Reforma agrária com quem?
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- Wladimir Pomar
- 30/08/2007
Enquanto o STF resolve aceitar as denúncias contra ex-dirigentes do PT, acusados de ações pouco edificantes, as lideranças e a intelectualidade do movimento camponês procuram demonstrar que a pequena agricultura pode atender às "demandas históricas da sociedade brasileira", em termos de saneamento, moradia e alimentos, em contraposição às distorções que o agronegócio do "velho latifúndio" estaria impondo à sociedade brasileira.
Embora aparentemente uma coisa nada tenha a ver com a outra, ambas são expressões da complexidade da luta social e política no Brasil. Aqueles ex-dirigentes parecem haver acreditado que poderiam utilizar impunemente os métodos dos aliados burgueses, esquecendo que aquilo que a burguesia permite aos seus não permite a seus adversários de classe. As lideranças e a intelectualidade camponesas querem transformar sua defensiva em ofensiva atacando a produção dos biocombustíveis, esquecendo que um ataque ao produto pode não significar um ataque ao sistema que o fabrica.
Elas argumentam que, se fosse para resolver as necessidades energéticas do povo brasileiro, não haveria por que multiplicar a produção da "monocultura de cana". Existiriam outras formas de atender às necessidades do país, como as energias solar e eólica. Aliás, o mesmo argumento que utilizam para opor-se à construção de hidrelétricas.
Também argumentam que, ao dar prioridade ao etanol, haveria incentivo à produção de um combustível para colocar não no tanque dos ônibus e melhorar a condição do transporte coletivo, mas para atender à classe média, para alimentar os carros de quem tem o seu próprio veículo. O padrão de consumo movido a carros individuais, modelo de consumo norte-americano, seria um modelo de sociedade em crise, não o modelo que se quer para a sociedade brasileira.
Argumentam ainda que, ao dar prioridade aos biocombustíveis, estaríamos limitando a produção de alimentos, destruindo o meio ambiente e colocando a vida de trabalhadores em jogo. Finalmente, mas certamente não como final, argumentam que a produção de biocombustíveis apenas serviria para reforçar a concentração da terra e a acumulação do grande capital, nacional e internacional.
Todos são argumentos importantes, mas discutíveis. O primeiro, por envolver problemas econômicos e técnicos que não levaram em conta. O terceiro e o quarto, porque é possível ocorrer tanto o que afirmam, quanto, ao mesmo tempo, aumentar a produção de alimentos, incentivar a proteção ambiental, melhorar a situação dos trabalhadores e forçar a desconcentração da terra e do capital. Porém, no momento, o que nos interessa é o segundo argumento. Afinal, com quem os camponeses vão se aliar para fazer a reforma agrária se colocam como inimiga a classe média urbana? Podem até ter razão sobre o padrão irracional de consumo. Mas, do ponto de vista social e político, seu argumento leva ao isolamento político. O que preferem?
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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