Correio da Cidadania

Socialismo do Século XXI

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Os socialistas não encontram dificuldades para criticar o capitalismo. Por mais acerbas que sejam, as críticas são bem recebidas pelas platéias populares e estudantis. O problema surge quando alguém pergunta: que solução tem o socialismo para o problema da liberdade?

 

Nessa hora, de nada adianta fazer a surrada distinção entre a liberdade real que as pessoas desfrutam nos regimes socialistas e a liberdade formal garantida nas constituições burguesas. Essa resposta não cola porque é uma forma de ladear a dificuldade.

 

Uma coisa é poder reclamar da atuação do administrador do bairro, da qualidade da comida da cantina, dos critérios do chefe da seção da fábrica; outra, muito diferente, é reunir pessoas na praça pública para protestar contra as políticas públicas do governo ou escrever no jornal contra essas políticas. Mas este é o tipo de liberdade que todos querem e que as várias experiências de concretização da proposta socialista não conseguiram oferecer.

 

O homem é um animal político e quer participar das decisões que afetam a sua vida na polis, de modo que, enquanto os socialistas não forem capazes de dar uma resposta concreta à questão da liberdade política, não será possível fazer o socialismo avançar.

 

Para enfrentar essa questão, é preciso agir simultaneamente em dois planos:

 

- no plano do pensamento, é preciso passar a limpo as experiências socialistas, sem preocupação apologética e sem capitular diante da crítica desonesta dos seus adversários;

 

- no plano da prática política, é preciso criar organizações socialistas - partidos, sindicatos, movimentos populares - que desenvolvam em seu interior uma cultura democrática de maneira a sancionar eticamente qualquer limitação à liberdade.

 

Organizações que funcionem dessa maneira, pré-figurando o socialismo do século XXI, encontrarão facilmente as modalidades jurídicas de assegurar plena liberdade das pessoas na ordem socialista, seja qual for o contexto político do momento da ruptura do regime burguês.

 

E o exemplo desse tipo de funcionamento, durante a longa fase de reconstrução da proposta socialista, valerá mais do que cem discursos para convencer as pessoas de que só no socialismo se pode falar verdadeiramente em liberdade, porque só o socialismo satisfaz a condição da igualdade, sem a qual as liberdades formais da ordem burguesa não passam de ficção.

 

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Comentários   

0 #4 O sociliasmo do XXI: a questão do poderCesar Rocha 21-07-2008 06:04
Interessantes os aportes deste editorial. Todavia, na minha opinião faltou abordar a questão fundante num sociedade socialista: a questão do exercício do poder político, não "burocrático". Dada a complexidade das sociedades humanas contemporâneas e a presença do Estado, creio que a forma de efetivação do poder é o "diferencial". Se se aceita (constata?) o homem como "animal político"; o mesmo não constata (aceia)em relação ao "ethos" social. O sistema capitalista "embaralha" tudo na vida das pessoas... O desafio ôntico, penso eu, é como num "projeto socialista" e também numa socieda socialista "instaurar e garantir" a distinção e interação das "esferas existênciais" (1) ser pessoal e (2) ser social. Nessa dialética se efetiva questão da liberdade política. Ao que parece a tradição da Política (de origem grega) no Ocidente é insuficiente enquanto fundamentação de "ordem socialista" em todas as dimensões da vida humana. Daí a urgência de uma "nova matriz" cultural para o processo civilizatótio socialista que supere o egoísmo aparentemente arraigado nas pessoas (ou nos cidadãos). A propósito convém abordar a questão: o egoísmo é inerente (ontológico) à natureza humana? Ou é o “ethos solidário”, que ao longo da história humana tenha sido corrompido. Aqui é interessante se ater as novas abordagens teológicas (Teologia da Libertação) sobre o “pecado original” enquanto o “ponto inicial’ da corrosão do caráter humano. Por ora, continuemos com a convicção que o horizonte socialista econômico(com liberdade política e cultural) seja possível historicmante.
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0 #3 Socialismo é Liberdade ou Não é SocialisArmando 19-07-2008 13:50
Bastante objetivo, simples, oportuno e pertinente o conteúdo da matéria.
Faria um reparo apenas quanto à natureza das organizações a serem criadas, concordando com o caráter democrático que deve norteá-las. Ao invés de movimentos populares, eu preferiria a categoria movimentos sociais.
Principalmente em se tratando de pensar o séc. XXI, e desde já, tem se revestido de muita ambiguidade esse conceito de \'povo\', concebido como um bloco monolítico, massa amorfa, categoria ideal e abstrata.
De um lado manipulado pelos políticos reacionários e populistas, de outro idealizado pela esquerda (muitas vezes também com o propósito da manobra política), provávelmente inspirada no conceito de luta de classes de Marx, que o absorve mecânica e acríticamente. E que deságua na idéia da ditadura do proletariado, talvez a raiz do viés autoritário das experiências socialistas.
Há que se levar em conta, por exemplo, que o proletariado, própriamente dito, é hoje amplamente - e cada vez mais - minoritário na sociedade, ao contrário da época de Marx. E as contradições internas das chamadas classes populares, suas lutas intra-classes, etc. Não se pode esquecer que Hitler foi eleito, e eventuais maiorias não são, necessáriamente, o critério da verdade. São majoritárias, mas não se conduzem, necessáriamente, por um projeto mais avançado de sociedade, nos moldes do socialismo. Cada vez mais é preciso pensar no indivíduo consciente, na condição de cidadão e ser pensante, conectado ao Coletivo, dotado de senso crítico, capacidade de formular propostas, e disposição para a mudança, como o Sujeito capaz de ser o agente da transformação social, independentemente da sua origem de classe.
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0 #2 guimarães sv 19-07-2008 07:22
Caro redator, Primo, uma crítica pela falta de indicação do autor do texto. Secundo, concordo com a linha geral que o autor imprimiu ao texto. O socialismo além de abandonar os discursos apologéticos e ideologizados, carece de fazer um combate prático ao capitalismo, de modo a possibilitar o entendimento a todos a quem se dirige. Neste sentido, estou de acordo com os dois planos de ação propostos pelo autor. Mas não basta. Há que se praticar um discurso compreenivel pala massa aliado a propostas concretas de ação. É isso aí.
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0 #1 Socialismo do século XXILia Silva 19-07-2008 05:41
Um texto curto mas imenso em cerne. Eu me senti contemplada. Sou uma socialista nata, mas confesso: tenho vivido resignada a minha submissão ao Brasil capitalista travestido de livre. Perdi a esperança quando vi subir à rampa um trabalhador como eu cujo discurso me contemplava e com as práticas, ao final, tão contrárias ao discurso. Vejo meu sindicato que sempre foi de luta, gritar la fora pra nos reunirmos e nós, mais reprimidos do que nunca, não conseguirmos levantar a cabeça e descer para engrossar o protesto. É preciso rever sim, nossas práticas depois desse momento. Confesso que não sei como. Mas sinto uma angustia imensa com a perda da esperança de que o homem seja capaz de ocupar o poder sem tentar dominar a liberdade dos outros. Trabalho numa autarquia pública e sinto que havia muito mais liberdade de expressão antes quando o gerente era autoritário e de direita do que hoje que o gerente se diz democrático e nunca nos diz não, mas só executa as ordens de cima que são sempre contrárias aos ideais pelos quais lutamos tanto tempo juntos (nós e o gerente atual)
Que bom que nem todo mundo se resignou. Que maravilha perceber que ainda se têm esperança em algum lugar. Obrigada. Tenho 45 anos.
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