Correio da Cidadania

Por que não funcionam os núcleos de base

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Os políticos falam todo o tempo de consulta às suas bases. Mas a realidade é que núcleos de base não funcionam em nenhum dos nossos partidos políticos, inclusive os de esquerda.

 

A experiência do PT, nos anos oitenta, teve vida brevíssima e sofreu o mesmo destino dos soviets na Rússia soviética.

 

Há uma explicação para isto.

 

O sujeito leva um tempão para aprender a lidar com o Windows. Se quando ele consegue esse feito, alguém lhe sugere mudar para o Linux, ele reage negativamente.

 

Este primeiro obstáculo para o funcionamento do núcleo de base é do mesmo tipo que a troca de programa de computador: o militante leva um bom tempo para inteirar-se a respeito da revolução socialista. No partido, ele aprende que esta só acontecerá quando as massas se levantarem, mas que as massas são inconscientes e desorganizadas, movimentando-se em função do estímulo de suas vanguardas. Aprende também que a vanguarda da massa não pode gerar uma consciência política se não for estimulada por uma força externa, surgida entre os dissidentes da burguesia agrupados em um partido: a vanguarda da vanguarda.

 

O partido tem que funcionar como um exército monolítico, sob o comando de uma direção eleita pelos militantes, mas, uma vez empossada, detentora do poder de dirigir as ações, na base do "centralismo democrático".

 

Ora, o primeiro requisito para que os núcleos de base funcionem é a mudança radical desse conceito de direção do partido revolucionário. Os núcleos só poderão ser dinâmicos e formadores de quadros socialistas se forem envolvidos permanentemente no processo decisório da agremiação.

 

Não basta eleger delegados para defender teses e candidaturas em plenárias, conferências e convenções partidárias, que se reúnem de tempos em tempos. A linha política decidida nesses conclaves é executada por meio de uma miríade de decisões particulares, o que abre caminho para distorção da vontade expressa das bases e para a usurpação do poder da base por oligarquias burocráticas. É indispensável, portanto, desenvolver formas de participação mais freqüentes de todos os militantes no processo decisório, se se quiser, de fato, que os núcleos de base funcionem.

 

É possível fazer funcionar um sistema em que, antes de tomar uma decisão, a direção partidária consulte todos os seus militantes?

 

Não há condições de responder a essa pergunta sem fazer experiências.

 

Elas se chocam com o pensamento conservador: "não há necessidade de andar procurando novidades, Lenine já disse tudo".

 

Este não é, contudo, o único obstáculo à mudança do conceito de direção nos partidos socialistas.

 

À resistência (aberta ou tácita) da "nomenklatura" soma-se a resistência da própria base, integrada que está por pessoas hereditariamente excluídas da participação em uma atividade que a classe dominante reservou para si. Pessoas dominadas por gerações e gerações tendem a introjetar a subalternidade da classe social à qual pertencem: simplesmente não acreditam que sejam capazes de entender as complexas questões do governo. Para elas, isto é assunto para doutores, advogados, engenheiros, pessoas "estudadas".

 

Mudar hábitos culturais é processo lento e trabalhoso. Não se completa se não for iniciado. Esta é a grande responsabilidade das lideranças que teimam em reviver o socialismo no século XXI. As derrotas que vêm sofrendo deveriam levá-los a, pelo menos, fazer algumas experiências.

 

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Comentários   

0 #4 CoragemJosé Damião Vasconcelos 28-03-2008 15:20
O companheiro Plínio sempre colocando questões importantes para a esquerda na ordem do dia. Como foi citado pelo autor tivemos uma breve experiêcia de núcleo de base nos anos 80. Vale, ainda, reeditar a experiência? Não temos mais as CEBs como uma comunidade forte; os sindicatos (na sua maioria) cada vez mais sem horizontes; Os intelectuais falando para eles mesmos.
Assim como o PT acabou (enquanto Partido que ajudaria na organização da classe trabalhadora para a Revolução), os núcleo de bases precisam buscar novas formas de organicidades, pois a experiência dos anos 80 foi de enorme validade à época, mas, agora vivemos uma outra conjuntura, ou seja, precisamos ter coragem de criar novos espaços para a classe trabalhadora.
Parabéns Plínio!
Viva o Socialismo!
José Damião Vasconcelos
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0 #3 juntaremos nossas bandeiras de lutaRonaldo Feliciano dos Santos 27-03-2008 11:46
Farei minhas experiências, aqui neste laboratório que é minha comunidade, mesmo diante desta fragmentação dos movimentos sociais.
Viva a revolução.
Pedro Canário-ES.
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0 #2 Max Gimenes 25-03-2008 13:17
De fato, fazer um núcleo de base funcionar é um desafio difícil e necessário. Espero que o PSOL consiga enfrentar essa questão de modo transparente, deixando de ser uma simples "frente de correntes", como muitas vezes é caracterizado. A idéia de utilizar a internet como meio de democratização das decisões partidárias pode trazer excelentes resultados, e o companheiro Plínio está de parabéns pela iniciativa. E eu tenho o orgulho de participar de um núcleo que respondeu prontamente a esse chamado do bravo camarada.
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0 #1 Paciência é das características mais impRonaldo Oliveira 24-03-2008 11:32
Ousar.
Pois é. Se não houver a ousadia para começar e a paciência pedagógica para valorizar o processo, o trabalho de base nunca será fato.
O PSOL tem a possibilidade de mostrar que é viável.
Axé
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