Correio da Cidadania

Estratégia e Tática

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Nas atividades políticas usam-se muitas expressões militares. Há uma clara razão para isto: a política é sempre uma disputa entre forças com visões e interesses contrários a respeito de ações que o Estado deve tomar. Portanto, uma espécie de guerra.

 

Estratégia e tática são os termos preferidos. O primeiro traça um plano de longo prazo; o segundo, o plano da disputa concreta que se tem pela frente.

 

Um dos principais teóricos da estratégia, Liddell Hart, define-a como "a arte de distribuir e aplicar suas forças de modo a atingir os objetivos da sua política".

 

A esquerda brasileira - entendendo-se pela expressão os partidos e movimentos que não abandonaram o socialismo - deixou de agir estrategicamente depois que o PT se mudou com armas e bagagens para o outro lado.

 

A razão disso é que as forças socialistas não conseguem formular objetivos políticos comuns e, sem isto, não há, como prescreve Hart, critérios para distribuir suas forças. Cada uma delas atua segundo planos táticos elaborados às pressas para reagir contra os ataques do adversário. Este, como todo bom boxeador, não "telegrafa" os seus golpes. Prepara-os longamente em segredo e os desfere com força total.

 

Obviamente esta não é a única razão das derrotas que povoam a história dos setores populares nesta última década. Mas, sem dúvida, constitui um dos principais fatores dessa situação.

 

Os esforços de coordenação destinados a superar a falta de articulação entre as ações das várias forças populares têm sido frustrados, em razão de dois fatores principais: as diferenças de posição diante do governo Lula entre os que se sentam para planejar ações comuns; e a superestimação das próprias forças.

 

O primeiro fator é bastante complexo e diz respeito às relações entre as direções e suas bases - um assunto que ainda não foi devidamente analisado, mas que não é o objeto desta reflexão. Esta se circunscreve ao segundo fator e diz respeito à agenda de lutas.

 

Todas as entidades que se reúnem para planejar a resistência à contra-revolução da direita vêm para a reunião com dois objetivos: verificar se os eventos propostos pelos demais participantes não se chocam com seu calendário anual de atividades; e conseguir o apoio de todos à ação principal do seu calendário.

 

Resultado: a fim de manter a "unidade", o calendário de lutas populares inclui mais atividades do que as atuais forças da esquerda estão preparadas para realizar eficazmente. Cumpre-se o calendário, mas as ações não têm impacto.

 

Ora, isto constitui a negação da estratégia, cujo principal objetivo é dispor as forças e aplicá-las de modo a provocar deslocamentos prejudiciais ao adversário.

 

Enquanto os dois principais obstáculos à formulação estratégica não forem removidos, será impossível acumular forças para reverter a conjuntura adversa.

 

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