Correio da Cidadania

Que nota dar aos que nos dão nota?

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Uma das novidades do neoliberalismo é a importância adquirida pelas empresas certificadoras da qualidade de produtos, dos processos produtivos e da solidez financeira dos países que dependem de financiamento internacional.

 

Essa certificação constitui hoje um dos instrumentos do processo de divisão do trabalho entre o centro do sistema capitalista e suas economias periféricas. Por meio de "notas", atribuídas tanto a empresas como a economias nacionais, condiciona-se o fluxo de investimentos externos. Desse modo, as economias centrais e os grandes capitais especializam as economias dependentes segundo seus interesses.

 

Acreditar na objetividade dessas "notas" é o cúmulo da ingenuidade. Isto porque, como já dissemos, todas elas têm endereço certo: visam pressionar empresas e governos a ajustar-se às regras formuladas pelos organismos internacionais que cumprem a função de monitorar, no interesse dos países desenvolvidos, o processo de divisão internacional do trabalho: FMI, Banco Mundial, OMC, FAO e vários outros.

 

Todas essas regras atendem a interesses específicos. Por exemplo, como a poluição causada pelos automóveis está se tornando insustentável e pode ameaçar toda a indústria automobilística - o que, obviamente, não interessa às grandes potências cuja economia repousa no dinamismo desse setor - é preciso aumentar a produção mundial de etanol para misturar na gasolina e reduzir as emissões de gás carbônico dos veículos. Em conseqüência, os organismos internacionais passaram a adotar um conjunto de estímulos e de sanções, a fim de forçar os países subdesenvolvidos do hemisfério sul a adotar políticas de fomento à produção de etanol.

 

As empresas avaliadoras completam esse processo de pressão com as suas famosas "notas", sem as quais os bancos internacionais não emprestam dinheiro e as grandes multinacionais não fazem investimentos nos países pobres.

 

O mais incrível nisso tudo é que as firmas e países que vão ser avaliados pagam às firmas avaliadoras pelo privilégio da avaliação. Ademais, para que os avaliadores se dignem a dar notas, o cliente precisa fornecer-lhe toda a informação solicitada, revogando assim a velha máxima capitalista de que "o segredo é a alma do negócio".

 

Acreditar que essa informação não é vendida a firmas interessadas, e mesmo a competidores do informante, é ingenuidade ao quadrado.

 

Outra faceta do trabalho das empresas avaliadoras é a chantagem: seus funcionários, regiamente pagos e principescamente hospedados nos hotéis mais caros, não fazem a menor cerimônia para ameaçar seus "clientes" com nota baixa caso deixem de atender às suas recomendações. Estas têm duas dimensões: as específicas, que dizem respeito às condutas que interessam às grandes empresas com as quais o "cliente" pretende negociar; as genéricas, que consistem em vetar tudo o que fortalece o Estado, sob a ameaça de "nota baixa".

 

Diz o adágio popular que "o homem só monta no cavalo porque este aceita a sela". Isto só acontece porque nossos governantes aceitam essa humilhação. Não estaria na hora de nós, brasileiros, darmos "nota" às empresas que nos dão nota?

 

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