Correio da Cidadania

Tempos de (desas)sossego...

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“Pobres semideuses marçanos, que ganham impérios com a palavra e a intenção nobre e têm necessidade de dinheiro com o quarto e a comida! Parecem as tropas de um exército desertado, cujos chefes houvessem um sonho de glória, de que a estes, perdidos entre os limos dos pauis, fica só a noção de grandeza, a consciência de ter sido do exército, e o vácuo de nem ter sabido o que fazia o chefe que nunca viram” (FERNANDO PESSOA, Livro do Desassossego, Companhia das Letras, 2011, p. 95).

DESASSOSSEGO

Meu desassossego
Me leva a não
Acreditar em milagres,
Muito menos nas
Personificações que
Guardam em suas
Mãos a maior, ou
Quase absoluta,
Porção de tudo
O que o trabalho produz.

Meu desassossego
Fica ainda maior
Quando percebo
Que a miséria criada
É fruto da abundância,
A riqueza que
Pelo trabalho foi criada,
Dele expropriada,
Tal como as dádivas
Que a natureza fornece
E é igualmente tomada
Por poucos.
Assim é a tirania do capital
Que a todos domina!

DELÍRIOS

As forças contrárias das coisas
E as contrárias forças das coisas,
Opostas umas às outras,
Num evento de expectativas
Para ver quem irá
Saudar a chegada
Da vitória que se
Expressa na derrota
Da maioria que sofre
As circunstâncias e o
Peso insano
Daquilo que os
Condena à miséria social,
Aguardam em prontidão
Em suas trincheiras
Num confortável delírio
Que não poderá
Levar-nos ao paraíso,
Mas ao abismo.
O delírio às vezes
É o parente mais
Próximo da tirania!

MITO OU MINTO?...

Mito
Ou
Minto?...
Repetido
Muitas vezes
A mentira
Vira
Mito
Ou
Minto?...
Mito, mito, mito...
Minto, minto, minto...
Mi(n)to, Mi(n)to, Mi(n)to...

PROMESSAS IRREALIZÁVEIS

Dizemos aos jovens,
Nós adultos,
Que todos
Nascem para
Ter um lugar
Ao sol.
Mas, muitas vezes,
E ainda mais
Os que governam
E ditam os poderes,
São os mais causadores
De eclipses
Que muitas vezes
São quase
Intermináveis.
Ainda assim,
Em seus discursos
Nunca deixam de falar
Que os jovens
São o futuro
Da nação.
Só não dizem
Que não há futuro
Quando as promessas
São irrealizáveis
E os sonhos negados.
O sol, senhores, os sonhos,
Nascerá para todos?...

OUTRORA

Nossa estrada
Como se fosse
Toda planejada,
Mas nada é.
Tudo foi
Como outrora
Não queríamos
Que assim
Fosse, meu
Desespero encontrou
Rochas. Havia
Muito trabalho
Para lapidar
O caminho...
Fosse ele qual
Fosse o escolhido.

Fui sem antes
Anunciar que
Chegaria. Muitos
Já haviam
Mudado de rumo,
Outros já haviam
Sido tombados,
Outros resistiam
Com a própria vida.

Meditei sobre
Minha chegada,
Mas logo foram
Me alertando,
Que a minha
Chegada já
Havia sido gloriosa,
Mas que agora
A luta a ser
Travada era
Ainda mais gloriosa!

O JOGO DA VIDA

Jogavam todos
Os dias.
Um certo dia
O jogo foi
Prorrogado.
Quando o
Jogo terminou,
Já era a
Noite do outro
Dia.
Mas o jogo
Era diário.
Assim o
Novo jogo
Começou já
Na noite
Do dia que
Terminava.
Um novo
Dia chegava
E o jogo
Avançava
Como lua
E sol.
A dança
Do jogo
Expressava
As coisas
E as coisas
A dança
Do jogo.
Assim o
Jogo nunca
Começava
Nem terminava
No ponto
Zero, porque
O jogo era jogo
Das coisas.
O jogo
Continua
Sendo jogado
Mesmo
Depois de
Ter terminado...
Como o sol
E a lua,
Assim é
A vida,
Contracenando
Todos os dias,
Mesmo quando
O jogo
É o jogo
Mais sujo
E insano
Contra a vida,
A vida não
Desiste de jogar
O jogo a favor
Da vida!
Quando há vida,
O jogo nunca
Termina!

Roberto Antonio Deitos é poeta e professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste. 

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