Correio da Cidadania

Ho Chi Min (2)

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Desde a descoberta e a leitura do texto de Lênin, Ho Chi Min voltou-se com todas as suas forças para o estudo das obras de Marx e do próprio Lênin, adotando o marxismo e o leninismo como seus guias de ação. Nas discussões internas no Partido Socialista e no congresso que discutiu o ingresso desse partido na Terceira Internacional, saindo da Segunda Internacional, Ho Chi Min se colocou fervorosamente ao lado dos que advogavam a adesão à Terceira, ou Internacional Comunista.

 

A recusa da maioria do Partido Socialista em ingressar na Terceira Internacional levou à fundação do Partido Comunista da França. Ho Chi Min se tornou, assim, um dos fundadores desse partido e, sem dúvida, o primeiro vietnamita comunista. Com isso, ele supunha ter, finalmente, encontrado os instrumentos para delinear o caminho de libertação do povo vietnamita. Caminho que tinha como perspectiva tanto a organização interna dos operários e camponeses vietnamitas como a solidariedade ativa dos operários e comunistas franceses - e o apoio da União Soviética.

 

No entanto, ele achou que ainda era cedo para retornar ao Vietnã. Para criar um caminho próprio de libertação de seu povo, considerou que ainda seria necessário realizar um longo e complexo trabalho de preparação. Precisava estudar mais profundamente as experiências de luta dos outros povos, combinar o trabalho teórico com o trabalho prático de preparação de quadros nacionais e desenvolver um pensamento independente, que levasse em conta a cultura e a experiência de luta do próprio povo do Vietnã.

 

As atividades em prol da libertação dos povos coloniais levaram Ho Chi Min, além de participar da direção do partido comunista francês, a fundar a União Intercolonial, em Paris. Voltou-se para a formação de quadros revolucionários das colônias, editou o jornal Le Paria a partir de 1922 e fundou o jornal Viet Nam Hon, dirigido explicitamente ao povo vietnamita. Concentrou-se, então, nas atividades de publicista anti-colonialista.

 

Em meados de 1923, Ho finalmente conheceu a União Soviética, onde foi participar do quinto congresso da IC e, depois, do congresso da Internacional Camponesa. Permaneceu na União Soviética até 1924, inclusive participando das discussões sobre o papel dos camponeses nas revoluções e lutas de libertação.

 

Nesse período, havia uma forte tendência dentro dos partidos comunistas, em especial nos países industrializados, que negava ou subestimava o papel do campesinato nos processos revolucionários. Para Ho Chi Min, tendo em conta que o campesinato do Vietnã e de muitos outros países colonizados constituía mais de 90% da população, negar a ele um papel revolucionário era o mesmo que decretar a impossibilidade de qualquer luta revolucionária antes que o capitalismo se desenvolvesse nesses países.

 

Ho Chi Min tinha claro que, nos países agrários, os camponeses eram a força fundamental na luta de libertação e independência nacional. E, tomando como exemplo o poder soviético, concluiu que apenas o socialismo seria capaz de conquistar e garantir a independência. Foi tendo isso em mente que se deslocou para a China, em 1924, como intérprete da delegação de Borodin, enviada por solicitação de Sun Iatsen. Sun queria que os soviéticos assessorassem o Kuomindang e sua república revolucionária de Cantão nos preparativos políticos e militares da Expedição Militar contra os senhores de guerra do norte.

 

Ho Chi Min aproveitou sua estada na China para realizar contatos com organizações patrióticas do Vietnã, que possuíam braços em Cantão, e com jovens vietnamitas que haviam emigrado para lá. Organizou uma escola de treinamento de quadros políticos e encaminhou vários deles para a academia militar de Wuanpoa, onde os chineses preparavam seus quadros militares. Ho também se dedicou a escrever sugestões sobre a linha política a ser seguida na revolução vietnamita, reunindo-as em O caminho revolucionário, no qual advogava uma relação estreita entre a libertação nacional e o socialismo.

 

Em 1927, diante do golpe militar de Chiang Kaishek contra os comunistas, Ho Chi Min retornou à União Soviética, onde permaneceu até 1928. Deslocou-se então para o Sião (hoje Tailândia), para trabalhar com os emigrados vietnamitas e organizar o movimento revolucionário no Vietnã, através da Associação dos Jovens Camaradas Revolucionários, que ajudara a fundar durante sua estada na China.

 

A essa altura, já havia diversos círculos comunistas no Vietnã, cada um defendendo linhas próprias. Em 1929, Ho Chi Min se deslocou a Hong Kong, como representante da IC, para unificar esses círculos e fundar o PC do Vietnã, ao invés de Partido Comunista da Indochina, como alguns propunham. Argumentou que os outros povos da Indochina tinham direito de organizar seus próprios partidos nacionais e que não deviam ser compelidos a juntar-se ao partido majoritariamente vietnamita.

 

A conferência de fundação do PCV, em 1930, aprovou o programa proposto por Ho, que definia a revolução vietnamita como democrática nacional popular, devendo avançar para o socialismo sem passar pelo estágio capitalista. Ela deveria derrubar o domínio colonialista francês e o domínio dos latifundiários, conquistando a independência nacional, dando a terra aos camponeses, instituindo um Estado dos operários, camponeses e soldados e organizando um exército operário-camponês. Ao PC cabia o papel de liderar essa revolução.

 

A IC, porém, instruiu o PCV a mudar seu nome para Partido Comunista da Indochina. Nesse momento ocorriam várias insurreições no Vietnã, mas de forma dispersa e desarticulada. Em vista disso, Ho congratulou-se com elas, mas as alertou para o fato de que estavam limitadas a apenas algumas regiões. Seria necessário acumular mais forças antes de enfrentar diretamente as forças militares do imperialismo francês. Com base nessa avaliação, Ho propôs ao PC levar à prática uma ampla política de frente única, tendo por base os operários e camponeses, atraindo as classes médias, parte da burguesia nacional e, inclusive, setores do mandarinato.

 

As intensas atividades de Ho Chi Min acabaram por ser detectadas pelos serviços secretos francês e inglês. Ho foi preso em Hong Kong, em junho de 1931. Apesar dos esforços do governo francês para que Ho fosse entregue a ele, a Liga Anti-Imperialista pela Independência Nacional conseguiu pressionar o governo britânico e, através da Cruz Vermelha Internacional, obter sua soltura, em 1933. Entre 1934 e 1938, Ho Chi Min permaneceu na União Soviética, estudando e realizando atividades relacionadas com a IC. Preparava-se para enfrentar os grandes desafios que o quadro internacional de nova disputa inter-imperialista, através da guerra, colocaria diante de seu povo.

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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Comentários   

0 #1 A questão campesinaRaymundo Arauj Filho 09-06-2010 14:46
Considero que Wladimir Pomar não escreve estes textos sobre Ho Chi Min, por mero deleite intelectual ou algum tipo de exibicionismno sobre seus conhecimentos e interpretações da história e seus pernonagens.

Por isso, me dou ao trabalho de ir fazendo a leitura do seu subtexto, aliás, colaborando com o autor, para que seu texto não vire uma aula insípida sobre a vida de Ho Chi Min. Afinal creio estarmos tratando de política, assim como WP.

Minha memória me alerta que, aqui mesmo nestas páginas do Correio, já recebi de WP a crítica, não endereçada nominalmente a mim, mas genericamente "aqueles que defendem um Brasil submetido ao "Agrárismo", como se defender o Agrarismo (não como uma religião ou como uma "volta ao passado atrasado")fosse algum crime.

Ora! o que defendemos, aliás, é o Agro Industrialismo, onde a Produção e INDUSTRIALIZAÇÃO dos alimentos, assim como a estrutura agrária estaria de posse e gerenciada pelos que na Terra trabalham, isso é, os agricultores e toda a rede de atividades e serviços da cadeia econônica deste setor .

Ho Chi Min, ao contrário de seus pares comunistas urbano-industriais sabia que uma forte e horizontalizada estrura agrária e agroprodutiva seria de fundamental imnportância para um rumno autóctone e não dependente, em países como o Vietnam e o Brasil, pelas suas riquezas naturais incontestáveis.

Não é à toa que o capitalismo urbano no Brasil foi construído às custas dos ciclos do ouro, cana de açúcar, café, e agora da soja e na Indochina (depois Vietnam(s) pela Borracha e o Estanho )aliás causador da invasão e interesse dos eua naquele pedaço do mundo.

Portanto, diria Ho Chi Min hoje sobre o Brasil "A Reforma Agrária e a criaçlão de sistemas agroindustriais populares é de vital imnportância para a Revolução Brasileira".

Pena que não temos por aqui algum Ho Chi Min, MAS apenas O Lullo Petismo, que insiste em marginalizar a Reforma agrária e seus defensores.
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