A má fé entreguista
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- 29/03/2019
Na obra prima da literatura alemã, Goethe coloca na fala de Mefistófeles o seguinte conselho ao enamorado Fausto: é quando faltam as ideias que mais necessárias são as palavras.
O IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Biocombustíveis) parece que adotou este demoníaco conselho ao analisar a questão do petróleo e, em especial, o petróleo no Brasil.
Se a matéria apresentada por Evandro Milet, em sua coluna no Gazeta Online (revista em 17/02/2019), contiver o que efetivamente expôs, em palestra para a Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (FINDES), o Secretário-Geral do IBP, Milton Costa Filho, aquela instituição deixou de lado os dados técnicos e as informações oficiais sobre o petróleo, no Brasil e no mundo, para expor a ideologia que move, atualmente, a entidade.
Sob a forma de um debate, apresento a seguir as considerações, extraídas daquela coluna como a posição do IBP e contraponho as argumentações da Associação de Engenheiros da Petrobrás (AEPET).
IBP: “Investimentos Potenciais na Cadeia do Petróleo no Brasil em Dez Anos Devem Atingir R$ 2,5 trilhões".
AEPET: Investimentos Realizados pela Petrobrás na Cadeia do Petróleo no Brasil em dez anos (2006-2015) atingiram R$ 1,5 trilhão (US$ 412 bilhões). Entre um alegado potencial que para ser realizado demanda "condições" que podem ser entendidas como vantagens quase sempre insuficientes, é preferível tratar do que foi efetivamente realizado.
IBP: “Em 2016, carvão, petróleo e gás representavam 80% da matriz energética no mundo. As previsões de especialistas apontam para 76% em 2040, 50% em 2050 e 22% em 2070. À medida que o petróleo é substituído, a demanda diminui e, naturalmente, o preço cai".
AEPET: A Administração de Informações sobre Energia dos EUA (EIA) projeta que o consumo mundial de energia crescerá 28% entre 2015 e 2040. Até 2040, preveem aumento do consumo mundial de energia de todas as fontes de combustível, exceto a demanda por carvão, que deve permanecer essencialmente estável. (IEO2017). Portanto, segundo estes especialistas a demanda por petróleo e gás natural não diminui. Quem desqualifica via de regra quer comprar, ou representa quem quer.
IBP: "Hoje, os três lugares com maior produtividade na produção de petróleo são o Oriente Médio, os EUA com o shale oil e o nosso pré-sal. O Brasil perdeu muito tempo e promoveu a maior destruição de valor da sua história ao paralisar por cinco anos as rodadas de petróleo, o que detonou a cadeia de petróleo. Fizeram desnecessária mudança de regime de concessão para partilha que só provocou a criação de mais uma estatal, a exigência irreal de conteúdo local".
AEPET: O dinamismo do setor foi mantido até 2015, com investimentos de US$ 412 bilhões (2006-2015), em valores corrigidos para 2018, o equivalente a R$ 1,5 trilhão em cotação cambial de 3,72 R$/US$. O cenário desolador descrito não foi resultado da ausência de leilões ou da alteração do regime de exploração do petróleo. Foi consequência da redução da taxa de investimentos da Petrobrás e do impacto da operação Lava Jato sobre as empreiteiras brasileiras. Em 2016 e 2017, a Petrobras investiu US$ 32 bilhões, enquanto, por exemplo, no biênio 2010-2011 investiu 106 bilhões, em valores corrigidos para 2018.
IBP: "Enquanto o Brasil se perdia em delírios ideológicos ignorantes que ressuscitavam slogans jurássicos como 'O petróleo é nosso'... A Noruega atingia um trilhão de dólares no seu fundo soberano, montado inteligentemente com a exploração tempestiva do seu petróleo, para garantir a aposentadoria dos seus cidadãos e a maior renda per capita no mundo...".
AEPET: Em 10 anos de desenvolvimento a produção do pré-sal alcançou 1,5 milhão de barris equivalentes diários. A Noruega levou 50 anos para alcançar o mesmo patamar. Hoje o pré-sal já representa mais de 55% da produção brasileira de petróleo.
Quem delira ideologicamente? Certamente aqueles que disseram que o pré-sal só existia na cabeça dos políticos, e que seria inviável técnica e economicamente de ser desenvolvido pela Petrobrás e que, por fim, sem mais argumentos, alegam que é um mico sem valor e precisa ser entregue para exportação pelas multinacionais estrangeiras a toque de caixa.
IBP: "Se o Brasil crescer com taxas razoáveis próximas a 3% nos próximos anos, teremos um apagão de mão de obra no setor de petróleo com a demanda de 800.000 trabalhadores com alta qualificação. Os empregos serão gerados na cadeia de fornecedores. Temos de correr ou iremos para o túmulo junto com o Petróleo é nosso, riqueza sem valor para sempre enterrada".
AEPET: Nenhum país se desenvolveu exportando petróleo cru por multinacionais estrangeiras. Existe correlação entre o consumo de energia, o crescimento econômico e o desenvolvimento humano. Precisamos agregar valor ao petróleo, consumir combustíveis e petroquímicos internamente, aumentar a produtividade do nosso trabalho e usar o petróleo, que é um bem público do Brasil para seu desenvolvimento, em favor da maioria dos brasileiros.
Felipe Coutinho é presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
Felipe Coutinho