Correio da Cidadania

Pensar é o mínimo que se exige no momento

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Está se tornando cada vez mais imperiosa a necessidade de se convocar uma conferência (no sentido literal de conferir) dos partidos de esquerda para examinar os efeitos da crise do capitalismo mundial.

 

Por medida de prudência, este primeiro encontro não deveria ultrapassar o plano do debate intelectual - algo assim como aferir as concordâncias e as diferenças de análise. Seria um passo prévio para possíveis convergências no campo da ação política futura. A experiência indica que não convém reunir para tomar decisões no plano da ação se as posições das partes estão muito distanciadas.

 

De uma coisa parece que estamos todos convencidos: sabemos muito pouco a respeito do desenvolvimento dessa crise. Entretanto, temos conhecimento suficiente para perceber que as coisas não ficarão como antes e que a confusão criada não terá solução a curto prazo. Se houver acordo quanto a isso, já dá para conferir o que cada um pensa a respeito do que caberá fazer.

 

Os Estados Unidos continuarão hegemonizando a economia e a política internacionais? Os sacrifícios que a crise imporá recairão exclusivamente sobre os pobres ou atingirão também a classe média? Neste caso, a provável instabilidade social e política levará o mundo para a esquerda ou para a direita? Os países do famoso BRIC têm ou não condições de saírem bem da crise? Os instrumentos analíticos de que dispomos dão conta da tarefa de nos apontar rumos para a ação? Como fazer para afiná-los?

 

Eric Hobsbawm, por exemplo, declarou em recente entrevista que estamos diante de uma "virada" histórica do tamanho da crise dos anos 30. Para ele, o futuro é nebuloso, mas há um risco de que o quadro político mundial descambe para a direita. Isto decorre por um lado da ausência de uma força socialista atuante e, por outro, da possibilidade de que o marxismo, embora continue sendo o instrumento mais importante para a análise do sistema capitalista, não consiga responder a todas as indagações que a nova situação coloca para a elaboração de uma estratégia de ruptura da ordem capitalista.

 

A crise que desarticulou a divisão internacional do trabalho da era da hegemonia inglesa arrastou-se por cerca de cinqüenta anos e custou à humanidade duas guerras mundiais, duas revoluções socialistas e uma depressão econômica de mais de uma década.

 

Se a consciência do que pode acontecer com a atual crise não for motivo suficiente para que as esquerdas mudem rotinas antigas, revisem estratégias e abram uma temporada de profundas reflexões, parece razoável supor que não terão qualquer protagonismo político nos dias que virão.

 

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Comentários   

0 #1 José Damião Vasconcelos 30-10-2008 11:12
Mais uma vez, o Correio da Cidadania levanta uma questão à esquerda brasileira. Se ela (esquerda) for capaz de debater a crise mundial, seria um salto de qualidade na compreensão histórica do seu papel.
As 5 questões propostas são fundamentais, entretanto, precisarão ser respondidas, enquanto, classe trabalhadora.
Parabéns pelo editorial.
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