A escola e a democracia
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- Rodrigo Manoel Dias da Silva
- 14/05/2008
Muito já tem sido pensado e escrito sobre as implicações entre processos escolarizados e democracia ou mesmo da necessidade de incorporação dos valores democráticos ao cotidiano escolar. Fala-se em práticas de ensino democráticas, democratização do acesso ao saber, gestão democrática da escola pública, aprendizagem da democracia e, inclusive, afirma-se que educação e democracia seriam processos sociais indissociáveis. Ninguém hoje, ao que parece, é capaz de afirmar o contrário, uma vez que se comprova um consenso em torno da democracia como regime político ideal em detrimento de outros modos de governo.
Pois bem, reconheço que em um regime democrático (também na escola) há inúmeros ganhos sociais que em regimes mais autoritários não ocorrem, mas faz-se prudente sempre desconfiar do consenso. Não quero, pois, fazer apologia ao autoritarismo, presente nas escolas até poucas décadas atrás, mas precisamos indagar com curiosidade: qual democracia? Que práticas e significados desdobram-se desta democracia escolar?
O conceito de democracia, nascido sob inspiração iluminista, baseado nos princípios da liberdade e da igualdade, tem-se constituído como estratégia de legitimação de práticas políticas, quer seja de direita ou de esquerda. Assim, programam-se modalidades arbitrárias de participação que não somente enquadram sujeitos em esquemas jurídicos de ação social e política, como se desarticulam ações advindas da própria experiência destes sujeitos. As demandas reais das comunidades escolares são desarticuladas quando os Conselhos Escolares são pouco informados de suas atribuições legais. Os Conselhos Escolares, pois, passam a exercer apenas a função de revisar as prestações de contas. A participação da juventude na escola é regida por grêmios estudantis padronizados ou tutelados.
Mas, se o preço a ser pago por democratizar a escola é a emergência de padrões burocratizados de participação, ainda vale a pena fazê-lo?
Tenho dúvidas. A resposta a esta questão depende de uma necessária revisão destas ações escolares que definem o que é ou não democracia. Veja-se o caso da participação estudantil na escola pública como exemplar desta condição. O modo como professores e professoras vêem seus alunos na escola expressa certa idealização de um modelo de democracia em um locus impregnado de diferenças sociais, uma vez que se esperam cidadãos aptos ao debate de suas demandas na esfera pública escolar, inseridos em dinâmicas concorrenciais por funções representativas. Ou seja, elabora-se um tipo-ideal de participação, o qual a grande maioria de nossos estudantes não seria capaz de exercer. Acreditamos, então, que estudantes não participam e estão desinteressados das questões políticas de seu tempo.
Porém, se o conceito de democracia for ampliado até alcançarmos as expressões culturais contemporâneas da juventude, talvez ainda valha a pena insistir na boa e velha democracia na escola. Certamente, a geração de 1968 mostrou que democracia e expressão cultural cotidiana são inseparáveis.
O que este texto sugere é a ampliação do conceito de democracia, para além de sua expressão nos mecanismos de participação instituídos em lei. Para ver democracia na escola, basta deslocar o olhar para sua expressão cultural: sua solidariedade, seus círculos sociais, suas tribos, seus espaços, sua participação. Mas tudo ocorre no extremo da multiplicidade. No plural, no amplo, no incerto.
Estejamos abertos a outras expressões de democracia na escola.
Rodrigo Manoel Dias da Silva é professor – Email: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
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