Correio da Cidadania

Um complô para entregar a Amazônia

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A Associação Brasileira de Reforma Agrária não é uma entidade desconhecida. Nascida nos anos de chumbo da ditadura – quando quase ninguém tinha coragem de falar no assunto –, ela reúne pessoas que se preocupam com os problemas fundiários do país. Um de seus presidentes coordenou, em 1985, a elaboração do I Plano Nacional de Reforma Agrária, e, em 2003, outro presidente coordenou a elaboração do II Plano. Seus diretores, entre os quais figuram ministros de Estado, deputados, secretários de agricultura, pesquisadores dos nossos melhores centros universitários, consultores internacionais, são assíduos colaboradores dos jornais e revistas do país.

 

Não se trata, portanto, de nenhuma entidade desconhecida à procura de publicidade. Pois bem. Assustada com o teor da Medida Provisória 458, a ABRA convidou toda a mídia de São Paulo e do Rio de Janeiro para uma entrevista coletiva, a fim de que esses veículos de comunicação tomassem conhecimento do levantamento feito por um de seus diretores, o professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, ex-diretor do departamento de Geografia da USP, sobre a estrutura fundiária da Amazônia Legal.

 

Valendo-se exclusivamente de dados oficiais do INCRA e de outros órgãos do Estado, o professor descobriu (literalmente) que a Medida permitirá ao governo entregar 67 milhões de hectares de terras públicas a algumas centenas de grandes posseiros que as ocupam ilegal e criminosamente. Para se ter uma idéia do que a cifra significa basta dizer que é maior do que a área agricultável da Alemanha e da Itália e um território maior do que a França.

 

Uma bomba, porque a ocupação dessas terras por particulares só pode ter ocorrido em razão da conivência de funcionários desonestos do INCRA, cartórios de registros de imóveis, juízes de direito, secretários de Agricultura, governadores, ministros, ao longo de vários anos.

 

A MP consiste numa operação de acobertamento de todo esse passado de fraudes, a fim de acelerar a regularização de terras a serem transferidas a grandes multinacionais para a instalação de megafazendas na região - uma espécie de "lavagem de dinheiro": transformam-se títulos falsos de posse ou propriedade em títulos avalizados pelo governo. Por que essa manobra? Porque os megainvestidores internacionais interessados em comprar terras na região não aceitam títulos discutíveis na Justiça. Tudo para perseguir uma fantasia mirabolante: criar na Amazônia uma enorme agricultura de exportação de carne, madeira, soja e cana-de-açúcar (etanol). Um absurdo ecológico e uma miragem econômica.

 

Todos os grandes veículos de comunicação (escrita, falada e televisada) de São Paulo e do Rio de Janeiro foram convidados com a devida antecedência. Para reforço, diretores da ABRA entraram em contacto direto com chefes de redação e repórteres conhecidos.

 

Compareceram unicamente: a Rede Vida de Televisão, o jornal Brasil de Fato, a Revista Fórum e a Agência de Jornalismo da PUC-SP.

 

A ausência dos grandes veículos em um evento organizado por uma entidade séria, para denunciar fato da maior gravidade, é a demonstração cabal do caráter antidemocrático dos monopólios que controlam a informação do público brasileiro.

 

O Correio da Cidadania não dispõe de força para ir além deste registro. Para que ele não fique incompleto é preciso registrar que Dom Pedro Stringhini, o senador Suplicy, o deputado Raul Marcelo e o dirigente do MST, João Paulo, atenderam ao convite da ABRA.

 

Neste momento, este registro não servirá para nada. Mas, quando o monstruoso complô que foi formado para entregar a Amazônia à sanha do capital for revelado, poderá ser útil para reconhecer méritos e punir culpados.

 

Em tempo: estudantes da USP encheram a sala e ouviram atentos à exposição. É para eles que este editorial foi escrito.

 

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Comentários   

0 #1 Vamos a luta!João Luiz Stefaniak 02-04-2009 12:59
Este editorial é importante pois, ao contrário do que afirma, serve para chamar a atenção da sociedade, pois apesar de não rivalizar com a grande impressa, o Correio da Cidadania é referência para inúmeros militantes sociais neste país. Agora é o momento de nos mobilizar para tentar evitar que mais esta medida do governo Lula que afronta os interesses nacionais e populares seja aprovado no Congresso Nacional.
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