Correio da Cidadania

O capital é genocida, misógino, racista, predador do ecossistema, xenófobo e ocidental (1)

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Let's Just Admit It: Capitalism Doesn't Work | Common Dreams Views"Ao injetar US$ 11 trilhões na economia de seus países, líderes estão tomando emprestado dinheiro das futuras gerações" (Antônio Gutierres, secretário-geral da ONU, referindo-se aos países em desenvolvimento).

O capital é o instrumento; o capitalismo é a resultante, uma forma de relação histórica e, portanto, fadada ao nascimento, vida e morte.

Seu nascimento não foi casual, mas sim uma resultante do egoísmo humano da fase ainda inferior da nossa racionalidade. O escravismo a ele inerente é consequência de um sentimento e desejo inferiores de supremacia de uns seres sobre outros.

Nasceu no exato momento em que o ser humano deixou a partilha comunitária e passou a realizar trocas quantificadas pela dimensão do esforço individual de produção (o escambo inicial), transformando assim em mercadorias objetos antes destinados ao consumo e apenas à satisfação de necessidades, que passaram então a ter valor de uso e valor de troca, ganhando dupla personalidade: uma concreta e outra abstrata.

Dessa forma, proporcionou e iniciou a escravização direta, aquela em que seres humanos passaram a trabalhar como máquinas ou animais de carga para os seus senhores escravizadores.

Da escravização direta evoluiu-se para uma forma mais sutil de escravização: o tempo de trabalho como mercadoria (daí o termo trabalho abstrato), e com a possibilidade de subtração desse tempo/valor. Trata-se da chamada extração de mais-valia, conceito assim denominado por Karl Marx, cuja obviedade é tanta que não pode ser negada nem sequer pelos defensores do capital.

É a subtração individual do tempo do trabalho que provoca a acumulação do capital, o qual se transforma em capitalismo e rege toda a irrigação funcional da sociedade sob tal forma de relação social, aí incluído, principalmente, o Estado, organismo regulamentador da opressão e ele mesmo instrumento institucional/militar da opressão.

Mas, como relação social histórica que é, e não ontológica, está chegando ao momento de seu ocaso, cujos indícios saltam aos olhos.

Isto se evidencia nos inegáveis sintomas de necessidade de sua superação, que está sendo admitida até pelos organismos internacionais criados pelo próprio capitalismo, apavorados com a insustentabilidade da vida social sob seus parâmetros escravistas.

Em 21 de novembro, na reunião virtual do G20, o secretário-geral da ONU, Antônio Gutierres, fez pronunciamento dramático alertando os dirigentes políticos dos países ricos sobre a tragédia que se abate sobre as nações designadas eufemisticamente como em desenvolvimento, as quais estão acumulando dívidas que não poderão ser resgatadas no futuro, o que deverá provocar um ainda maior empobrecimento e miséria generalizada.

O que já era ruim em termos de depressão econômica anunciada desde 2019, ficou pior com a covid-19.

Numa carta endereçada a todos os presidentes e chefes de governo, Guterres foi incisivo: "Os países em desenvolvimento estão à beira da ruína financeira, de uma escalada da pobreza e de um sofrimento inédito. O efeito dominó de falências poderia devastar a economia global. Não podemos deixar que a covid-19 leve a uma pandemia da dívida".

O coronavírus tornou explícita uma questão matemática que o capitalismo e seus políticos submissos nunca querem aceitar: a de que a lógica de subtração do tempo/valor provoca desigualdades sociais de contingentes humanos majoritários (ainda que crie pequenos bolsões de riqueza, comparativamente falando).

Gutierres reverberou, também e enfaticamente, sobre as evidências das agressões ecológicas provocadas em altas percentagens pelos países do G20, que podem ser irreversíveis no curto prazo e vêm somando-se às tragédias da depressão econômica e crise sanitária. É pouco ou querem mais?

É que a paralisia da produção e consumo sob tal critério demonstrou o utilitarismo do capital em relação à necessidade de consumo social, pois não permite a salvação de seres humanos que deveriam estar sendo assistidos em isolamento por conta de um surto pandêmico que, por suas proporções, já se constitui na maior tragédia humanitária do pós-guerra.

Seria fácil, ou menos difícil, conservarmos a vida e evitarmos as milhões de mortes já havidas e outras que infelizmente ainda virão se superássemos a lógica mercantilista social do capital e produzíssemos apenas para a satisfação do consumo, até que as vacinas se tornem comprovadamente eficazes e logisticamente distribuíveis a preços acessíveis ou gratuitos.

Mas, ao contrário, os detentores do capital e seus acólitos políticos e privilegiados institucionais preferiram promover a abertura das relações de produção e consumo antes mesmo do fim da pandemia como forma de salvação do sistema capitalista, o que provocou uma volta das infecções e óbitos, dando-nos a certeza de que o capitalismo é mesmo uma pulsão genocida de morte.

Dalton Rosado é economista.
Publicado originalmente em Náufrago da Utopia.

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