O desafio do exemplo
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- Andrea
- 12/05/2008
O capitalismo é um sistema de produção de mercadorias. Comparada com os milhares de anos em que a economia foi organizada para produção de bens de uso, a produção de mercadorias é bem recente (800 anos).
O socialismo propõe que a humanidade volte a organizar-se para a produção de bens de uso. Para a imensa maioria das pessoas, é difícil imaginar como isso se fará em sociedades complexas, cujas necessidades (reais ou artificialmente criadas) aumentaram enormemente e nas quais o consumo desmedido tornou-se o objetivo e o sentido da vida humana.
Regrediremos à época das comunidades tribais?
Os socialistas respondem: "Pelo contrário, nossa proposta é a construção de uma sociedade mundial, na qual a economia seja planejada. Por meio do planejamento será possível levantar as necessidades, hierarquizá-las, priorizá-las e distribuir a produção segundo critérios de equidade".
A fundamentação técnica desse discurso não apresenta maiores dificuldades, ainda mais na era da computação e da internet. Ora, os exemplos concretos não corroboram o discurso socialista. As experiências socialistas mais relevantes de economia planejada centralmente - Rússia, China, Cuba e países do leste europeu - apresentaram resultados ambivalentes, pois, apesar dos aspectos muito positivos, tanto no plano econômico quanto no plano da democracia social, o preço pago foi superior ao que a maioria das pessoas está disposta a pagar.
A crítica maior não diz respeito principalmente às restrições ao consumo, que o planejamento impôs à população nos países socialistas, mas sim à forma pela qual o Estado socialista decidiu o que deveria ser produzido e como a produção deveria ser distribuída. O que a maioria teme - e com razão - é o arbítrio do Estado no planejamento econômico e, portanto, a interferência exagerada na sua liberdade de trabalhar, mover-se e decidir sobre sua vida.
Isto nos permite tratar o problema em um plano mais geral e mais profundo: como devem ser tomadas as decisões no regime socialista?
Se os socialistas que ainda alimentam a esperança de reconstruir o socialismo quiserem ter êxito, precisam somar ao seu discurso exemplos de processos decisórios democráticos. Caso contrário, enredar-se-ão num círculo vicioso inextricável: a idéia não avança por falta de exemplos; como não avança a idéia, não pode haver exemplos.
A superação desse círculo vicioso depende apenas dos socialistas. Nada os impede de dar, aqui e agora, o exemplo que falta para convencer as pessoas de que o socialismo pode ser democrático. Basta que organizem, no âmbito interno de seus partidos, processos transparentes de decisão a respeito das posições a adotar nas questões constantes da pauta política do país. Nesse plano, militantes e dirigentes são autônomos e não dependem de ninguém senão de si próprios para organizar processos decisórios baseados na consulta prévia a cada um dos membros do partido. Portanto, processos que possibilitem a participação democrática de todos, sem exceção, tanto no debate quanto na votação para estabelecer a vontade da maioria.
Nunca é demais lembrar que o partido revolucionário deve prefigurar, na sua vida interna, as grandes linhas da organização social que pretende instaurar se o povo vier a lhe dar o poder. O exemplo da democracia interna vale mais do que mil discursos.
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Comentários
O extremo oposto, quando, em pleno regime capitalista, dirigentes eleitos com o voto da classe operária e dos intelectuais (que contribuem, sim, à formaação da opinião, se não, não teriam cortejados, por exemplo, à época da formação do PT), faz do partida apenas uma esteira rolante do poder, desonra os seus compromissos e constroem uma contrafação do governo que prometeram, é, por oposição, condenável por todas as formas.
A questão que o purismo democrático-burguês do autor deixa de ferir, entretanto, é como seria possível, nos dias de hoje, edificar o poder socialista sob tais condições restritivas (puramente democrático-burguesas), ante o novo fenômeno disfarçadamente fascista, de controle social da opinião pública, por meio dos grandes monopólios e oligopólios midiáticos, mais do que predominantes, absolutamente hegemônicos.
O artigo toca em pontos cruciais que, hoje, creio deixam muita gente distante dos ideais socialistas. Na citação diz implicitamente diz que o 'Estado' vai hierarquizar, escolher as necessidades e planejar a produção e distribuição segundo critérios de equidade...É aí que a porca torce o rabo. Como se o Estado não fosse formado por homens e partidos, e no socialista, por iluminados que se arrogam o direito de decidir o que é bom para os outros!! Os exemplos que temos e tivemos têm sido em grande parte desastrosos. Realmente, estamos como socialistas longe de equacionar a questão da democracia e equidade sob o socialismo. E pelos exemplos partidários (PT, em particular; quanta decepção!!).
Quanto ao comentário de Grisa, fica a dúvida: o que ele pensa em termos de democracia (já descontrói o conceito com chavões surrados do esquerdismo e na coloca no lugar)? Ou será, que democrácia será o que determinar os iluminados que chegarem ao poder?
Grisa
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