Uma decisão muito difícil
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- 11/01/2008
Recente reportagem da Folha de S. Paulo mostrou que o governo Lula desapropriou menos terras e assentou menos famílias em 2007 do que no ano anterior.
Os números comprovam a desaceleração do programa de assentamentos rurais.
O ministro da Reforma Agrária atribui o fato à dificuldade de encontrar terras improdutivas, porque os índices de produtividade fixados por lei estão muito defasados.
Esses índices são essenciais para definir se uma propriedade pode ou não ser desapropriada, pois se ela apresentar aos peritos uma produtividade superior à dos índices, os juizes não autorizam a desapropriação (ainda que, constitucionalmente, devessem fazê-lo, se a propriedade não atende os outros requisitos para o cumprimento da sua função social).
Acontece que esses índices estão totalmente desatualizados, uma vez que foram fixados há mais de trinta anos.
O Correio da Cidadania tem denunciado reiteradamente essa falha e afirmado que sua correção depende unicamente do presidente da República, pois, de acordo com a lei, a atualização dos índices é feita mediante uma instrução conjunta firmada pelos ministros da Reforma Agrária e da Agricultura.
Em 2003, com base em dois estudos realizados ainda no tempo de FHC, o então ministro da Reforma Agrária solicitou a publicação dos novos índices. Mas o então ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, recusou-se a fazê-lo e o assunto foi parar na mesa do presidente.
Está lá até hoje, apesar dos apelos feitos pelos movimentos populares, pela Igreja e por especialistas na questão agrária. E agora vem o atual ministro da Reforma Agrária declarar que Lula não determina ao ministro da Agricultura que firme a instrução porque o assunto é espinhoso e ele está esperando uma oportunidade melhor para fazê-lo.
Tem propósito?
Qual a espinhosidade do assunto? Evidentemente é o veto do agronegócio à reforma agrária.
A entrevista do ministro confirma claramente o que este jornal tem afirmado: iludido com a aventura do etanol, Lula abandonou definitivamente a reforma agrária e entregou-se inteiramente ao agronegócio.
Até quando as 150 mil famílias de sem terra que, segundo declarações do dirigente do MST, João Pedro Stédile, estão hoje acampados na beira de estradas ficarão à espera da reforma agrária prometida?
Desde que Lula tomou posse, os movimentos populares do campo, crendo tratar-se de um governo de coalizão, em que forças pro e contra disputavam a decisão sobre a reforma agrária, adotaram a estratégia de, por um lado, apoiar o presidente, a quem consideravam um aliado e, por outro lado, continuar as ocupações de terra, a fim de, indiretamente, ajudar seu aliado a fazer avançar a reforma.
Após as declarações do ministro da Reforma Agrária, não pode haver dúvida alguma de que essa estratégia está totalmente superada: o governo não é de coalizão e Lula não é mais um aliado.
Os dirigentes desses movimentos vêem-se assim diante da necessidade de tomar uma decisão bem difícil: contar aos sem terra que Lula é o responsável pela paralisação da reforma agrária.
Difícil, porque não podem prever a reação da massa diante de uma decepção tão grande, nem prever a reação do governo diante da retirada de um apoio que até agora não lhe faltou.
Decisão difícil, indubitavelmente, mas necessária, para ajudar o povo a compreender claramente sua realidade.
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Comentários
Muito obrigado pelo seu comentário.
Um abraço, Plinio
A decisão de abandonar a reforma agrária vai custar caro ao povo brasileiro. Parece incrível que, depois de haver dito tudo o que disse ao longo de sua carreira política, Lula se decidisse pelo agronegócio.
Muito obrigado por seus pertinentes comentários.
Plinio
Muito obrigado por seu oportuno comentário. O fetiche da eleição não é muito diferente do fetiche da mercadoria. É o mundo em que vivemos. O mundo do capitalismo. Tudo o que aparenta ser é outra coisa. Mas, nem por isso, devemos deixar de participar no processo eleitoral. O problema é faze-lo corretamente, inclusive denunciando a farsa que está por trás dele.
Um abraço, Plinio
A triste verdade é que Lula optou pelo agronégócio e abandonou a reforma agrária. Uma decisão trágica, pois vai custar muito sacrifício do povo para reverte-la.
Muito obrigado por seus lucidos comentários.
Plinio
Quase não há verba para mais nada. Essa dívida mais do que paga toma mais de 40% do orçamento.Educação não chega a 3%.Segurança? Nem 1%. O custeio do Estado é o único item comparável ao da dívida pública. Sei porque tenho acompanhado pelo portal Jubileu Sul Brasil, mantido pela CNBB, ANDES, UNAFISCO e outras entidades do maior gabarito.
Como garimpar mais recursos para pagar a dívida? Lula acha que é com o tal do agro-negócio... o novo nome da monocultura de exportação, predadora de recursos humanos e naturais, que há séculos constrói a riqueza da elite e destrói as forças do povo. Esta é a realidade, da qual o povo não tem conhecimento.Lula criou uma cortina de fumaça com as denúncias de corrupção.Os ladrões não conseguem tirar, nem 10 milhões por dia dos cofres públicos...segundo um estudo feito na FGV-SP... a falsa dívida pública extrai mais de um bilhão de reais por dia... dava para resolver o problema da reforma agrária, inclusive com a desapropriação - paga - de terras - e o financiamento da produção - para todo o povo que nelas precisa trabalhar.
Monocultura de exportação... reais, os antigos réis... o Brasil não deixou de ser colônia!
Insensível às necessidades do Povo pobre de onde provem, Lula foi capaz de desprezar os camponeses que pedem um pedaço de chão para morarem e plantarem seus alimentos. Conseguiu fazer menos que FHC e acabará tendo o mesmo epitáfio que seu antecessor: "Aqui jaz um traidor da Pátria".
Ora, a massa não encontra tempo para investigar a vida de seus \"algoses\"; também, trabalhando dez, doze e até quinze horas por dia para sobreviver e sustentar os \"barrigudinhos\", como terão tempo para se informarem.
Pois bem, o Governo Lula nada mais é do que \"fantoche\" do interece capitalista como qualquer outro governo eleito \"democraticamente\" em nosso país.
O que vale, neste momento de globalização Destruidora, é mover \"os motores\" do interesse do do grande capital. Afinal, tempo é dinheiro...
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