Socialismo do Século XXI
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- Andrea
- 18/07/2008
Os socialistas não encontram dificuldades para criticar o capitalismo. Por mais acerbas que sejam, as críticas são bem recebidas pelas platéias populares e estudantis. O problema surge quando alguém pergunta: que solução tem o socialismo para o problema da liberdade?
Nessa hora, de nada adianta fazer a surrada distinção entre a liberdade real que as pessoas desfrutam nos regimes socialistas e a liberdade formal garantida nas constituições burguesas. Essa resposta não cola porque é uma forma de ladear a dificuldade.
Uma coisa é poder reclamar da atuação do administrador do bairro, da qualidade da comida da cantina, dos critérios do chefe da seção da fábrica; outra, muito diferente, é reunir pessoas na praça pública para protestar contra as políticas públicas do governo ou escrever no jornal contra essas políticas. Mas este é o tipo de liberdade que todos querem e que as várias experiências de concretização da proposta socialista não conseguiram oferecer.
O homem é um animal político e quer participar das decisões que afetam a sua vida na polis, de modo que, enquanto os socialistas não forem capazes de dar uma resposta concreta à questão da liberdade política, não será possível fazer o socialismo avançar.
Para enfrentar essa questão, é preciso agir simultaneamente em dois planos:
- no plano do pensamento, é preciso passar a limpo as experiências socialistas, sem preocupação apologética e sem capitular diante da crítica desonesta dos seus adversários;
- no plano da prática política, é preciso criar organizações socialistas - partidos, sindicatos, movimentos populares - que desenvolvam em seu interior uma cultura democrática de maneira a sancionar eticamente qualquer limitação à liberdade.
Organizações que funcionem dessa maneira, pré-figurando o socialismo do século XXI, encontrarão facilmente as modalidades jurídicas de assegurar plena liberdade das pessoas na ordem socialista, seja qual for o contexto político do momento da ruptura do regime burguês.
E o exemplo desse tipo de funcionamento, durante a longa fase de reconstrução da proposta socialista, valerá mais do que cem discursos para convencer as pessoas de que só no socialismo se pode falar verdadeiramente em liberdade, porque só o socialismo satisfaz a condição da igualdade, sem a qual as liberdades formais da ordem burguesa não passam de ficção.
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Comentários
Faria um reparo apenas quanto à natureza das organizações a serem criadas, concordando com o caráter democrático que deve norteá-las. Ao invés de movimentos populares, eu preferiria a categoria movimentos sociais.
Principalmente em se tratando de pensar o séc. XXI, e desde já, tem se revestido de muita ambiguidade esse conceito de \'povo\', concebido como um bloco monolítico, massa amorfa, categoria ideal e abstrata.
De um lado manipulado pelos políticos reacionários e populistas, de outro idealizado pela esquerda (muitas vezes também com o propósito da manobra política), provávelmente inspirada no conceito de luta de classes de Marx, que o absorve mecânica e acríticamente. E que deságua na idéia da ditadura do proletariado, talvez a raiz do viés autoritário das experiências socialistas.
Há que se levar em conta, por exemplo, que o proletariado, própriamente dito, é hoje amplamente - e cada vez mais - minoritário na sociedade, ao contrário da época de Marx. E as contradições internas das chamadas classes populares, suas lutas intra-classes, etc. Não se pode esquecer que Hitler foi eleito, e eventuais maiorias não são, necessáriamente, o critério da verdade. São majoritárias, mas não se conduzem, necessáriamente, por um projeto mais avançado de sociedade, nos moldes do socialismo. Cada vez mais é preciso pensar no indivíduo consciente, na condição de cidadão e ser pensante, conectado ao Coletivo, dotado de senso crítico, capacidade de formular propostas, e disposição para a mudança, como o Sujeito capaz de ser o agente da transformação social, independentemente da sua origem de classe.
Que bom que nem todo mundo se resignou. Que maravilha perceber que ainda se têm esperança em algum lugar. Obrigada. Tenho 45 anos.
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