Correio da Cidadania

Caminhar labirintos…

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Foto: Pixnio

“[...].
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.”
(JOÃO CABRAL DE MELO NETO,
“Morte e Vida Severina”)


SONHOS MORREM?...

Me dói
Ver a dor
Sentida
Na tristeza
Dos olhos
Dos que sofrem...
Vejo minha angústia
Como um labirinto...
Perdido fico
Sem saber
Para onde ir...
Desajeitado
Na profana
Miséria humana
Sinto que a espécie
Pouco cuida de si...
Ou pouco se importa
Com a própria vida...
A negação do outro
É também a negação
Da vida...
É um embrulhar
A alma sem pedido
De entrega...
É um pedaço da vida
Que morre dentro
De cada um de nós...
É um pedaço de morte
Morta ainda
Em vida...
A nos perseguir
Em nossa
Pouca humanidade
Em nossa prepotência...
Como espécie
Vamos sendo
Moribundos
A cada dia...
Moribundos
Vamos sendo...
Sem acreditar
Vamos
Fenecer um pouco
A cada dia...
Resta saber
Se vamos
Deixar nossos
Sonhos
Vivos...

NÃO SÃO NADA

Pátrias
Dinheiros
Poderes
Cores
Gestos
Símbolos
Ideias
Religiões
Paixões
Sonhos,
Não são nada
Quando negam
O próprio ser humano
E a vida!

MEUS SENTIMENTOS

Ao sentir um novo dia nascer
Que no dia anterior
Escureceu para tantas vidas
Meu olhar curvou-se
Diante da aurora
Sentindo a dor
Que se espalhou
País afora!

Só a grotesca brutalidade
Não sente nada
Não reconhece a dor do outro
Não vê a vida
Como uma dádiva
Nem sente profundamente
O sentimento que nos torna
Verdadeiramente humanos!

O ANTES... OU O DEPOIS...

Fui... Mas logo que cheguei
Voltei ao ponto de chegada
Encontrei minha memória
Sentada na estrada
Fui ao encontro dela
Como em um abraço
Voltei ao ponto de chegada
Quando andei com ela
Aprendi que o ponto
De chegada pode ser
O ponto de partida
Ou apenas o início
Para onde se quer ir...
Antes de chegar...
Ou o antes do antes
Vem depois...
Ou o depois do depois
É a chegada
Da nova partida...
Para que exista futuro
Ele precisa ser hoje
Não sendo só o antes do antes
Nem só o depois do depois
Talvez o amanhã do amanhã
Seja o futuro que criamos
Ou que ainda vai precisar
Ser criado...

QUIMERA

Sonhávamos com
A igualdade humanitária...
Víamos em nossas
Vidas uma luz
De esperança arder
No horizonte;
Muitos sonhos
De repartição social...
O que é a vida
Se só uns poucos
Podem sentir o
Vento da liberdade
Como uma condição
Existencial?...
De que adiante
Só eleições se
A democracia
Já é tratada como
Uma quimera
Que não passa
De uma ferida aberta
Que alguns poucos
Só a querem
Sangrando e morta?...
Já não há mais
Decisões para a
Coletividade igualitária...
Nem nunca talvez existiu...
Mas de qual
Futuro almejamos
Jamais saberemos?...
Viver, viver...
Lutar, lutar...
É a poesia da vida,
É a poesia de cada dia,
A luz do futuro...

NÃO HÁ VIDA

Não há vida
Na mão
Que lança
Morte.

Não há vida
Na mão
Que guarda
Raiva.

Não há vida
Na mão
Que esconde
Arma.

Não há vida
Na mão
Que trapaceia
Amar.

Não há vida
Na mão
Que sabota
Afeto.

Não há vida
Na mão
Que executa
Opressão.

Não há vida
Na mão
Que movimenta
Violência.

Não há vida
Na mão
Que nega
Vida.

Não há vida
Na mão
Que morte
Guia.


Roberto Antônio Deitos é poeta e professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste. Autor de Poema Humanitário, Editora Scortecci, 2020.

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