Correio da Cidadania

A votação da esquerda

0
0
0
s2sdefault

 

A média dos votos dos candidatos a prefeito do PSOL nas capitais de estado foi 2%. Menor nas cidades do interior. Os outros partidos de esquerda apresentaram resultados ainda piores. A que atribuir tamanho fracasso eleitoral?

 

Assinale-se primeiramente que o eleitor, neste país de cultura política primitiva, avalia o político em função do benefício direto que dele poderá auferir.

 

Por isso, aquela considerável parcela do eleitorado que faz parte da clientela dos políticos vota ou na expectativa de receber um benefício pessoal e imediato em troca do seu voto - um emprego, o calçamento da sua rua, a obtenção de uma dentadura - ou vota como retribuição a um favor recebido - bolsa família, ajuda do Prouni, ticket-leite.

 

A outra parcela do eleitorado - a maior - vota no candidato que parece ser o mais operoso, independentemente da ideologia que este professe ou do seu comportamento notoriamente antiético.

 

Portanto, nenhuma das duas parcelas de eleitores presta atenção em candidatos que as pesquisas mostram não ter chances de vitória.

 

A mídia reforça essa cultura política rudimentar ao formatar o debate entre os candidatos, atualmente o único momento da campanha eleitoral que desperta alguma atenção do eleitorado.

 

Esse formato tem um objetivo claro: impedir que os candidatos, por um motivo ou outro, levem a discussão para terrenos que podem ser perigosos para o "establishment" burguês. As regras são minuciosamente elaboradas a fim de possibilitar unicamente um enfadonho desfile de propostas administrativas.

 

Contra essa barreira esboroaram-se as candidaturas da esquerda. Todas elas, esquecendo-se de que o eleitor não presta atenção em proposta de candidato sem chance de vitória, usaram os preciosos minutinhos de exposição ao público na vã tentativa de demonstrar a superioridade de suas propostas administrativas sobre as de seus adversários, em vez de revelar ao eleitor a lógica perversa do debate e de enfatizar que os problemas do povo só poderão ser resolvidos de fato quando o povo conseguir alterar a atual correlação das forças políticas.

 

Não se imagine, contudo, que, se tivessem adotado este discurso, haveria possibilidade de alcançar votações muito expressivas. Evidentemente, não. A conjuntura adversa é um dado objetivo que não pode ser desconsiderado. Porém, numa campanha eleitoral, não ganha o partido que tem mais votos, mas o que consegue, ganhando ou perdendo, acumular forças para a consecução de seus objetivos estratégicos.

Com um discurso conscientizador, os candidatos da esquerda certamente arrebatariam votos de setores minoritários que não aceitam a impostura do processo eleitoral organizado pela burguesia a cada dois anos, a fim de poder alegar apoio popular à restrita democracia que institucionalizou no país. Além disso, deixariam no eleitor alienado uma pista para procurar alternativas quando se desiludir completamente com o próprio voto.

 

A lição a tirar deste episódio eleitoral parece clara: a reconstrução da proposta socialista não passa pela oferta de bons gestores ao Estado burguês. Durante muitos e muitos anos, a prioridade da luta institucional deverá ser a ocupação de cadeiras no Legislativo, a fim de conseguir uma tribuna para denunciar as mazelas do regime e para emprestar sua voz aos setores populares em luta contra a ordem estabelecida. Mas é preciso assinalar: essa voz só será ouvida pela massa se a esquerda priorizar uma ligação permanente com suas lutas.

 

{moscomment}

Comentários   

0 #6 guimarães sv 13-10-2008 19:19
é isso aí, caro editor, subscrevo na íntegra os comentários dp editorial. há muitos anos passados, desde os idos de 1981-1987, quando ajudei a construir e consolidar o PT na Bahia, ao lado de Jorge Almeida, Edival Passos, Jaques Wagner, José Sérgio Gabrielli e tantos outros então valorosos companheiros que defendia a tese de dar prioridade às lutas populares e, no campo instituicional, à eleição de parlamentares com o exato objetivo de oter uma tribuna para denunciar as mazelas do povo e a opressão capitalista mascarada de democracia. é assim com muita alegria que leio este editorial mais de duas décadas depois. parabéns! se ousarmos lutar juntos, todos, venceremos.
Citar
0 #5 Suzy Leuba Salum 09-10-2008 14:24
Bom alento, boas palavras! Retomamos assim as sempre contemporâneas lições de Gramsci que antevia a relevância do partido político, o "moderno príncipe", na construção de uma nova hegemonia agente da construção e da operacionalização da vontade coletiva. No entanto, valem as boas observações do Prof. István Mészáros quando afirma que: a “(...) única força capaz de introduzir a mudança e fazê-la funcionar são os produtores da sociedade, que têm as potencialidades e as energias reprimidas por meio das quais todos esses problemas e contradições podem ser resolvidos. O único agente capaz de alterar essa situação, que pode valer sua força, encontrando satisfação nesse processo, é a classe operária. (...) Não haverá avanço algum até que o movimento da classe operária, o movimento socialista, seja rearticulado de forma a se tornar capaz de ação ofensiva, por meio de suas instituições apropriadas e de sua força extraparlamentar. [Assim sendo, o] (...) parlamento, se deve se tornar de algum modo significativo no futuro, deve ser revitalizado e somente poderá sê-lo se assumir uma força extraparlamentar em conjunção com o movimento político radical, que também pode ser ativo através do parlamento (Cf. MÉSZÁROS, I. O marxismo hoje: entrevista com István Mészáros. Crítica Marxista, v.1, n.2, 1995, p. 135-6).”
Citar
0 #4 A campanha que alguns não querem verMarcio Bento 09-10-2008 12:18
A campanha na cidade de São Paulo foi ideológica e demarcou claramente uma posição de esquerda. Evidentemente, que em alguns momentos foi preciso enfatizar mais as propostas, em especial nos debates quando o candidato foi perguntado sobre determinado tema, mas isso não foi a tónica geral da campanha, basta ver, por exemplo, os programas de TV (Todos estão disponíveis no youtube, basta buscar por Ivan Valente). Houve um processo de voto útil que tragou os nossos votos na reta final. Quem fez campanha de rua viu que a candidatura do PSOL ganhou adesão, respeitabilidade dos eleitores mais críticos, no entanto, isso não foi suficiente para segurar o voto na reta final, principalmente com o avanço da candidatura de Kassab. A campanha em SP se recusou em cair no discurso fácil, no discurso moral, naquele que é capaz de agregar uma classe média direitista e preconceituosa, aquela que bate no PT por que é preconceituosa e antipovo e não por uma visão crítica à política conservadora desenvolvida pelo governo Lula. Por último, se a esquerda não reconhecer que os espaços para o pensamento crítico estão cada vez mais diminutos e continuar se engalfinhando vamos perder ainda mais espaços e pesperctivas de uma disputa de massas em torno de um projeto alternativo na sociedade. Setores da esquerda ainda continuam se esquecendo que a disputa de projetos se dá no meio do povo, nas ruas, a aunsência de muitos nessa campanha foi sentida, não querer ver essa realidade pode ser o pior balanço
Citar
0 #3 Por um Brasil SocialistaPaulo Ribeiro 09-10-2008 12:16
Parabéns pela análise e pela lucidez de suas palavras. A esquerda precisa abandonar sua postura reflexiva a adotar uma praxis com base no resgate dos sonhos e ideais socialistas que permitiram a criação do Estado cubano. É necessário combater este sistema eleitoral espúrio e corrupto e lutar pela implantação de conselhos populares que elejam verdadeiros líderes empenhados em implantar o socialismo em nosso Brasil. Por meio das lutas populares, vamos derrubar este governo burguês e promover as mudanças sociais que o Brasil necessita. O PSOL é o caminho da nossa luta e nossas armas são os nossos braços. Vamos, portanto, companheiro, à luta rumo a um Brasil Socialista!
Citar
0 #2 Odon Porto de Almeida 08-10-2008 17:53
A parcelas de esquerdas que comparece às eleições apenas para levar sua mensagem ideológica ao povo, sente-se frustrada. E muito mais frustrados são os candidatos que se dizem esquerdistas esperançosos em elegerem-se, pois andam nas nuvens e não analisam com seriedade o ambiente de indigência política em que vivemos. De um eleitorado despolitizado que se pode esperar?
Citar
0 #1 PSOL - um partido de esquerda.Cesar Rocha 08-10-2008 14:27
Nesses tempos de "marqueteiros e estratégistas" político-eleitorais talvez, se, de fato, queira ser um partido de esquerda o PSOL deva mudar esse nome esóterico, desprezar a via eleitoral (caminho de "partido da ordem" )estrábica e atuar efetivamente das lutas populares de maneira orgânica e relativizar esse conceito de "luta dos trabalhadores", aviltado pelo trajetória recente do PT e consórccios; Em síntese, constituir-se como "o partido político" das lutas populares e sociais. Senão o caminho já é conhecido, tornear-se-á uma espécie de PT anêmico.
Citar
0
0
0
s2sdefault