Correio da Cidadania

Frutos da profecia

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21/01/2008

Os primeiros frutos do jejum de Dom Cappio começam a surgir.

Em São Paulo, dezenas de entidades da sociedade civil patrocinaram um ato público de boas vindas ao bispo. Ele veio a São Paulo oficiar a tradicional "missa dos baianos" - uma iniciativa da Igreja Católica para acolher os imigrantes nordestinos que chegam à capital.

Em Brasília, outra dezena de entidades endereçou ao presidente Lula uma carta em que reiteram, pela enésima vez, a necessidade da atualização dos índices de produtividade da agricultura.

O mesmo está acontecendo em várias outras cidades.

Os "índices de produtividade dos imóveis rurais" são a base do procedimento de desapropriação dos imóveis improdutivos. Os índices atualmente em vigor referem-se à produtividade média das empresas agrícolas brasileiras há trinta anos atrás.

Os estudos técnicos para sua atualização encontram-se na mesa do presidente desde 2003. Obviamente, a atualização desatravancará a reforma agrária, pois permitirá a desapropriação de imóveis que hoje se escudam na desatualização dos índices para evitar a medida expropriatória.

Recente declaração do ministro da Reforma Agrária, Guilherme Cassel, à Folha de S. Paulo, confirmou denúncia que o Correio da Cidadania vem fazendo há bastante tempo: "Lula está esperando um momento oportuno para publicar os novos índices". Como Lula dispõe, sobre sua mesa, de dois estudos com resultados coincidentes - feitos separadamente e sem conhecimento um do outro, por técnicos da Embrapa e da Unicamp - comprova-se, através dessa declaração, insuspeita de ser hostil ao presidente, que o motivo dessa longa espera - cinco anos - não é de ordem técnica.

Não sendo de ordem técnica, o motivo só pode ser político: o veto dos latifundiários e do agronegócio. Que os latifundiários improdutivos chiem, até se compreende. O que não se compreende é o veto do agronegócio, pois como se explica que, alardeando, como alardeia, uma grande eficiência, o agronegócio tema que essa eficiência seja aferida com índices atualizados?

Ao contrário do que diz o presidente, o momento é muito oportuno, pois a reforma agrária está parada.

Urge, portanto, que os movimentos populares do campo aproveitem a solidariedade das entidades civis para voltar à carga e exigir de seu ex-aliado que, pelo menos, cumpra a lei.

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