Correio da Cidadania

Cuidado com o malabarismo tático!

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A tática é o plano da próxima batalha. Será um bom plano se se ajustar às condições dela. Deverá ser mudado se essas condições se alterarem. Isto vale para a batalha militar e para a batalha política.

 

Em 1954, o PCB estava contra o Getúlio. No dia seguinte ao suicídio, suicidou-se; diante da comoção que o gesto provocou e da ira da massa popular contra os que o hostilizavam, o PCB fez uma virada de 180 graus e passou a acusar o imperialismo e a direita pela morte do presidente.

 

Tamanha e tão súbita "virada" desnorteou muita gente.

 

Não se pode atribuir inteiramente a isso a decadência eleitoral do partido que se seguiu e se manteve até 1964. Nesse ínterim houve o Congresso do PC soviético, o agravamento da guerra fria e uma série de outros fatores que podem explicar esse processo. Mas inegavelmente a súbita virada também contribuiu para o resultado.

 

Não quer isto dizer que a caminhada da esquerda deixe de requerer, em ocasiões muito especiais, a celebração de alianças temporárias com facções da burguesia: Mao Tse Tung aliou-se com Chiang Kay Chek para deter os japoneses; o PT nascente aliou-se com as facções de centro da burguesia brasileira para restaurar o poder civil.

 

Contudo, nessas manobras sempre muito delicadas, não se pode esquecer um fator crucial: a leitura que a massa faz delas.

 

No caso de massas populares despolitizadas, o malabarismo tático pode ajudar a mantê-las na ignorância, reforçando desse modo a dificuldade que elas têm em identificar seus inimigos. Em tais circunstâncias, o ganho parcial de hoje pode comprometer o resultado definitivo de amanhã.

 

Por isso, a organização de esquerda, seja política ou sindical, precisa considerar atentamente a leitura que o povo, embora não se manifeste abertamente, fará de seus movimentos.

 

Nessa leitura, os requisitos coerência e perseverança são decisivos. O extraordinário apoio popular a figuras como Ho Chi Min, Nelson Mandela, Fidel Castro explica-se basicamente pelo fato de que suas trajetórias políticas sempre foram impecavelmente coerentes e perseverantes.

 

No caso brasileiro, se a guerra de libertação dos trabalhadores rurais da opressão que sofrem em nosso país exigir um entendimento temporário com algum setor do agronegócio, é indispensável ponderar bem a reação de toda a população do campo, a fim de que o resultado imediato da manobra não venha a dificultar a construção da unidade sem a qual será impossível atingir o objetivo estratégico da luta do povo.

 

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