Por que as tarifas elétricas vão aumentar?
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- Instituto Ilumina
- 06/11/2014
A partir da notícia de aumento de 17,75% da tarifa de energia da Light, o Instituto Ilumina faz algumas ponderações sobre o histórico recente da política energética, que culminam no reajuste das contas de luz.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo.
É preciso explicar que essa história vem de longe:
Com o racionamento em 2001, a carga brasileira se reduziu em 15% em relação à tendência anterior.
- Mesmo sob esse quadro inesperado, o governo manteve a descontratação das usinas da Eletrobrás e de outras empresas.
- Como a operação nada tem a ver com o mundo comercial, o preço no mercado livre se reduziu a R$ 4/MWh (megawatt/hora). Esse valor é uma exclusividade brasileira, não sendo observado em nenhum outro lugar do planeta.
- As geradoras hidroelétricas perderam contratos, mas permaneceram gerando e recebendo essa quantia irrisória.
- Isso criou um enorme incentivo para a migração para o mercado livre com a proliferação de contratos de curto prazo. Basta dizer que em menos de um ano o número de consumidores livres decuplicou. Em dezembro de 2004 havia 36 consumidores livres e em agosto de 2005 esse número passava de 420.
- Apenas ao final de 2004, o governo realizou um leilão de energia existente com prazo de contratos de 8 anos.
- 70% da energia ofertada (cerca de 10.000 MW médios) se originaram de usinas da Eletrobrás, que estava proibida de buscar outras demandas.
- Outras empresas não ofertaram energia, pois sabiam que se firmassem contratos sob esse cenário “congelariam” um baixo retorno. Exemplo: A Tractebel (antiga Eletrosul) ofertou apenas 10 MW médios.
- O preço médio alcançado foi de R$ 57,15/MWh que, corrigido pelo IGP-M, atinge, em dezembro de 2012 (final do contrato), R$ 87,53/MWh.
- Esse foi o preço determinado pelo leilão. Não foi uma escolha das empresas.
- Para termos de comparação, eis alguns valores de leilões de energia nova: Estreito: R$ 126,57/MWh, Foz do Chapecó: R$ 131,49/MWh, Serra do Facão: R$ 131,49, São Domingos: R$ 126,57/MWh. Em média, 50% mais caros do que os valores das usinas antigas.
- Pressionado pela indústria que, sem informar esse diferencial, culpava as usinas antigas pelo encarecimento da tarifa, o governo lança a MP579, que pretende antecipar o fim das concessões de 20% do parque e impor um custo de operação e manutenção (O&M) como “tarifa” por usina.
- Nunca houve nenhuma manifestação do poder público sobre os reais preços de energia nova versus velha.
- Coincidentemente, após o anúncio da MP579, os custos de operação do sistema dobraram com a mudança repentina no despacho térmico. Isso é o que está por trás dos aumentos tarifários descritos abaixo.
- Em janeiro de 2013, o governo deveria ter feito um leilão para substituir os contratos que findavam.
- Avaliando erradamente a adesão das empresas e avaliando erradamente o equilíbrio estrutural do sistema, o governo não faz o leilão substituto, o que deixou as distribuidoras descontratadas e expostas aos caros preços do mercado livre, que nós vamos ter que pagar de qualquer jeito.
- Você diria que esse mesmo sistema já ofereceu 1 MWh, que custa hoje R$ 822, por R$ 4 em 2003 e por R$ 15 em 2011?
Como o custo já ultrapassa R$ 100 bilhões, o Instituto Ilumina imagina que, se tal ocorresse em países com instituições mais sólidas, alguma responsabilização seria buscada. Mas, infelizmente, a nossa regulamentação ainda está longe de buscar essa justiça.
Outro ponto importante é que esse gasto extra não está sendo computado separadamente, portanto, mais impostos!
Vamos ver até onde chegamos.
Abaixo, a matéria da Folha:
A partir de sábado (7) os consumidores da Light pagarão 17,75% mais caro pela energia elétrica. O reajuste foi autorizado nesta terça-feira (4) pela diretoria da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
De acordo com a reguladora, 3,7 milhões de unidades consumidoras (residências, escritórios e indústrias, por exemplo) serão afetadas pela alteração de preços em 31 municípios do Rio de Janeiro.
Os aumentos, porém, são diferentes para cada modalidade de consumo.
A indústria, consumidora de alta tensão, terá um aumento maior, de 19,46%. Já os consumidores de média tensão, como centros comerciais, terão preço da luz aumentado em 19,23%.
Todas as mudanças começam a ser aplicadas a partir do fim de semana.
O aumento concedido à empresa de distribuição foi justificado pelo elevado custo que a Light teve, no último ano, para comprar energia, além dos gastos maiores para pagar a transmissão e os encargos setoriais.
Leia também:
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Fonte: Instituto Ilumina.