Correio da Cidadania

A vida acima de tudo!

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“Pátria é humanidade”
(JOSÉ MARTÍ)


“33. O mundo avançava implacavelmente para uma economia que, utilizando os progressos tecnológicos, procurava reduzir os ‘custos humanos’; e alguns pretendiam fazer-nos crer que era suficiente a liberdade de mercado para garantir tudo. Mas, o golpe duro e inesperado desta pandemia fora de controle obrigou, por força, a pensar nos seres humanos, em todos, mais do que nos benefícios de alguns. Hoje podemos reconhecer que ‘alimentamo-nos com sonhos de esplendor e grandeza, e acabamos por comer distração, fechamento e solidão; empanturramo-nos de conexões, e perdemos o gosto da fraternidade. Buscamos o resultado rápido e seguro, e encontramo-nos oprimidos pela impaciência e a ansiedade. Prisioneiros da virtualidade, perdemos o gosto e o sabor da realidade’.[32] A tribulação, a incerteza, o medo e a consciência dos próprios limites, que a pandemia despertou, fazem ressoar o apelo a repensar os nossos estilos de vida, as nossas relações, a organização das nossas sociedades e sobretudo o sentido da nossa existência” (PAPA FRANCISCO, Carta Encíclica Tutti Fratelli, 3 de outubro de 2020).


“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes [...]” (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988).

 
Fraternidade, onde todos tem direitos – Conexão Fraterna

1. CUIDAR DA VIDA NÃO É ESMOLAR, É UM DIREITO À VIDA!

Viver é amar a vida
É humanizar
Cuidar da vida
Vacinar não é esmolar
É um direito à vida!
Um direito sem prescrever
Sem data marcada
Sem dono
Ou autoridade superior.
Não há vida
Sem vida
Não há céu
Sem estrelas
Não há universos
Sem planetas
Não há galáxias
Sem infinitos
Não há vida
Sem seres vivos!

Se o sol nasce
Resplandece a luz
Se a lua abre a noite
Resplandece a luz
Se o universo
Emerge em estrelas
Reluzentes
Os planetas e as galáxias
Formam os universos
E os seres humanos, às vezes,
Petulantes e pouco
Serenos de humanidade,
Constituem seus atos
Mais atrozes...
O direito à vida
Não é um ato de autoridades,
O direito à vida
É humanidade
Acima de tudo!

2. EU NÃO SEI...

A vida pode ser
Uma dádiva do acaso...
A vida pode ser
Uma dádiva dos deuses...
A vida pode ser
Uma dádiva divina...
A vida pode ser
Qualquer outra coisa...
Mas a vida
Jamais será,
Nem pode ser,
Um ato de poder
De alguém
Sobre todos
Os outros seres,
Nem hoje,
Nem amanhã,
Nem nunca,
Jamais!

3. O MUNDO VIRALIZOU

O mundo virou o mundo
O vírus espalhou
O medo chegou
O mundo calou
O outro ficou
Com medo
Do outro.
Eu vejo,
O outro
Me vê.

Nos conhecemos
Como humanos,
Nossas fragilidades
São iguais...
Nossa natureza
Não é diferente...
Nem o mais
Rico e poderoso
Pode viver
Sem seu ser,
Sem seu corpo,
Sem sua alma,
Sem sua vida!
Sem a vida,
A humanidade
Seria apenas
Um gesto
Perdido no tempo!

4. SEREMOS CÚMPLICES...

Enquanto houver um só ser humano
Passando fome,
Seremos todos cúmplices da ganância...
Enquanto houver um só ser humano
Sem acesso à saúde,
Seremos todos cúmplices da desgraça...
Enquanto houver um só ser humano
Sem educação,
Seremos todos cúmplices da ignorância...
Enquanto houver um só ser humano
Sem habitação para morar,
Seremos todos cúmplices da miséria...
Enquanto houver um só ser humano
Sofrendo qualquer tipo de violência,
Seremos todos cúmplices da injustiça...
Enquanto houver um só ser humano
Sem trabalho e condições para viver,
Seremos todos cúmplices da barbárie...
Enquanto houver um só ser humano
Injustiçado e infeliz,
Seremos todos cúmplices do egoísmo...
Enquanto houver um só ser humano
Torturado, perseguido e mutilado,
Seremos todos cúmplices da tirania...
Enquanto houver um só ser humano
Tolhido da dignidade da vida,
Seremos todos cúmplices da morte...

5. MAIS DO QUE SOMOS...

Me assustei com o que vejo...
De tanto andar fiz uma
Pausa dentro de mim...
Quando vejo minha
Tristeza na alma
É porque vejo nossos
Gestos humanos
Cada vez
Mais desoladores...

Terríveis promessas enganosas
Odeiam nossas vidas...
Às vezes quase
Penso que já
É um pouco tarde
Para sermos
Mais do que somos
Quase que infinitamente
Pré-históricos,
Cruel e perversamente
Nada mais que isso
Monstruosamente (des)humanos!

6. VIDAS DESTRUÍDAS

O que perdemos
Nos vazios das ruas
Gritam nos
Labirintos
Da vida.

Com qual
Medida inocentes
Perdem suas
Vida?...

Os que
Ficam
Choram
Suas vidas
Destruídas
Marcas
De um tempo
Humanamente grotesco,
Onde não há
Campaixão,
Muito menos
Um pingo
De humanismo!

7. PERSPECTIVAS

A minha
Perspectiva
Pode ser
Ou não
Amanhã
Revelada...

No dia
Seguinte
O nosso
Futuro
Será um
Pouco de
Tudo o
Que projetamos,
Mas às vezes
Não encontramos
Mudanças visíveis
Ao nos vermos
No espelho.

Por isso mesmo,
Mesmo assim,
Lavamos o rosto
E saímos confiantes
De que alguma coisa
Podemos mudar!

8. O (ANTI)HUMANO

Desde que
Aqueles que
Já não veem
Os outros seres
Como iguais,
Basta um gesto
Obsceno para
Que o outro
Seja descartado.
O inútil avança
Como uma lança
Sem rumo
Contra todos.
O caminho se fecha,
As luzes apagam,
O (anti)humano
Ganha corpo.
As trevas
Tomarão a forma
Do sol
E os dias escurecerão!...

9. A ORDEM DO DIA

Na praça pública
Um senhor já de idade
Avançada e marcas profundas
Do tempo e do trabalho árduo
Gritava solitário,
Reclamava da situação
Em que vivia e
Como muita gente
Como ele vivia,
Na penúria e na miséria.
Logo foi chegando muita
Gente, multidão apressada,
Mas não ficaram com ele,
Apenas reclamavam de
Que ele atrapalhava
A ordem do dia!

10. APOCALIPSE HUMANITÁRIO


† † †
? ? ? ? ? ? ?
Quando
Abandonamos
Uns aos outros
Como se fosse
Num apocalipse
Humanitário
Eu †
Tu †
Eles † † †
Nós † † † †
Todos † † † † †
† † † † † † †
† † † † † † †
Quem irá cravar
A última cruz
Do último mortal
Humano
? ? ? ? ? ? ?
† † †

11. RASURAS

Me senti rascunho
Amassado e letras
Que não foram escritas;
Passei para o borrador,
Reli o que vivi;
Encontrei uma frase
Perdida que até
Pensei que não havia escrito;
Ficaram guardadas
Como minhas rasuras
Que havia escondido de mim,
Mas elas voltaram
A me procurar
Dizendo coisas:
O que há contigo,
Pois na vida há sempre
Algumas rasuras
Que vamos deixando
Escondidas por aí...
Há momentos
Que só
Sabemos rascunhar
Em um borrador
Nosso destino...

12. FRAGILIDADE HUMANA

Há que se dizer,
Talvez, com medo,
Que a espécie
Mais frágil
Que habita
A terra,
Somos nós!

Talvez ainda,
É necessário
Dizer e
Admitir,
A que mais
Agride a
Natureza e
A si mesmo,
A mais
Prepotente
E destrutiva
Da vida,
Somos nós!

Depois de tudo isso,
Ainda nos contemplamos
Como imortais,
Para o conforto
Do que somos,
Descobrimos
O que somos,
Pobres mortais;
A espécie
Mais frágil
Do universo,
Somos nós!


Roberto Antonio Deitos é poeta e professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste.

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