Um falso dilema
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- 29/01/2008
As eleições municipais estão às portas. Na definição do que está em disputa nesse pleito, grupos e pessoas que, em ocasiões passadas, foram ligadas aos setores populares, colocam essa questão em termos de um dilema: ou votar nos candidatos do Lula ou entregar a presidência, em 2010, ao tucanato.
Esse dilema é falso.
Primeiro, porque, atualmente, as diferenças entre as duas propostas não são substantivas. Independentemente das motivações que cada partido invoca para justificar suas políticas, ambas são rigorosamente neoliberais.
Segundo, porque existem alternativas à política que ambos partidos propõem.
Nosso país já possui um grau de desenvolvimento de suas forças produtivas mais do que suficiente para assegurar um nível de vida digno a todos os seus habitantes. Por isso, é perfeitamente possível colocar a ruptura socialista na agenda política. Contudo, a falta de condições subjetivas bloqueia esse salto.
Que fazer então, diante de uma conjuntura assim?
O baixo nível de consciência política da grande massa coloca a conquista de votos na dependência dos favores e das promessas dos candidatos - habilidades em que os políticos da direita são insuperáveis.
Obrigados a disputar votos nesse contexto primitivo, os candidatos socialistas vêem-se, muitas vezes, tentados a seguir os mesmos caminhos.
Tal postura é auto-destruidora, pois, mesmo em caso de uma hipotética vitória com o uso desse expediente atrasado, de nada adiantará a conquista do mandato. A falta de apoio popular para tomar medidas que contrariem os poderosos obrigará os mandatários socialistas a desistirem delas ou a se submeterem a conciliações e conchavos para conseguir mínimos avanços. Resultado: desmoralizam-se completamente como políticos e até como pessoas.
Recusando a auto-destruição restam ainda dois grandes riscos aos candidatos socialistas: o discurso doutrinário e o protesto furibundo.
Ambas condutas podem tranqüilizar a consciência do candidato, mas não têm o mínimo de eficácia política.
Há um caminho correto. Embora ele não seja nada fácil, precisa ser percorrido, a fim de que a proposta socialista volte a fazer parte da agenda política do país.
Trata-se de montar campanhas eleitorais que permitam demonstrar aos eleitores o modo pelo qual a propaganda dos candidatos da burguesia oculta os problemas reais da cidade e por que o fazem. Esse discurso não só desqualifica as soluções propostas, como aponta para as mudanças estruturais que são necessárias para resolver de fato os problemas que estão dificultando a vida do povo.
Para fazer esse discurso, a primeira condição é conhecer a fundo os problemas da cidade - tarefa complexa e difícil, especialmente para partidos de reduzido número de militantes e de parcos recursos financeiros.
Porém, este é o desafio: antes de montar comitês eleitorais para atrair eleitores, os partidos socialistas precisam montar núcleos de militantes e capacitá-los a detectar os verdadeiros problemas e as verdadeiras soluções para os problemas da população da sua cidade.
Se esse trabalho for bem realizado, ainda que os votos não sejam muitos, haverá avanço político. O Brasil não acaba amanhã.
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Comentários
O grande desafio do nosso discurso nas proximas eleições é fazer essa ligação entre o local (a parcialidade) e o quadro nacional e internacional ( a totalidade que explica o particular).
Muito obrigado pelo comentário
muito obrigado pelo seu comentário. Ando preocupado com a pouca atenção que os socialistas têm dado ao sentido e ao objetivo de sua participação no processo eleitoral. Fico alegre ao encontrar pessoas que partilham essa preocupação.
Um abraço, Plinio
Além do mais será necessário resgatar o debate dos conselhos populares, abandonados desde que Erundina ainda fazia discurso de esquerda.
Penso que o autor foi muito feliz em enumerar os desafios dos socialistas nas eleições. Acho que todo socialista deveria ler este breve texto!
ATE A VITORIA COMPANHEIROS!!!
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