2007: um ano ruim para o país
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- 21/12/2007
Há onze anos, em sua última edição anual, o Correio faz uma retrospectiva dos principais fatos do ano. Cada colunista examina a sua área e procura resumir os principais fatos do período. A opinião do jornal é expressa neste editorial.
Neste ano, essa opinião é bastante negativa: o ano de 2007 foi um ano muito ruim para o nosso país.
A demorada reciclagem da nossa economia foi finalmente completada e pode-se dizer que o novo modelo de desenvolvimento, calcado nas receitas neoliberais, está consolidado. A advertência de Celso Furtado, em 1992, não foi ouvida: a construção nacional não está mais interrompida. Os governos Collor, FHC e Lula destruíram-na inteiramente. Os que ainda acreditam no país têm de começar, desde os alicerces, uma nova construção.
Este resultado discrepa do modelo ideado pelos militares que, nos anos 80, propuseram a transição "lenta, gradual e segura" do regime autoritário-militar para o regime civil, a fim de manter a hegemonia burguesa, pois, embora tenha conservado o poder, a burguesia ficou ainda mais fraca do que já era no passado. As mudanças neoliberais a tornaram ainda mais dependente das burguesias centrais do sistema capitalista. Na verdade, reduziu-se à condição de uma pequena burguesia local, que vive de comissões pelo trabalho de intermediação dos grandes negócios que o capital estrangeiro está realizando no país.
As conseqüências sociais desse processo, que já vinham de mais longe, agravaram-se sobremaneira em 2007.
A mancebia entre o setor público e o setor privado fez implodir todos os padrões éticos. A população assistiu atônita à avalanche de escândalos que vão desde a débâcle moral do Senado até a prisão da menor L15 numa cela com dezenas de homens, em Abaetetuba.
Como disse o senador Pedro Simon, um dos poucos que escapou do lodaçal em que se converteu o Senado, em entrevista a este Correio: "O Brasil está se decompondo".
Contra essa realidade, o governo esgrime estatísticas róseas, a respeito da estabilidade e do crescimento econômico, e a mídia entoa loas diárias aos sucessivos recordes das Bolsas de Valores.
Tais cifras reduzem-se a poeira diante das mortes de pessoas inocentes atingidas pelos tiroteios entre a polícia e a bandidagem nas ruas das capitais; das humilhantes notas dos alunos das escolas brasileiras em todas as comparações internacionais; do colapso da saúde pública; da epidemia de dengue que infesta o país inteiro; da devastação da Amazônia; do doloroso espetáculo da greve de fome do bispo Dom Cappio - único modo, que lhe foi dado, de defender a população rural do nordeste da avidez do agronegócio.
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Comentários
O governo Lula optou pelo produtivismo, bem ao estilo estalinista. O mesmo produtivismo que tantos males levou à União Soviética
E olha que a corrente majoritária do PT, a mesma que detém quase todo o poder no governo, era uma das mais críticas do estalinismo.
"Se o Estado cede, o Estado acaba", teria afirmado Lula ao justificar a intransigência do governo diante do gesto do bispo Cappio. Nas inúmeras vezes que o Estado, já sob o governo Lula, cedeu aos interesses do grande capital, não havia perigo de que viesse a se acabar?
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