Correio da Cidadania

A Petrobras e os investimentos em combustíveis fósseis: o Brasil é mesmo um país sustentável?

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O mundo não está contribuindo para conter as emissões de gases de efeito  estufa
Em 2015, quando da assinatura do Acordo de Paris, estabeleceu-se que a meta mais importante seria a de impedir que a temperatura média da Terra aumentasse acima de 1,5ºC até o ano de 2050. Hoje sabemos que esta meta se tornou inviável. O fato positivo é que não mais se questiona o aquecimento do planeta, e há hoje um consenso de que as emissões de CO2 são as principais responsáveis pelas catástrofes climáticas.

O aquecimento global está trazendo impactos à atividade econômica. E, infelizmente, a devastação trazida pelas fortes chuvas ao Rio Grande Sul mostra que o Brasil não está imune. Nos países mais avançados, é cada vez maior a utilização de novas fontes de energia baseadas em recursos renováveis, como solar e eólica, e a eliminação do uso de combustíveis fósseis como petróleo. O Brasil também avançou muito no uso das fontes renováveis. Mas ainda praticamente não usamos veículos elétricos, enquanto na Europa eles já fazem parte do cenário. O carvão é outro vilão que vem sendo abandonado inclusive na China, seu maior usuário.

Mas, evidentemente, há países que não querem enfrentar a mudança e avisam que vão continuar produzindo petróleo. É o caso dos grandes produtores, principalmente Rússia e alguns países árabes. Por razões várias, estes países não se preocupam com o planeta.

A verdade é que as metas de redução das emissões estão cada vez mais difíceis de serem atingidas. Basta verificar que, em 2023, a produção de eletricidade gerada pelos combustíveis fósseis foi a maior da história mundial. No ano do Acordo de Paris, em 2015, a participação da energia elétrica produzida via combustíveis fósseis era de 67% do total. Ela caiu para 61% no ano passado, mas nesse período de oito anos a produção mundial de eletricidade cresceu 23%, muito mais do que era esperado. Ou seja, a velocidade da descarbonização também precisa crescer.

Apesar de muito discurso, premiação de empresas ESG, mercado voluntário de carbono, estímulo aos veículos elétricos etc., o fato concreto é que as emissões de CO2 não estão diminuindo. Isso acarreta o aumento dos estoques de gases causadores do efeito estufa na atmosfera, o que provoca o aumento da temperatura mundial e as frequentes catástrofes.

Outra constatação recente é a de que as catástrofes vão acontecer principalmente no Hemisfério Sul e menos no Norte. Esse fato deveria ser suficiente para motivar lideranças brasileiras a exigirem que as nações do Norte sejam mais vigorosas na adoção de medidas contra as emissões de CO2. Inclusive porque o Brasil é um dos países mais bem-dotados do mundo em termos de fontes renováveis e deveria ser um líder brigando pela redução das emissões de CO2.

Mas, infelizmente, não vemos a Petrobras empenhada nessa questão. Pelo contrário, pois agora pretende pesquisar e explorar a Margem Equatorial, o que pode levar a empresa a ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo. É provável que venha a ser uma vitória de Pirro, pois a maioria dos especialistas acha que, em torno de 2035, a oferta de petróleo será muito maior que a demanda e, com isso, os preços do petróleo começarão a despencar de forma irreversível.

Além disso, os argumentos a favor da continuidade dessa exploração também são falsos, pois a alegação de que haverá geração de empregos, exportação e arrecadação de impostos não sobrevive ao fato de que se investirmos em tecnologia e produção de energia renovável nosso êxito nas mesmas variáveis será ainda maior. Simplesmente porque energias renováveis serão a base da economia mundial em algum momento deste século 21, enquanto o petróleo, como dissemos, está com seus dias contados.

O Brasil é um país deveras peculiar: nos fóruns e simpósios internacionais estamos entre os que mais defendem as reduções das emissões de CO2, mas dentro de casa dificultamos o uso do carro elétrico e investimos cada vez mais em petróleo. Será que somos mesmo o país sustentável que apregoamos pelo mundo afora?

Paulo Feldmann é economista e professor da FEA-USP.
Fonte: Jornal da USP.

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