Correio da Cidadania

Guerra ao pobre

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Oitenta por cento da população norte-americana vive bem. Essa maioria, afirma John Galbraith, em seu livro, "A cultura dos que vivem bem", oprime os vinte por cento de brancos, negros, índios e latinos pobres daquele país. Não por acaso, os Estados Unidos lideram as estatísticas relativas à população carcerária.

 

No Brasil, a opressão é a mesma, com duas diferenças: a proporção dos pobres é bem maior e a privação que sofrem os pobres, muito maior.

 

Rio de Janeiro e São Paulo travam neste momento uma a disputa para saber qual desses estados é mais opressor. O Rio está vencendo nos quesitos: milícias armadas e carros de combate.

 

As chacinas de São Paulo ainda são feitas por "pés de pato" ou pistoleiros a serviço dos narcotraficantes; no Rio, a fase artesanal foi superada. Agora quem oprime as populações faveladas são as milícias que funcionam assim: a Polícia do governador Sergio Cabral faz uma rasia numa favela e afugenta os "bandidos"; logo em seguida, uma milícia privada, ocupa o local e passa a cobrar taxa dos moradores e comerciantes para manter "limpo o território ‘liberado’".

 

No quesito carros de combate, São Paulo também está atrás. O Rio importou o modelo que os "afrikaners" usavam para invadir Soweto, nos tempos do "apartheid". Chama-se "caveirão" e conta com dois avanços tecnológicos importantes: a torreta e o alto-falante. A torreta é alta e giratória, proporcionando assim uma excelente visão ao atirador. O alto-falante é muito poderoso e possibilita que mensagens do tipo "fulano... vim buscar a sua alma!" sejam ouvidas por toda a favela.

 

A maioria opressora está ganhando a guerra, em termos de jovens cuja "causa mortis" é causada por assassinato. Em Copacabana e Leme, bairros habitados majoritariamente por pessoas "bem de vida", a porcentagem é de 17/100.000; nas favelas de Rocha Miranda e Acari, a porcentagem sobe para 617/100.000. Para cada jovem assassinado em Copacabana, morrem 36 em Acari.

 

A esquerda tem fugido desse assunto e, quando toca nele, trata-o como um problema de má gestão administrativa. Não é somente isto. Para abordar seriamente o problema, é preciso considerá-lo no seu foro próprio: na cultura dos bem de vida, o pobre é o seu inimigo interno. Inimigo é aquele que quer nos destruir e que, portanto, precisa ser destruído. Nega-se a humanidade do pobre, a fim de justificar moralmente a guerra que se trava contra ele nas favelas e periferias, seja no apoio às medidas que facultam às polícias agir com maior truculência, seja pela audiência enorme dos programas de televisão que enaltecem a violência policial e ridicularizam os que a ela se opõem.

 

A esquerda precisa colocar-se mais claramente do lado dos pobres nesta guerra e formular uma estratégia política para encará-la. Nesta eleição, nossos candidatos precisam debater e propor soluções para a questão da segurança. Evidentemente, enquanto a sociedade for capitalista, não haverá solução definitiva. Mas vidas serão salvas se, mesmo consciente dessa limitação, as administrações socialistas executarem uma política de segurança que respeite os direitos humanos.

 

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Comentários   

0 #3 Daniel 10-05-2008 20:52
"A maioria das favelas do Rio não é dominada por bandidos entre aspas - como sugere o texto. Mas sim por organizações criminosas perigosas e muito bem armadas."
Verdade. E a maior delas é a PM.
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0 #2 \"Guerra ao Pobre\"tiago thorlby 06-05-2008 12:36
"O povo brasileiro é um povo que luta pelo direito de ter direito." (Madre Cristina)
Até quando ser "pobre" será sinônimo com ser "povo" neste país abençoado por Deus?
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0 #1 Porque a \"esquerda\"...Jose Fonseca 06-05-2008 12:35
... nao consegue ter uma politica convincente de segurança? Esse texto é típico. Cheira (o texto) a ongueiro de gabinete. A maioria das favelas do Rio não é dominada por bandidos entre aspas - como sugere o texto. Mas sim por organizações criminosas perigosas e muito bem armadas. Esses indivíduos tem um arsenal de armas de grosso calibre - fuzis automáticos, granadas - que não hesitam em usar contra as forças policiais. O "caveirão" é uma tentativa desses policiais se protegerem do fogo inimigo. É fácil para burocratas como os senhores escreverem artigos de suas salas refrigeradas, gostaria de ve-los no lugar de nossos soldados da PM subindo as vielas de um morro sob fogo cerrado. Talvez dessem mais valor ao apoio tático de um caveirão.
Ou quem sabe preferissem fazer como os governos do rio fizeram durante anos: acordo tácito com o crime organizado, aceitando o controle dessas organizações sobre as comunidades pobres do Rio. Foi assim que chegamos onde chegamos. Tenham um pouco de bom senso cavalheiros e evitem de escrever tolices.
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