Entre a política e o dogma
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- Wladimir Pomar
- 29/06/2010
Todo projeto tático é um projeto "rebaixado". Os projetos estratégicos, de reformas profundas, só se tornam projetos táticos em situações revolucionárias. E situações revolucionárias só ocorrem quando a grande massa do povo não quer mais viver como antes, e a burguesia não tem mais condições de fazer concessões ou impor seu domínio.
Em vista disso, no momento atual, o grande desafio da esquerda brasileira consiste em reconhecer que a grande maioria de seu povo pretende fazer a experiência dos avanços e conquistas paulatinas, pela via eleitoral e pela pressão social limitada. Essa maioria popular somente se dará conta da impossibilidade do sucesso de tal experiência se a burguesia pretender dar um basta a ela; e, mesmo, assim por outras vias, que não a eleitoral.
Se a burguesia obtiver um "retrocesso" pela via eleitoral, isto será uma derrota profunda para a maioria popular, mas terá poucas implicações numa possível escolha por outra via de reformas estruturais. Uma derrota eleitoral do governo Lula e de seu projeto "rebaixado" será, em primeiro lugar, um retrocesso no tratamento dos movimentos sociais como interlocutores legítimos. O MST e outras organizações populares podem passar à categoria de movimentos criminosos, como sugerem os setores mais reacionários do DEM e do PSDB.
Paralelamente a isso, o freio imposto às privatizações pode ser desativado e o programa de transformação das empresas públicas e estatais em empresas privadas retomará o curso imprimido anteriormente pelo governo FHC. Os programas de redistribuição de renda, redirecionamento de maiores recursos para as economias familiares e solidárias, construção de moradias populares e assentamento de lavradores sem-terra talvez não sejam liquidados abertamente, mas sofrerão o esvaziamento proposto pelos que acham que tais programas são despesas injustificadas do dinheiro público.
A política externa, em especial aquela relacionada com a América do Sul, deverá sofrer uma completa reversão. Os ataques irresponsáveis ao governo boliviano, acusando-o pela propagação do narcotráfico, deverão pautar as ações externas demotucanas, se o candidato Serra conseguir emplacar o "retrocesso".
Só pelos exemplos acima, que não abrangem tudo, pode-se ter uma idéia dos danos que uma eventual derrota da candidata Dilma poderão causar ao que alguns consideram "pequenos avanços e conquistas". Porém, tão ou pior que tais danos, será a repercussão negativa que uma derrota do governo Lula exercerá sobre o ânimo de luta das grandes massas da população brasileira.
Tal repercussão negativa será ainda mais profunda se ficar evidente que tal derrota se deveu a divisões e erros da esquerda diante do adversário principal. É quase certo, como ocorreu em outros momentos históricos, que ressurja entre as grandes massas o sentimento de que elas são incapazes de garantir e manter suas conquistas. Nessas condições, a suposição de que uma vitória eleitoral do "retrocesso" não terá efeitos negativos duradouros sobre o ânimo popular, podendo até mesmo fazê-lo avançar no rumo revolucionário, é uma idéia perniciosa que desdenha a experiência histórica de luta do povo brasileiro.
Portanto, nesse plebiscito que parte da esquerda chama de disputa entre um "projeto rebaixado" e um "retrocesso", a omissão ou a oposição a tal projeto, obscurecendo o que tal retrocesso representa e desviando votos, não será apenas um erro tático. Quase certamente terá conseqüências estratégicas muito negativas e efetuará um corte profundo no processo real de aprendizado das grandes massas do povo.
A desculpa daqueles que, durante a campanha eleitoral, pretendem combater as candidaturas que expressam o projeto neoliberal e o imperialismo, como a candidatura Serra, através da propaganda e da agitação das chamadas "questões programáticas", parece a posição dos soldados que, em plena batalha, resolvem não atirar no inimigo por acharem que seu comandante não merece apoio.
Podem até supor que, com isso, conseguirão organizar os demais soldados, dar-lhes consciência política e incentivar suas lutas futuras. Na verdade, porém, correm o risco de morrerem com os demais, em especial se o inimigo for vitorioso. É evidente que, no caso do plebiscito atual, esses setores da esquerda talvez não arrisquem sua vida, e poderão pelo menos reclamar que o povo não lhes deu a atenção devida, como aliás já faz o PSOL.
Seria mais simples e mais fácil reconhecer que, em 2002, grande parte das camadas populares do povo brasileiro soube distinguir entre um programa democrático e popular, mesmo taticamente "rebaixado", e um retrocesso. E que isso representou um grande avanço do movimento social e político, avanço que foi ainda mais significativo, em 2006, porque o programa taticamente "rebaixado" foi elevado vários degraus e contou com um apoio popular mais amplo.
Nas eleições de 2010, as forças de esquerda têm a oportunidade de aplicar uma política de aprofundamento dessa compreensão popular. Mas terão que fazê-la a partir do nível alcançado pelas camadas populares, e não a partir das suas supostas propostas "avançadas". Ou seja, há uma oportunidade de ouro para elevar em alguns degraus mais o programa "rebaixado", e combinar a vitória para os governos com uma ampla vitória para os legislativos, tanto o federal quanto os estaduais.
Com isso, pode surgir uma nova correlação institucional de forças e um ambiente de mobilização mais propício para forçar os governos de coalizão a realizarem uma maior inflexão à esquerda. Jogar no lixo essa oportunidade, por não achá-la "revolucionária" ou "programática", é o mesmo que descartar a política ou torná-la um dogma.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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Comentários
Que suposto projeto de esquerda é esse que além de manter na alienação a tal \'massa\', não usa o poder para libetá-la e ajudá-la a enchergar para além da superfície do lago azul deste país das maravilhas tão onerosamente propagandeada, e mergulhar com lentes ampliadas nas profundezas onde estão as raízes onde o sistema se alimenta e se reproduzem.
A história já está nos mostrando o vai acomtecer com o nosso país, é só olharmos para a Grécia onde supostos governos de supostas esquerdas se propõem a administrar o capital dando-lhe ao mesmo tempo uma maquiagem humana e em seguguida desconstruindo no conciente coletivo as utopias de que Um Outro \'é\' Possível e não como propõe os projetos rebaixados maquiados como sendo de esquerda, para que afete os grandes interesses, um outro possível, ou seja, dentro da pauta do sistema.
É estranho quando se fala dos \'limites\' para um projeto socialista, e não se escancara quem constrõem estes limites e ficam em discussões razas do tipo \'não se provou a existência do mensalão\', ora se não foi verdade porque não se denuncia a sua mentira?
A única explicação possível é que o lulismo,pmdebismo e outros ismos no poder, quer manter uma etiqueta de esquerda para se impedir um verdadeiro projeto de esquerda de prosperar, senão, apresentem argumentos científicos mais aprofundado de sua análise, para que possamos fazer o bom debate.
Saudações Socialistas
José Geraldo Resende - Ator e militante socialista
Nunca me considerei "aluno" de WP, tive e tenho mestres uito melhores, com a mesma passagem pelas lutas populares, e discordantes de WP.
Sou apenas um interlocutor dos seus artigos, em um exercício de cidadania, afinal direito e até dever de todos.
As hienas adoram cadáveres putrefatos, mas esta aí de cima, não conseguiu perceber a natureza de nossas vivas argumentações, além de factuais. Come tanta carne odre, que esqueceu gosto de comida sadia.
Referiu-se a adjetivação fácil, tal qual faziam os ditadores, quando chamavam os combatentes de terroristas.
No mais, não faço política por dinheiro, cargos ou emprego, ao contrário, tenho perdido muitas oportunidades profissionais, justamente por expor opiniões com liberdade e livre arbítrio, em vez de me esconder atrás de teorias alheias, como se fossem, os seus autores, dadivosos messias incontestáveis.
Lá nas forças armadas, também dizem que antiguidade é posto, aqui repetido pelo João Felipe Fleming, corroborando com o velho fascismo e ataque aos mais jovens (e não sou tão novo assim).
Com uma "esquerda" desta, prá que direita?
Espero que o nosso Fleming consiga articular um artigo de lavra prória, contestando factualmente o que descrevi como o desatre que cosidero o Lullo-Petismo-Dilmista-pmdebis ta.pscista entre outros.
No Chile da Barchelet também diziam isso dos que optaram em resistir e não capitular. Hoje a direita pinochetista está lá de novo, pois o Povo não conseguiu mais diferenciar projetos, que deveriam ser escancaradamente diferentes, entre a esquerda e a direita.
Como diria o "primo pobre (Brandão Filho), para o "primo rico (Paulo Gracindo): Você é ótimo, Primo!
Como estou postando no espaço deste seu novo artigo, teço algumas pequenas considerações sobre ele.
1) Quem está falando que estamos ou estivemos em algum período pré revolucionário, cara pálida?
2)Sem pensar que WP escreveu este artigo em minha homenagem (sequer sou do PSOL, ou qualquer Partido), lembro que canso de me reafirtmar aqui como adepto da tática do Reformismo Profundo, justamente por não ter nenhuma Revolução à vista no Brasil, tão cedo.
E, com certas lideranças que temos,que a propõem, prefiro aguardar e lutar para construir algo mais revolucionariamente genuíno e popular. Por enqunto, portanto, Reformas Profundas.
2)Também não tenho colocado que a discussão maior passa em se aceitar o processo eleitoral, ou não. Mas sim, a questão programática e sua execução. Lembro que votei em Lulla em 2002, e nulo em 2006 (a traição de Lulla estava clara e HH não era solução nenhuma).E venho votando em parlamentares progressistas em todas as eleições, desde que não estejam macomunados com este projeto de Poder, ou similar.
3)WP se esquece que o Projeto pelo qual Lula (ainda não Lulla, assim descaradamente)foi eleito era aquele em que "as massas" (adoro raviole)optaram justamente por não querer o que hoje acontece, pois WP mente ou distorce os fatos dizendo que este governo Lulla desprivatizou e fortaleceu o Estado. O que fez foi "joint ventures" vantajosas para oligopólios que dominam a cena política e do recebimento do dinheiro público, eainda lhes dando a gestão de consórcios onde o governo é majoritário, como a Vale, por exemplo, entre outras.
4) Dizer que o MST e Movimentos opulares não são criminalizados, sem ouvir deles mesmos que isso é mentira, como vivem a dizer, tem o mesmo valor dos generais torturadores dizerem que não huve tortura alguma no Brasi.
5) Talvez na falta do que defender sob a temática econômica e outras, WP apela para a "defesa da Bolívia e Venezuela", o argumento para a eleição de Dilma. É de morrer de rir, este also internacionalismo de WP, que permite o Brasil ocupar miltarmente o Haiti, em nome dos EUA (não da ONU).
6) E, afirmar que "as massas" estão formulando algo politicamente, como nos quer convencer WP, é desconsiderar a iniquidade do debate, tão bem (des)cnduzido or aqueles que disputam o Poder, para que tudo fique em seu "curso normal".Tem gente que se presta a cada papel...
O resto, vai no comentário e no link idicado a seguir. É longo, admito, mas para ver figurinhas, só lendo Caras, embora eu compreenda as apreensões da generosa editora do Correio, . Aí vai, então.....
Este comentário (referente ao artigo passado de WP) é o encerramento de uma longa e paciente formulação aos escritos do Lullo Petista Wladimir Pomar. Outros artigos dele, contestados por mim, cerca de meia centena, podem ser encontrados na página www.correiocidadania.com.br, clicando no lado direito em cima do nome de Wladimir Pomar.
Agora, só me ocuparei dele, em outra situação de poder no Brasil, pois a meu ver, o assunto da Era Lulla está esgotado, ao menos para debates com WP. Acho que nós dois cumrimos bem a nossa tarefa no bom debate.
A resposta a este artigo está acessível no http:titaferreira.multiply.com /market/item/1814, em bela diagramação, pois assim evito abusar da generosidade do Correio.
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