Correio da Cidadania

Qual a proa do nosso vôo?

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Deu na coluna do Clovis Rossi na Folha de São Paulo do dia 31: Pascal Lamy, diretor da Organização Mundial do Comércio declarou o seguinte: " O modelo de capitalismo que conhecemos nos últimos 50 anos não se sustenta. A questão é saber se há que readaptar, arrumar ou reformar o capitalismo ou se é preciso ir além, ser mais profundo nas mudanças e ir mais fundo nos retoques" (...) "Creio que não temos que nos satisfazer intelectualmente com o horizonte atual do capitalismo".

 

Diante dessas palavras, ditas por uma pessoa do epicentro do centro do sistema capitalista, não é possível que ainda exista na esquerda brasileira quem esteja pensando numa "revolução popular democrática" para fazer o capitalismo voltar a funcionar.

 

É urgente o abandono dessa estratégia por outra que dirija os esforços dos partidos de esquerda e os movimentos populares para a ruptura socialista sem etapas intermediárias. Não se levante contra esta proposta o argumento falacioso de que ela se funda na fantasia de uma revolução social às nossas portas. Obviamente o capitalismo ainda dispõe de muito fôlego e não será substituído brevemente. O problema não é este, mas o da direção dos esforços.

 

Uma imagem aeronáutica pode esclarecer a idéia que se deseja transmitir: os planos de vôo dividem o objetivo final (o aeroporto de destino) em várias etapas (dos aeroportos mais próximos da partida aos aeroportos mais próximos do destino). Certamente os leitores já ouviram o comandante dizer aos passageiros: "neste momento estamos com a proa para o aeroporto "x" e, em seguida, rumaremos para o nosso destino final".

 

Proa, na linguagem do piloto, quer dizer: direção.

 

É isto: desde a volta ao regime institucional, a esquerda navegou com a proa voltada para reformar o capitalismo brasileiro, como uma etapa intermediária no roteiro do socialismo.

 

Não se trata de discutir agora a respeito da correção dessa estratégia no passado, trata-se de constatar que, atualmente, ela não se coloca. A proa dos socialistas é a ruptura do sistema capitalista para implantação de uma forma renovada de socialismo.

 

Alain Badiou afirma que estamos entrando na terceira fase do movimento socialista. A primeira foi do seu nascedouro, na Revolução Francesa, até a Comuna de Paris, em 1871 – uma fase de afirmação da proposta; a segunda desta data até a autodissolução da URSS, em 1991 – uma primeira tentativa de concretização da proposta. Estamos na terceira: formulação de uma nova forma concreta de realizar a proposta socialista.

 

Se nosso roteiro de viagem termina em Brasília e apontamos a proa da nossa aeronave para Porto Alegre, obviamente a viagem levará mais tempo do que necessário.

 

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Comentários   

0 #3 \"Qual a proa do nosso vôo?\"Helder Gomes 09-04-2009 14:20
As esquerdas partidárias brasileiras trilharam nas últimas décadas uma trajetória de degeneração política, marcada pelo abandono da perspectiva de organização das classes trabalhadoras e pelo esvaziamento da construção da revolução brasileira; optando pela via da representação absoluta, fundada num projeto democrático-popular bastante peculiar. A exigência histórica, neste momento, é o rompimento com essa trajetória degenerativa e a recuperação de uma agenda de lutas e de organização, que se orientem novamente pela ação revolucionária, sem os vícios da tradição construída nos últimos 30 anos.
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0 #2 José Ricardo Figueiredo 08-04-2009 13:08
O projeto estratégico socialista incorpora os objetivos do projeto popular democrático (democracia, reforma agrária, desenvolvimento nacional, etc.), e os eleva a um patamar superior. A colocação do projeto socialista como simples antítese ao projeto popular democrático encerra um perigo, o de enfraquecer lutas fundamentais para o próprio avanço do socialismo. Já vi isto acontecer no movimento docente(Andes): propostas avançadas serem torpedeadas porque caracterizariam o "insatisfatório" projeto democrático popular, sem que os pretensos socialistas apresentassem outras propostas no lugar das que detonavam. Colocando como inimigo o projeto popular democrático, favoreceram, não ao projeto socialista que pensavam (ou apenas diziam) defender, mas à direita anti-popular, anti-democrática e anti-socialista.
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0 #1 A Esquerda tem que lutar pelo o SocialisEduardo Rodrigues Brito 07-04-2009 13:59
Parece que está faltando compreenção apra a esquerda brasileira. Nunca vi uma alternativa de mudança tão capitalista como as propostas da EB, que para mim está se vendendo ao capital estrangeiro, será que não se tem mais uma identidade própria neste país?. Há a esquerda global parece está em crise.
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