Correio da Cidadania

Igualdade e democracia

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O último editorial provocou reações iradas em alguns leitores. Viram, no texto, uma concessão à burguesia e ao pensamento idealista, pois aí se fala em caminho democrático para o socialismo e na democracia como um valor político.

 

O equívoco dessa crítica é evidente e nem demandaria comentário caso não se tratasse de um erro relativamente expandido na esquerda brasileira.

 

Como todo conceito, a democracia é um produto da história e, portanto, um valor cujo conteúdo varia conforme contextos sociais concretos. O que há de permanente na democracia, em todas as formas que adotou desde sua primeira experiência ateniense, é o valor da igualdade.

 

Sob registros distintos, este valor esteve sempre associado à consigna democrática - democracia é uma forma de governo de associações entre pessoas iguais.

 

É certo que o modo de produção prevalecente nas diversas formações sociais predeterminou o conteúdo do conceito de igualdade. Por isso, constatamos, através da história, regimes políticos democráticos, nos quais o valor igualdade excluía plebeus, escravos, servos da gleba, mulheres, negros, estrangeiros, pobres - contraditórias visões de igualdade que estiveram presentes em sociedades que adotaram formas democráticas de governo, mas dominadas por elites constituídas entre pessoas iguais.

 

Segue-se, portanto, que a democracia é uma das formas de expressão prática da igualdade dos membros de uma confraria.

 

Ora, o que diferencia o socialismo das demais propostas de organização da sociedade é que, no socialismo, todas as pessoas, sem qualquer distinção, fazem parte da confraria humana - são iguais e devem participar igualmente no governo dela. Por isso, só no regime socialista se encontrará a síntese da contradição entre forma democrática de governo e igualdade dos governados - uma contradição que acompanhou todo o desenvolvimento da história até os nossos dias.

 

A igualdade, a liberdade e o direito de participação política de todos os seres humanos, sem distinções ou hierarquias sociais, constituem a essência do humanismo socialista e é nesse terreno que o socialismo, enquanto prática revolucionária, dialoga com os valores éticos e religiosos dos outros humanismos que fazem parte da história.

 

O editorial criticado não faz mais do que reivindicar a plena harmonia entre a igualdade de todos os militantes dos partidos de esquerda com formas democráticas de governo dessas agremiações, a fim de demonstrar praticamente, a toda a sociedade brasileira, a possibilidade da síntese entre a igualdade e a democracia.

 

Para fazer o socialismo retornar à agenda política do país, os socialistas não podem vetar o emprego de palavras sem examinar atentamente o sentido delas no texto.

 

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Comentários   

0 #1 Consciência de classe à autonomia de claRunildo Pinto 20-05-2008 13:47
Devemos diferenciar idéia dos interesses dos Partidos e a idéia de Marx do desenvolvimento da consciência de Classe. Que dinâmica social determina a constituição da vanguarda. É o partido ou do partido que se intitula vanguarda por definir-se de classe e organiza nas situação dada pela conjuntura a organização de classe? Ou outros movimentos sociais a parte dos partidos determinam unidade necessária na história ambientada por uma dinâmica própria dessa organização evitando auto-imagem revolucionária apropriada pelos partidos a revelia da consciência permitida na classe, a menos que as variantes políticas incluam os partidos não pela sua ingerência burocrática de constituição mas pela inserção exigida pelos valores das mediações. Merleau-Ponty enfatiza a diferença entre Marx e os PCs: enquanto o primeiro exigia uma práxis
tecida nas mediações entre a subjetividade proletária e a objetividade da condições materiais históricas, os segundos praticam, a partir do bolchevismo, uma ação identificadora entre ambas, sem mediações. Assim se a democracia permite contrariar para criar e garantir direitos, assim para que se efetue essa organização a classe deve ter a consciência de destruir a democracia burguesa, caso contrario é reformismo puro e a revolução determinará a dinâmica de participação efetiva para atingir toda uma nação e dar consistência e continuidade, nao permitindo que se crie uma elite dirigente que substitua esta participação de geração à geração,de autonomia na sociedade sem reivindicar o ideal, a perfeição ao que humanamente possível.
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