Uma “pré-história” de revoluções sociais
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- Marco Antonio Perruso (Trog)
- 13/09/2024
O livro tornado best-seller instantâneo O despertar de tudo: uma nova história da humanidade (1) segue motivando importantes debates, sob o ângulo específico de uma esquerda que nada contra a corrente do momento atual de polarização política entre progressistas e reacionários. Escrita por David Wengrow, arqueólogo britânico, e por seu xará David Graeber, antropólogo estadunidense falecido em 2020 pouco depois de terminarem esta obra já clássica, ela provoca ruído na cena cultural de diferentes maneiras. Bem mais conhecido na cena pública, Graeber é, talvez, o mais importante intelectual anarquista da virada do século 20 para o 21, considerado um dos “ideólogos” dos movimentos Occupy, tão impactantes na virada do milênio.
Não por acaso, o livro vem sendo objeto de polêmicas e reações, negativas ou positivas (2) – em função de fatores que nem sempre ficam nítidos ou são devidamente ressaltados.
Provavelmente o grande mérito de Graeber e Wengrow nessa obra consiste em estender para a chamada “pré-história” – termo obviamente evolucionista – a perspectiva analítica que define teoricamente o que vem a ser a esquerda (seja ela anarquista ou marxista): a centralidade da agência sociológica dos variados setores populares, de qualquer formação social, na construção histórica do que somos.
Em oposição, o senso-comum, antes tradicional depois moderno, privilegia a agência de indivíduos das elites: quer as diversas aristocracias ou nobrezas, quer a burguesia. Não importa se estas constituam-se enquanto classes dominantes ou se tratem de grupos sociais que aspiraram a tal tantas vezes no passado – como a dupla de autores evidencia no decorrer do livro.
A versão da história das sociedades humanas formulada por Graeber e Wengrow consiste numa proposição científica a respeito das múltiplas trajetórias da humanidade. Por conseguinte, é muito mais complexa que a oferecida pelo prisma teórico reducionista do individualismo utilitário liberal estabelecido por Stuart Mill no século 19. Inspirado consciente ou inconscientemente neste paradigma, Yuval Noah Harari elaborou o best-seller anterior, do mesmo nicho literário, Sapiens: uma breve história da humanidade – razão pela qual é um dos autores criticados em O despertar de tudo. A motivação maior para tais críticas – e talvez para a oportunidade de Graeber e Wengrow produzirem obra tão potente – reside no fato de o individualismo metodológico recorrentemente se desdobrar em evolucionismo histórico, funcionalismo sociológico e mitologia meritocrática. De maneira que o resultado final é uma história dos vencedores, das classes dominantes.
Nossos dois autores em tela respondem negativamente à seguinte questão: “existe uma relação causal entre a escala e a desigualdade nas sociedades humanas?” (pg. 342). E argumentam: “Os estudiosos tendem a exigir evidências claras e irrefutáveis de qualquer tipo de instituição democrática no passado remoto. Por outro lado, é patente que nunca exigem provas igualmente conclusivas de estruturas de autoridade de cima para baixo, que costuma ser tratada como uma modalidade normal da história” (pg. 346).
A suposta “normalidade” de uma via – presumida – única na trajetória da humanidade é compartilhada por diferentes vertentes da cultura política moderna (ocidental ou não, é bom que se diga). Liberais enxergam em tal caminho inevitável pessoas empreendedoras (homens brancos das elites em busca de lucro, na verdade) configurando sociedades de mercado, cujas instituições zelosas da boa operação das “regras do jogo” completam a estranha combinação entre explicações individualista e funcionalista presente neste caso. Já nacionalistas manejam seu maior ou menor antiliberalismo por meio da opção exclusiva pelo funcionalismo, o qual subjaz ao privilegiamento analítico do Estado (o suposto grande constructo humano na regulação da vida social), corporificado por uma burocracia preocupada com o bem-comum e tecnicamente habilitada para tanto. Até mesmo os marxistas ortodoxos recaem numa sociologia elitista quando subestimam a agência das massas populares – o referente mais agudo da democracia – em favor de autodesignadas vanguardas revolucionárias.
Nos três padrões interpretativos, poucos indivíduos (egoístas, altruístas ou heroicos, respectivamente) conduzem multidões heterônomas ao progresso e à civilização, justificando assim suas autoridades sobre formações sociais complexas e estratificadas.
A respeito desse viés evolucionista e eurocêntrico que pré-determina a história das sociedades humanas na ótica da atualidade que ora vivemos, Graeber e Wengrow registram provocativamente, arriscando uma sociologia dos intelectuais à maneira de Bourdieu: “esses esquemas cronológicos refletem as preocupações políticas de seus autores” (Harari e outros por eles citados), os quais, quando debruçados sobre o passado, imaginam-se “como membros da elite dominante” (pg. 409). A partir daí, nossa dupla de autores busca dimensionar questões como a liberdade de escolha, o cálculo racional e as determinações econômico-sociais (distanciando-se do marxismo neste último ponto) na consecução de significados alternativos para “cultura” e “civilização”.
Ainda nesse enquadramento, O despertar de tudo: uma nova história da humanidade nos traz evidências de como o pensamento indígena norte-americano, notadamente um conjunto de argumentos em língua iroquesa, influenciou o Iluminismo e o contratualismo europeus. Para incômodo de filósofos e cientistas políticos acomodados ao velho status quo intelectual, Graeber e Wengrow desenvolvem uma hipótese decolonial que substitui o sujeito do pioneirismo moderno em formular normativamente o mais adequado tipo de organização social: não mais homens brancos debatendo em cafés de uma grande cidade, mas sim pessoas consumindo ritualisticamente tabaco em conselhos democráticos no contexto de sociedades matriarcais.
Aqui os dois autores nos dão conhecimento da figura de Kondiaronk, o americano nativo que é um teórico político engajado, em meio ao contato entre colonizados e colonizadores. E em outro momento da obra relembram como são dominantes as narrativas masculinas nas ciências do passado, ocasião em que resgatam a arqueóloga lituana Marija Gimbutas, acusada por muitos pares seus, no decorrer do século 20, de distorcer a “pré-história” em favor das mulheres...
Assim, Graeber e Wengrow desnudam as condições sob as quais inúmeros intelectuais, submetidos às regras da competição meritocrática sob o capitalismo contemporâneo, percebem as sociedades classificadas como não-modernas: “a própria academia está organizada de modo extremamente hierárquico, e a maioria dos estudiosos, portanto, tem pouca ou nenhuma experiência em tomarem, eles mesmos, decisões democráticas, e como resultado acham difícil imaginar qualquer outro fazendo isso” (pg. 601).
Voltando propriamente ao passado remoto da humanidade, a dupla de autores constrói diversas hipóteses, amparadas em recentes pesquisas empíricas e em diálogo com novas e velhas teorias de escopo antropológico, arqueológico, histórico, político e sociológico. Eles demonstram, assim, ao contrário de tantas vulgatas simplistas ainda prevalecentes, que na “pré-história” não houve uma Revolução Agrícola. Pelo contrário, em seu lugar se deram variados, complexos e até erráticos processos de convivência milenar entre agricultura e caça/coleta, em vastas regiões e sociedades. As investigações apresentadas no livro expõem a inferioridade da agricultura em relação à silvicultura durante o Neolítico, no que se refere aos rendimentos econômicos.
De início teria sido mais comum o “cultivo de vazante”, um tipo de agricultura que enseja menor esforço por ser praticada em terras inundáveis (daí a importância do barro nas religiões de povos semitas muito posteriores, caso do cristianismo). Este tipo de solo, dada sua utilidade transitória, dispensa a noção – ou a invenção – da propriedade. O que, por sua vez, inviabiliza o primado teleológico do estabelecimento mútuo entre propriedade e escravidão.
Graeber e Wengrow propõem então que a agricultura de vazante envolvia tanto um “cultivo lúdico” quanto uma “ecologia da liberdade”. Apontam numerosos indícios de “propensão das sociedades humanas a adotar e a abandonar (livremente) a agricultura” (pg. 284), de modo a concluírem: “exatamente esse tipo de flexibilidade ecológica que tende a ficar de fora das narrativas convencionais da história mundial” (pg. 285).
Desta forma, propõem a substituição do dualismo evolucionista sociedades pré-agrícolas x sociedades agrícolas pela multiplicidade de experimentos históricos humanos que vão de comunidades “antiagrícolas” – inovação conceitual oferecida na obra – a comunidades agrícolas. A agricultura como opção, não como destino. E mais: agricultura não meramente como meio de sobrevivência, de reprodução econômica, mas principalmente como um espaço de convívio social e comunhão cultural.
Uma perspectiva hierárquica – classista e colonialista – a respeito da história das sociedades é por eles recusada em favor de uma visão relacional consubstanciada na categoria “cismogênese”. Esta se refere ao recorrente fenômeno de contato entre povos vizinhos na trajetória da humanidade, desde a América até a Ásia, onde sociabilidades, formas políticas e conteúdos culturais são criados em função da negação ou aceitação das experiências dos outros. Uma dialética entre ser ou não-ser como outrem, podemos dizer. Neste ínterim, Graeber e Wengrow preservam a agência sociológica das coletividades humanas do passado, deixando de considerá-las exclusivamente enquanto meros joguetes inconscientes da “natureza humana” ou das forças produtivas.
Um exemplo de “cismogênese” residiria na confrontação teórica e prática, na antiga Mesopotâmia, entre burocracias democráticas e guerreiros autocráticos, em que as primeiras operavam sob o signo do igualitarismo e da reciprocidade enquanto os segundos agiam em função da diferença e da hierarquia.
A seguir, nossos autores buscam classificar a enormidade de experiências societárias desde a “pré-história” em “três formas elementares de dominação: controle da violência, controle do conhecimento e poder carismático” (pg. 441), relacionados a “três princípios”, presentes nos contatos cismogênicos: “soberania, administração e política competitiva” (pg. 468). Talvez aqui a ambição teórica de Graeber e Wengrow seja grande demais. De qualquer modo, é nítida a influência de Max Weber na taxonomia que eles sugerem.
Para além desta classificação deveras abrangente, os autores chamam atenção para o fato de que, assim como não houve Revolução Agrícola, também não se deu abruptamente – nem inevitavelmente – o “nascimento do Estado” (pg. 411). Teriam se desenvolvido, conforme diferentes cismogêneses entre povos na história, regimes de dominação chamados por eles “de primeira e segunda ordem”, assim como distintas noções de “governo” de acordo com as várias sociedades (sempre segundo aquelas três formas elementares de dominação e aqueles três princípios).
Ainda que ressaltem tais vetores de dominação, Graeber e Wengrow registram o quão era comum a ocorrência de “instituições igualitárias” nos diversificados passados humanos, as quais vinham a ser “consequência de movimentos sociais deliberados” (pg. 501) – o que retira do cenário a imagem idílica de um comunismo primitivo ao qual não podemos mais voltar. Operando com o paradigma político-intelectual dos movimentos sociais (que diferencia decisivamente a esquerda revolucionária da estatolatria socialdemocrata e populista), nossa dupla de autores nos apresenta a cidade indígena de Cahokia – na América do Norte, centro de expressivas mudanças sociais antes da chegada dos europeus – afirmando que “muitas vezes a migração é formulada como se implicasse a reestruturação de toda uma ordem social”: o “que hoje conhecemos como movimentos sociais muitas vezes assumia a forma de deslocamento físico” (pg. 498).
Ademais, tais deslocamentos amalgamavam povos e sociedades, de modo que na América pré-colombiana não era incomum a existência de cidades multiétnicas – outra primazia perdida pela modernidade ou pelo Ocidente.
O despertar de tudo enfatiza, pois, como as multidões sempre foram capazes de se autogovernar e assistir os mais vulneráveis, mormente tantas vezes tenham sido impedidas de fazê-lo por elites através de Estados autoritários e paternalistas. Em inúmeras ocasiões históricas, descartaram “qualquer sistema de controle de cima para baixo” (pg. 370) e impuseram uma “rejeição esmagadora da prática da escravidão e do sistema de classes” (pg. 230). Em outras oportunidades, inverteram a lógica “realista” e maquiaveliana do exercício da política e do poder, tal qual se deu em Tlaxcala, uma das civilizações indígenas contemporânea (e rival) dos astecas, que chegou a ser comparada às repúblicas italianas de Veneza, Gênova e Pisa por Hernán Cortés (pg. 374): “Em vez de serem obrigados a demonstrar carisma pessoal ou capacidade de superar os rivais, exigia-se dos que aspiravam a um papel no conselho de Tlaxcala um espírito de autodepreciação – e até mesmo de auto-humilhação. O que se esperava, enfim, é que se colocassem a serviço dos moradores da cidade” (pg. 382).
Não raro as resistências à imposição da dominação e exploração transformavam-se em revoluções sociais, como teria sido o caso da “profanação do Templo da Serpente Emplumada” que converteu Teotihuacan na “Tollam popular” (pg. 368-369), no atual México. Do mesmo modo, na antiga China: “É plausível que, às margens do rio Fen, estivéssemos diante de evidências da primeira revolução social documentada no mundo, ou pelo menos da primeira ocorrida num cenário urbano” (pg. 353). Contrariando a arqueologia e historiografia tradicionais (burguesas, podemos dizer), que veem um “estado de anarquia” quando as minorias dominantes são derrubadas pelas maiorias exploradas, Graeber e Wengrow asseguram a respeito de Taosi, a localidade chinesa em questão: “Isso não parece um colapso, mas uma época de prosperidade generalizada, na sequência da abolição de um rígido sistema de classes” (pg. 353). Aqui, ambos questionam não apenas o hobbesianismo (no qual as massas populares estão fadadas a perfazer a barbárie de todos contra todos), mas também os economicismos liberal e desenvolvimentista, que enxergam o “sucesso” humano apenas enquanto crescimento econômico, em detrimento de regimes revolucionários de produção e distribuição de bens.
Destarte, os autores concluem: “Onde antes presumíamos que a ‘civilização’ e o ‘Estado’ eram entidades associadas que chegaram até nós como um pacote histórico (...), o que a história demonstra é que, na realidade, esses termos designam amálgamas complexos de elementos que têm origens completamente distintas e estão em via de se desintegrar. Dessa perspectiva, reconsiderar as premissas básicas da evolução social implica reconsiderar o próprio conceito de política” (pg. 460).
O despertar de tudo, enfim, nas palavras de seus próprios autores, “trata sobretudo da liberdade” (pg. 229). Neste ponto, pode parecer que se distanciem teoricamente, via anarquismo, do marxismo, como já dito e em parte é verdade. Todavia, ambas as tradições intelectuais compartilham uma aposta política: “explorar a possibilidade de que os seres humanos têm mais voz coletiva sobre seu destino do que costumamos supor” (pg. 229 – grifo meu). A partir do movimento operário europeu no alvorecer da modernidade, seu lugar de fala original, ambas compreendem que a agência social é de ordem anti-individualista, de modo que erigiram a primeira crítica à visão de mundo burguesa, bem como revolucionaram as ciências humanas ocidentais e criaram a sociologia.
Diante da crise mundial do capitalismo contemporâneo, tornada mais dramática pela ascensão da extrema-direita reacionária, que empurra muitos de nós para a mera defesa da democracia liberal e de um progressismo moderado, a presente obra é auspiciosa por fartos motivos. Por exemplo, Graeber e Wengrow mostram que o aquecimento global de hoje em dia teve um de seus antecedentes na crise ambiental provocada pela aniquilação étnica americana sob as mãos dos colonizadores europeus.
Contudo, o maior mérito do livro reside no fato de expandir nossos horizontes societários futuros na medida em que modifica nossas imagens do passado, no sentido da valorização da diversidade da experiência humana. Desta maneira, e ainda que arriscando tangenciar uma postura romântica que criticam, eles entendem que “talvez as coisas tenham começado a desandar precisamente quando as pessoas perderam a liberdade de imaginar e vivenciar outras formas de existência social” (pg. 532). O despertar de tudo efetivamente demonstra que as pessoas viveram de outras maneiras que não as submetidas à lógica moderna, apesar de nossos olhares atuais insistirem em considerá-las exceções às margens, não as regras centrais da vida social durante muito tempo na história da humanidade: “as possibilidades de intervenção humana são muito maiores do que tendemos a considerar” (pg. 554).
Ao lermos o livro, perdemos as amarras mais comuns no modo de pensar a história das sociedades, desenvolvemos outras percepções sobre o presente e acessamos novos imaginários sobre o porvir. Uma “pré-história” de alternâncias culturais, revoluções sociais e movimentações políticas disruptivas nos entusiasma no contexto do fechamento de alternativas ora vivido, emparedados que estamos pelo capitalismo de mercado estadunidense e pelo capitalismo de Estado chinês. Quando os projetos políticos passam a resumir-se à estreita faixa que vai de uma a outra destas configurações capitalistas, normalmente um meio-termo representado pelo Estado de Bem-Estar Social (impossível na periferia da ordem internacional do capital em que nos situamos), o que resta é apenas a indeterminação da política de que nos falava o saudoso Francisco de Oliveira. É quando também a esquerda deixa de se caracterizar pelo que a define: a luta contra as desigualdades (de classe, gênero, raça, etc.) fundantes, não apenas contra a pobreza delas derivada; a confiança nos movimentos populares dos trabalhadores e demais setores oprimidos como motor da transformação social, não a crença em políticas públicas reparadoras das deficiências do mercado.
Para evitar este beco sem saída que o “progresso” nos legou no século 21, a compreensão rigorosa da centralidade – democratizante – da agência sociológica expressa nas ações coletivas dos “de baixo” é um resultado possível da leitura de O despertar de tudo. Conceber privilegiadamente a longevidade da força das práticas e culturas anônimas desde as bases das sociedades (3) por toda sua história nos permite superar com mais apuro (e destemor) as limitações que o momento atual nos impõe.
Notas:
1) Graeber, David e Wengrow, David – O despertar de tudo: uma nova história da humanidade, Cia. das Letras, 2022 (tradução de Claudio Marcondes e Denise Bottmann).
2) Mena, Fernanda – Livro é criticado por apontar erros sobre história da humanidade, Ilustríssima, Folha de São Paulo, 28.08.2022; Frizzo, Fábio et al. – Novas histórias da humanidade: livro desmonta os pressupostos da grande narrativa ocidental sobre a emergência da sociedade capitalista e patriarcal, Quatro Cinco Um, 01.02.2023.
3) Bertold Brecht já tinha visibilizado – e consagrado – a imperecibilidade dos “anônimos” na história social, em seu clássico poema Perguntas de um operário letrado:
“Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas”
Marco Antonio Perruso (Trog) é professor de sociologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Autor de Em busca do “novo”: intelectuais brasileiros e movimentos populares nos anos 1970/80, Annablume, 2009; e de 10 anos de junho de 2013 – da crise do lulismo à derrota de Bolsonaro, Mauad X, 2023.
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