Fórum Social Mundial
- Detalhes
- Andrea
- 03/02/2009
"Para solucionar a crise são necessárias alternativas anti-capitalistas; anti-racistas; anti-imperialistas; feministas; ecologistas e socialistas".
Declaração da Assembléia das Assembléias.
O Fórum Social Mundial surgiu em 2001 como uma resposta da sociedade civil ao reinado absoluto do "pensamento único". Seu surpreendente e extraordinário êxito deu alento novo à esquerda mundial, derrotada pelo neoliberalismo no final do século XX.
O Fórum provou que há um enorme espaço de diálogo para unir os mais diversos setores da sociedade que se sentem oprimidos, quer por preconceitos quer pela dominação econômica, ideológica e política.
A condição desse diálogo é a sua total liberdade e a ausência de qualquer instrumentalização. Por isso, estabeleceu-se como regra que o Fórum não tomaria decisões por maioria de votos; não pressionaria por consensos em torno de estratégias de ação; não admitiria a participação de governos ou partidos políticos, senão como convidados.
Estamos falando dos primeiros anos do século XXI, quando a crise que se abateu sobre o mundo capitalista já se prenunciava, mas ainda não havia desabado sobre a economia e sobre o Estado Democrático de Direito. Quando os sintomas tornaram-se mais agudos, importantes setores do Fórum questionaram a regra da ausência de proposta unitária, com o argumento de que, para não cair no vazio, a promessa de "um outro mundo possível" precisava acrescentar uma "alternativa" concreta ao despotismo do capital.
Setores, igualmente importantes, resistiram a esse movimento alegando que uma clara opção ideológica ou política levaria a esquerda a novamente falar consigo própria.
Agora, em 2008, a forte crise abateu-se com toda a virulência sobre a economia mundial e alterou substancialmente a realidade que deu origem ao Fórum. De lá para cá também, o Estado Democrático de Direito, violado em 2001 pelo Patriot Act (Ato Patriota, da gestão Bush), vem sendo minado tão gravemente quanto no período de auge do fascismo.
A necessidade de propor uma alternativa tornou-se mais clara e mais urgente.
Neste clima, o Fórum realizou-se em Belém do Pará nos últimos dias de janeiro. A divergência de fundo não foi totalmente dirimida, mas, revelando um significativo amadurecimento político, os dois grupos encontraram uma solução de compromisso. Os "tradicionalistas", se quisermos chamar assim os que defendem o Fórum exclusivamente como um espaço amplo de debate, aceitaram uma proposta de realização de uma Assembléia voltada à aprovação de um manifesto claramente fundado na ideologia socialista – a Assembléia das Assembléias. Dessa Assembléia participaram aqueles que, militando no feminismo, no ecologismo e outras diversas frentes de luta, aceitam uma proposta de caráter socialista.
Por outro lado, os que propuseram a fórmula da Assembléia das Assembléias demonstraram-se abertos a examinar novas configurações da proposta socialista, a fim de evitar o dogmatismo e o autoritarismo que a distorceram no século XX. O teste desse avanço dependerá do apoio efetivo dos participantes do Fórum na concretização do calendário de lutas de 2009.
Se formos ao fundo da divergência a respeito da apresentação ou não de propostas concretas em nome do Fórum, verificaremos que ela está ligada à velha discussão a respeito da estratégia socialista: reforma ou revolução. Ela não foi resolvida em Belém, o que significa que a nova realidade do mundo ainda não evidenciou para todos os lutadores sociais o que para alguns já está claro: o esgotamento do modo de produção capitalista e do estado burguês (e, portanto, o esgotamento da estratégia reformista). Em vez de impor politicamente (ou seja, em termos de correlação de forças) uma estratégia ao Fórum todos optaram por continuar dialogando até que os fatos tornem óbvia a necessidade de uma mudança radical. Isto diz muito a respeito do espírito com que a esquerda pretende enfrentar o desafio de formular uma proposta socialista ampla, realista, respeitadora da liberdade e da dignidade das pessoas.
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