Qual é a bandeira dos partidos de oposição?
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- Luiz Antônio Magalhães
- 02/04/2007
O Partido da Frente Liberal trocou de nome na semana passada e agora se chama Democratas. Adotando a estranha sigla DEM, os ex-liberais prometem seguir na oposição ferrenha ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante a Convenção que sacramentou a mudança de nome e marcou a troca de comando no partido, o novo presidente, Rodrigo Maia, filho do prefeito do Rio, Cesar Maia, lembrou um pouco o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) ao dizer que a agremiação agora vai trabalhar mais as bases e buscar uma maior aproximação do eleitorado.
Na verdade, a motivação para a mudança de nome parece ter sido de caráter mais simbólico do que propriamente político. Não se trata de uma "refundação" no estilo da empreendida pelos partidos de esquerda da Itália, por exemplo, que modificaram seus programas em busca de um modelo alternativo de socialismo após a queda do muro de Berlim. No caso brasileiro, o DEM não reviu seu conteúdo programático, mas operou uma mudança formal, expurgando a palavra liberal, certamente para enfrentar os novos tempos em que toda América Latina parece rejeitar o neoliberalismo.
Tal mudança de nome, porém, revela a falta de rumo não só do DEM, mas dos demais partidos que fazem oposição ao governo Lula. No caso dos Democratas, a única bandeira política desde o início do segundo mandato é a crise aérea, que nem é uma questão política, mas gerencial. Ademais, para o povão, especialmente o dos grandes centros urbanos, que sempre enfrentou atraso nos trens e ônibus de todo santo dia, essa crise aérea é motivo de chacota e inspira até um sentimento de "vingança secreta" - ver ricos e famosos irritados com os atrasos nos vôos, como diria a propaganda do cartão de crédito, não tem preço... A bandeira dos Democratas, portanto, não é das mais populares, para dizer o mínimo.
As demais legendas da oposição também estão sem rumo: o PPS, que já foi comunista, se transformou em um verdadeiro zumbi, se esforçando para ser um satélite do governador paulista José Serra, sem nenhuma luz própria. O PSDB vive em crise interna permanente com a luta surda de suas principais lideranças pelo comando do partido e nem sequer teve tempo para pensar em bandeiras para este novo período da vida política nacional. Enquanto Serra, Aécio e Alckmin brigam, não há um único tucano pensando seriamente em que tipo de proposta o partido vai levar para a eleição de 2010. Em 2006, é bom lembrar, Alckmin se limitou a dizer que aplicaria um choque de gestão e acabaria com toda a corrupção do mundo - projeto alternativo mesmo, não havia nenhum. Do jeito que a coisa vai, em 2010 não será muito diferente.
Na oposição à esquerda, também parece haver uma certa miopia no olhar sobre o governo Lula. O PSTU e PSOL se uniram em uma mobilização "contra as reformas" que o presidente estaria patrocinando. Se continuarem nesta direção, os dois partidos estarão lutando contra o vento, porque, se há uma coisa que Lula não fará em seu segundo mandato, é a reforma trabalhista. Talvez mexa um pouco na Previdência, mas até agora não há indício nenhum neste sentido. Pelo contrário: a nomeação do trabalhista Carlos Lupi para a pasta do Trabalho é a sinalização mais forte de que nada vai mudar no setor. Já a entrada de Luiz Marinho na Previdência indica que qualquer modificação na Previdência será fruto de negociação com as centrais sindicais. Ademais, Lula já marcou um gol - reconhecido até por economistas do PSOL - ao classificar a aposentadoria do trabalhador rural como programa social, separando-a das contas (e, portanto, do déficit) da Previdência.
Os dois partidos de esquerda podem argumentar que as reformas de Lula serão "disfarçadas" em projetos aprovados na calada da noite. Pode até ser, mas não é o que os fatos apontam até o momento: no episódio da Emenda 3 ao projeto que criou a Super Receita, Lula vetou o que a esquerda classificaria de "retirada de direitos", enfrentando um poderoso lobby formado por empresas de comunicação e outras companhias que já adotam os contratos de Pessoa Jurídica para pagar menos impostos. Essas firmas queriam a Emenda 3 porque, desta forma, evitariam um confronto com os fiscais da Super Receita, mas o presidente acabou arbitrando a favor dos fiscais.
Da mesma maneira que o PSDB, a aliança entre PSTU e PSOL também se mostrou, na eleição de 2006, mais preocupada em criticar a corrupção no governo Lula do que em apresentar uma proposta alternativa para governar o país - Heloísa Helena nem sequer apresentou um programa formal de governo.
Tudo somado, se as oposições - à esquerda e à direita - continuarem operando com a bússola avariada e o cenário econômico externo continuar favorável, Lula e o PT vão nadar de braçada até 2010.
Luiz Antônio Magalhães é editor de Política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).
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