A votação da esquerda
- Detalhes
- Andrea
- 07/10/2008
A média dos votos dos candidatos a prefeito do PSOL nas capitais de estado foi 2%. Menor nas cidades do interior. Os outros partidos de esquerda apresentaram resultados ainda piores. A que atribuir tamanho fracasso eleitoral?
Assinale-se primeiramente que o eleitor, neste país de cultura política primitiva, avalia o político em função do benefício direto que dele poderá auferir.
Por isso, aquela considerável parcela do eleitorado que faz parte da clientela dos políticos vota ou na expectativa de receber um benefício pessoal e imediato em troca do seu voto - um emprego, o calçamento da sua rua, a obtenção de uma dentadura - ou vota como retribuição a um favor recebido - bolsa família, ajuda do Prouni, ticket-leite.
A outra parcela do eleitorado - a maior - vota no candidato que parece ser o mais operoso, independentemente da ideologia que este professe ou do seu comportamento notoriamente antiético.
Portanto, nenhuma das duas parcelas de eleitores presta atenção em candidatos que as pesquisas mostram não ter chances de vitória.
A mídia reforça essa cultura política rudimentar ao formatar o debate entre os candidatos, atualmente o único momento da campanha eleitoral que desperta alguma atenção do eleitorado.
Esse formato tem um objetivo claro: impedir que os candidatos, por um motivo ou outro, levem a discussão para terrenos que podem ser perigosos para o "establishment" burguês. As regras são minuciosamente elaboradas a fim de possibilitar unicamente um enfadonho desfile de propostas administrativas.
Contra essa barreira esboroaram-se as candidaturas da esquerda. Todas elas, esquecendo-se de que o eleitor não presta atenção em proposta de candidato sem chance de vitória, usaram os preciosos minutinhos de exposição ao público na vã tentativa de demonstrar a superioridade de suas propostas administrativas sobre as de seus adversários, em vez de revelar ao eleitor a lógica perversa do debate e de enfatizar que os problemas do povo só poderão ser resolvidos de fato quando o povo conseguir alterar a atual correlação das forças políticas.
Não se imagine, contudo, que, se tivessem adotado este discurso, haveria possibilidade de alcançar votações muito expressivas. Evidentemente, não. A conjuntura adversa é um dado objetivo que não pode ser desconsiderado. Porém, numa campanha eleitoral, não ganha o partido que tem mais votos, mas o que consegue, ganhando ou perdendo, acumular forças para a consecução de seus objetivos estratégicos.
Com um discurso conscientizador, os candidatos da esquerda certamente arrebatariam votos de setores minoritários que não aceitam a impostura do processo eleitoral organizado pela burguesia a cada dois anos, a fim de poder alegar apoio popular à restrita democracia que institucionalizou no país. Além disso, deixariam no eleitor alienado uma pista para procurar alternativas quando se desiludir completamente com o próprio voto.
A lição a tirar deste episódio eleitoral parece clara: a reconstrução da proposta socialista não passa pela oferta de bons gestores ao Estado burguês. Durante muitos e muitos anos, a prioridade da luta institucional deverá ser a ocupação de cadeiras no Legislativo, a fim de conseguir uma tribuna para denunciar as mazelas do regime e para emprestar sua voz aos setores populares em luta contra a ordem estabelecida. Mas é preciso assinalar: essa voz só será ouvida pela massa se a esquerda priorizar uma ligação permanente com suas lutas.
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