Correio da Cidadania

Maracutáia da grossa

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A notícia é minúscula, perdida num pé de página, nas folhas do ‘meio pra não se ler’. Ela informa que Lula editou Medida Provisória ampliando de 500 a 1.500 hectares a área dos imóveis que podem ser regularizados sem licitação na Amazônia.

 

A Constituição de 88 concedeu esse direito aos pequenos posseiros que ocupavam 50 hectares. Daí passou para 100, depois para 500 e agora a 1500, o que significa que já não se está mais falando de pequenos posseiros, mas de empresas agrícolas.

 

A nova MP vem confirmar os piores vaticínios a respeito da entrega da terra brasileira ao agronegócio. Ela legitima uma prática criminosa, mas que tem ocorrido em todas as fronteiras de expansão da agricultura: o "grilo" de terras.

 

O "grilo" é o "destacamento precursor" (para usar uma linguagem militar) do "honrado" agronegócio. O grileiro vem na frente e faz o serviço sujo: mediante ameaça e violência física contra pequenos posseiros, protegido pela corrupção das autoridades administrativas e do judiciário, torna legítimo o imóvel formado criminosamente. Em seguida, o "honrado" agronegócio adquire o imóvel legitimado e expulsa das terras qualquer remanescente da refrega inicial com o anteparo do juiz e do policial.

 

O Brasil foi construído assim e até hoje não se conseguiu força suficiente para civilizar a ocupação do seu território.

 

Além do aspecto social, a MP abre a porta para outra agressão à sociedade brasileira, pois não há a menor dúvida de que ela ensejará a aceleração do processo de destruição da floresta amazônica.

 

A terceira agressão dirige-se contra a lei.

 

Primeiramente, a Medida editada não cumpre o requisito da urgência justificadora da dispensa da tramitação normal dos projetos do Executivo. Que prejuízo poderiam sofrer os legítimos ocupantes de terras na Amazônia se, em vez dela, o governo enviasse um projeto de lei normal ao Congresso?

 

Além disso, como é possível usar o instrumento da Medida Provisória se, uma vez derrubada a floresta, não há como restabelecer a situação anterior? A revogação da Medida obviamente não reporá as árvores cortadas durante sua vigência, pois ela entra em execução imediatamente. Ora, entre a data da edição da MP agora editada e sua aprovação ou desaprovação pelo Congresso medeia um tempo mais do que suficiente para que as motos-serras anulem a condição imposta pela lei. Sem possibilidade de reversão de seus efeitos, o governante não pode usar esse instituto.

 

A maracutáia precisa ser denunciada e combatida com o maior vigor. Cabe aos partidos e organizações do povo contestá-la no Supremo Tribunal Federal.

 

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Comentários   

0 #4 Assunto a ser discutido na III ConferêncANTONIO MILITINO PEDROSO JUNIO 31-03-2008 13:51
Morei na amazônia, em projeto de colonização, onde fui posseiro e tinha um lote de 400 hectares. Destes, só consegui ocupar na época, pouco mais de 20 ha, onde produzia muita fruta tendo formado também um pequeno pasto.
Meus vizinhos, tinham áreas de 1500, 5000, 15.000 ha. totalmente desmatados e formados em pastagens.
Essa medida provisória é mesmo uma maracutaia das grandes. Sem reforma agrária, dando florestas para iniciativa privada, sem regularizar as terras índígenas, pelo contrário, incentivando a mineração nestas áreas (em outra MP), esse medida vai ser um desastre ambiental.
Promovam maior discussão para que este assunto seja levado para a III Conferência Nacional de Meio Ambiente.
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0 #3 Maracutaia da grossa.Hélio Querino Jost 31-03-2008 13:46
É muito triste ver que Lula sucumbiu aos defensores do "agronegócio" que só beneficia os estrangeiros e meia dúzia de fazendeiros. Mas o pior: tem madeireiros pro trás desta medida. Claro, a madeira derrubada vai pras serrarias. O Congresso deve sustar essa medida através de Decreto Legislativo. Urgente. -Cadê a OAB e outras entidades? As entidade de defesa do meio ambiente devem entrar com Ação Cívil Pública com pedido de SUTAÇÃO LIMINAR da medida. Se precisarem, eu redijo a petição. At. Hélio Querino Jost.
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0 #2 maracutaiaNeli Aparecida de Mello 29-03-2008 13:05
Caros,

Infelizmente mais uma prova da opçao de nosso presidente! Tenho estudado o problema das terras publicas no Brasil, em especial na Amazonia que é meu universo de pesquisa.
Durante anos pensei que a existencia de terras publicas é extremamente estrategica para definir um modelo de desenvolvimento no qual se objetivasse reduzir as profundas desigualdades existentes no pais. Estrategica para poder conservar a Amazonia, nao a destruindo da maneira como temos visto e garantir acesso aqueles que la vivem, marginalmente, ao crescimento do pais.
Parece nao haver mais duvidas a respeito de qual o lado que o presidente escolheu. Poderiamos realmente argumentar: "nunca neste pais ... se viu tamanha aviltagem"...
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0 #1 maracutaiaMaria Luiza Martins 29-03-2008 11:29
Jáfiz comentário sobre isso exatamente, no "ambientebrasil" e ninguém respondeu. É exatamente assim, o presidente Lula usa a MP pra não dar tempo de ser debatdo pelos deputados, pois a MP tem efeito imediato à sua publicação.
Assim o Presidente Lula vai acabar c/ a Floresta Amazônica. Temo que ele faça a Reforma Agrária alí, exatamente na Amazônia. Um horror.
Que podemos fazer, se nem o Chináglia consegue impedir?
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