Banana Republic
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- 31/10/2007
Sobre o absurdo de gastar bilhões para sediar o Campeonato Mundial de Futebol em 2014, não há mais nada a dizer depois do artigo do Jânio de Freitas na Folha de S. Paulo desta semana.
Sobre a origem do dinheiro para custear as passagens e as diárias dos acólitos de Lula na Suíça, não há necessidade de comentários, porque os jornalistas já foram atrás da carniça e ninguém duvida do odor que a mesma exalará.
Resta, contudo, um aspecto ainda não abordado: o que significa a viagem do presidente da República acompanhado por doze governadores e dois ministros ao evento de proclamação do Brasil como país-sede da Copa?
No tempo em que a Nação brasileira tinha dignidade, os mandatários do povo não enviariam uma delegação de nível tão alto na hierarquia do Estado para cohonestar um evento de marketing comercial de uma empresa, como a Fifa, dedicada a negócios que frequentemente têm problemas com o Fisco - sugestivamente sediada em Zurich.
Na Conferência de Haia, enviamos Ruy Barbosa (sozinho) com a mensagem da igualdade jurídica das nações; na instalação da ONU, nossa representação, limitada ao ministro Oswaldo Aranha, afirmou nosso compromisso com os direitos humanos; no evento da Fifa, a delegação brasileira - de porte "nunca antes visto em nossa história" - contou ao mundo que “aqui na terra 'tão jogando futebol; Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll; Uns dias chove, noutros dias bate sol; Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta; Muita careta pra engolir a transação; E a gente tá engolindo cada sapo no caminho”.
Todos nós já estamos mais ou menos conformados com o novo padrão da "política como espetáculo". Mas o espetáculo que as mais altas autoridades do país estão dando ao mundo já está raiando à porno-chanchada.
Até agora o resultado dessa conduta "banana republic" rendeu apenas a divulgação, na mídia de todo mundo, daquela pergunta apressada do Executivo da Fifa, Sr. Joseph Blatter, ao assessor que lhe anunciou a chegada de Lula local: "como é mesmo o nome do sujeito?".
Aliás, esse "cartola internacional", juntamente com um ex-jogador de futebol, Michel Platini, pôs-se a fazer recomendações acerca de políticas públicas a serem adotadas pelo Brasil para merecer a escolha. Chegaram mesmo ao atrevimento de advertir que o Brasil poderia perder o patrocínio da Copa, se os legisladores brasileiros resolverem instalar CPIs para investigar as milionárias transferências de jogadores para equipes européias. Ora, denúncias de fraudes em relação a essas transferências, de tão freqüentes, já transformaram as páginas esportivas em páginas policiais.
Mais explícito impossível, como diz o nosso implacável moralista José Simão.
A imagem externa do Brasil é importante. Porém, muito mais importante é a imagem que o Brasil constrói para si mesmo. Que imagem podemos construir a respeito de nós mesmos, a partir da nossa delegação em Zurich?
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