substituída pelas ditaduras disfarçadas de Dutra e Getúlio. Sob Juscelino, Jânio e Jango, o Brasil viveu momentos instáveis de democracia. E, entre 1964 e 1984, uma ditadura militar aberta, embora mantendo um parlamento de fachada.
Assim, se compararmos a situação atual com todos os demais períodos históricos brasileiros, por mais que achemos que a democracia hoje existente ainda é parcial, restrita e insuficiente, será difícil não reconhecer que o Brasil nunca antes viveu um período democrático tão amplo como o atual. Esta é uma conquista do povo brasileiro, mas ela também trouxe problemas e desafios que os revolucionários de todos os matizes não supunham possíveis.
Diante deles, alguns se fazem de cegos e atacam os defeitos da situação atual sem pensar no que representam de avanços da luta democrática e popular. Outros acham que conquistaram o paraíso e se contentam com os limites existentes. E os que sabem que a luta de classes, mais cedo ou mais tarde, vai levar a crises diversas na harmonização dos contrários, ainda se encontram nas preliminares para traçar uma estratégia e táticas mais claras para a nova situação.
De qualquer modo, a realidade reside em que quanto mais o governo democrático e popular desenvolver as forças produtivas, isto é, as ciências, tecnologias, cadeias industriais, infra-estrutura de transportes, energia e comunicações e a capacidade educacional e técnica da força de trabalho, e quanto mais ampliar a presença da propriedade estatal e pública na sociedade brasileira, mais estará criando condições para transformações socialistas, mesmo que não tenha plena consciência disso.
É evidente que isso não basta para implantar o socialismo. Nem significa necessariamente a passagem natural de uma formação econômico-social para outra. Nós vimos, na presente crise mundial do capitalismo, como os governos que representam o capital foram rápidos em adotar a propriedade estatal e a propriedade pública para salvar a propriedade privada. Portanto, a questão chave não está apenas na existência de formas "socializadas" de propriedade. Está, fundamentalmente, no caráter do poder político, e se este utiliza as formas socializadas em benefício dos trabalhadores e das camadas populares, ou em benefício dos capitalistas.
Isto deverá obrigar os socialistas, se quiserem ter mais clareza sobre a luta do futuro, a discutirem mais seriamente não apenas os problemas do desenvolvimento econômico e social, mas também os problemas relacionados com a democratização do poder político, ou do Estado. Talvez a disputa eleitoral de 2010 seja um momento privilegiado para dar início ao tratamento dessa questão.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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Comentários
O Lula-Dilma não impede de ninguém se mobilizar , muito pelo contrário , mas, o que eles não fizeram é ficar esperando o Trololó de vocês , eles chamaram os estudantes , os sindicatos etc.. ouviu suas demandas e sempre negociou procurando atendê-las , mesmo com o estado em frangalhos , como recebeu do fhc-serra e com suas ações sociais atendeu as demandas urgentes do povo faminto que vocês gostariam que estivessem mobilizados .. Para vocês senhores da USP pode parecer migalhas , mas para este povo foi muito foi a diferença em ver seus filhos morrerem ou viverem..
Se o Estado é pobre a divisão por milhões de pessoas não poderia ser novos ricos e sim pessoas menos pobres .. o alumínio , o ferro , a água no rio etc.. só viram riquezas para serem dividiadas se forem exploradas e para isto se necessita de capital e tecnologia .. Porque a "Esquerda revolucionária-lunática" não entra como parceira do estado ?? assim eles não precisariam do capital interno nem externo ..
Para quem gosta de falar em números é só entrar nas dezenas de sites do g~enero e todos estarão dizendo as mesmas coisas o Brasil melhorou e muito em todos os setores quando comparado com o real mais próximo que foi fha-serra , mas, se vocês querem comparar com o mundo lunático dos sonhos porque também acreditam no saci pererê ... só na anarquia (que a falta de propostas objetivas de alguns comentaristas parece indicar e pregar )
Uns são pagos por uma turma que disputa o espólio do neoliberalismo no Brasil, pelo lado da Direita Sem Máscara.
O outro, o PIL(Política da Imprensa Lullista)é pago pelo ramo que disputa a gerência da entrega do país, mas referenciado no grupo que nas duas últimas décadas foi "docemente" capturado pelo capital, completando assim a última peça que faltava para o Capital Internacional
"deitar e rolar" em Céu de Brigadeiro, com a Anestesia Aplicada aos Movimenrtos Sociais.
Os agentes da PIG, todos conhecemos há décadas, e nunca negaram fazerem o que chamo de "jornalismo de resultados" (financeiros), desfilando nas páginas de conhecidos e não recomendáveis hebdomadários e jornais diários (Agora até a Revista da TV abre capa contra Chávez).
O PIL, talvez ainda novato na arte da sem vergonhice jornalística, tem vergonha de se assumirem como Imprensa de Opinião paga, uma espécie de prostitutas(os) das Opiniões de quem lhes pagam para escreverem o conveniente.
Luiz Carlos Azenha e o Paulo Henrique Amorim foram os últimos a serem (descobertos" em folhas de pagamentos e benesses vindas do Poder, através do meu, do seu, do nosso dfinheiro, a meu ver, acabando com qualquer resquício de credibilidade nas opiniões exaladas pelos seus teclados virtuais e televisivos.
Parece que fizeram escola, senão na mania de receber dinheiro para opinar na política (não posso afirmar isso do Luiz Motta), mas no "vício de fazer afirmações falsas sobre dados econômicos e sociais, sem apresentarem os números oficiais da "façanha" que atribuem a Lulla.
Assim, se depender do Luiz Motta, infelizmente continuaremos sofrendo uma espécie de "Assédio Eleitoreiro" aqui no Correio, pois ele, a meu ver, esconde a questão mpolptica, apenas a citando para tentar estigmatizar aqueles que pensam, agem e acham possível uma Mobilização Populare, como instrumento de pressão par Qualquer Governo.
Para Luiz Motta, Lulla venceu as eleições de 2002 por obra do acaso, e não de de um um Povo que iniciava a consolidação de sua estrutura participativa, com algum protagonismo social, vilmente anestesiada sob as ordens do Capital Internacional, sob a batuta astutra de Lulla.
Querer aventar que colocamos o debate aqui no Correio, a partir de nossas convicções pessoais, é no mínimo fazer um serviço que considero sujo, e "de grátis". Ao menos espero...
Luiz Motta: Apresento números e análises políticas que acho pertinentes e bem referenciadas, para defender os meus pontos de vita, em respeito ao leitor e às intenções editoriais do Correio. É o mínimo que exijo de ti.
Por isso, faz favor de parar com esta propaganda eleitoreira idiota e não fundamentada, além de acusações ideológicas infundadas.
Não desrespeite este Portal, nem os que nele participam!
Que me indique algum índice que nos mostra a "redução da desigualdade". Um só.
No Brasil está em curso, ao contrário, uma grande concentração de riquezas, terras e patrimônios, nas mãos de menos famílias do que no início do (des)governo Lulla. Na área Financeira-Industrial-comercia l dá-se o mesmo.
O que este Luiz Motta deve estar confundindo é a política de migalhas que vocês afinal és do meio, né?)dão para o Povo, para "compensar" a grande desnacionalização de todas as nossas riquezas, sejam minerais, hídricas, da agricultura, com maculação ilegítima e, quiça, insanável ao meio ambiente, às culturas e populações socialmente frágeis, entre outras.
Bota a mão na consciência, Luiz Motta!
Maria Antonieta teve a cabeça guilhotinada pela Revolução Francesa. De vocês, espero que a guilhotina da história cuide. Serão lembrados como apoiadores da entrewga do país, com a domesticação do Povo e de suas organizações, a esta altura cheia de pelegos locupoletados e de gente paga para fazer a propaganda mentirosa do indefensável.
É verdade que tem uns que fazem este serviço ujo "de grátis".
Para alguns que não querem enxergar ou entender as grandes mudanças POSSÍVEIS, DE REDUÇÃO DE DESIGUALDADES, ainda que longe de serem socialistas ou anticapitalistas , até porque um governo eleito tem que tentar atender o que as forças políticas REAIS e a sociedade desejam e avançar um pouco mais (mas, não muito para não tropeçar), e no Brasil REAL a sociedade ainda não quer este socialismo do contra o desenvolvimento e muito menos anarquia ...
A leitura que o governo faz e tenta atender é Mais desenvolvimento e consequente mais emprego e redução das desigualdades . O que para a situação atual já é muito , já que o Estado ainda está muito fragilizado ..
Estas mudanças tem ocorrido no Brasil Real e neste governo e que didaticamente está muito bem colocado no artigo .
Assim, escrever " a luta de classes no Brasil enveredou por um caminho institucional que tem permitido realizar uma certa harmonização entre os interesses contrários das classes populares e das classes dominantes", parece a mim uma Homilia Sacro santa, sem a menor fundamentação, ao menos sob a luz da análise material da História.
E, já me anunciei como fortemente influenciado pelas teses anarquistas originais (sem que sejam um dogma), mas critico o (des)governo Lulla, pela falta de viés Reformista (e não "Revolucionário"), ao menos no que diz ao não coméstico, que sequer foi tocada por Lulla, ao contrário, chafurdou seu governo na mais convencional e tradicional Política de Alcova, tal e qual seus antecessores, e aprofundou a inerção SUBALTERNA do Brasil, no Capitalismo, que todos sabemos, ser INTERNACIONAL.
Discuto com dados oficiais qualquer tentativa de expor avançaos do governo Lulla, sob qualquer aspecto, fora o da alienação passiva do Povo, que dou de lambuja.
Mas, ao menos valeu a ginástica feita pelo WP para justificar o injustificável.
Socialistas assim, é tudo o que o Capityalismo precisa.
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