Qual a proa do nosso vôo?
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- Andrea
- 31/03/2009
Deu na coluna do Clovis Rossi na Folha de São Paulo do dia 31: Pascal Lamy, diretor da Organização Mundial do Comércio declarou o seguinte: " O modelo de capitalismo que conhecemos nos últimos 50 anos não se sustenta. A questão é saber se há que readaptar, arrumar ou reformar o capitalismo ou se é preciso ir além, ser mais profundo nas mudanças e ir mais fundo nos retoques" (...) "Creio que não temos que nos satisfazer intelectualmente com o horizonte atual do capitalismo".
Diante dessas palavras, ditas por uma pessoa do epicentro do centro do sistema capitalista, não é possível que ainda exista na esquerda brasileira quem esteja pensando numa "revolução popular democrática" para fazer o capitalismo voltar a funcionar.
É urgente o abandono dessa estratégia por outra que dirija os esforços dos partidos de esquerda e os movimentos populares para a ruptura socialista sem etapas intermediárias. Não se levante contra esta proposta o argumento falacioso de que ela se funda na fantasia de uma revolução social às nossas portas. Obviamente o capitalismo ainda dispõe de muito fôlego e não será substituído brevemente. O problema não é este, mas o da direção dos esforços.
Uma imagem aeronáutica pode esclarecer a idéia que se deseja transmitir: os planos de vôo dividem o objetivo final (o aeroporto de destino) em várias etapas (dos aeroportos mais próximos da partida aos aeroportos mais próximos do destino). Certamente os leitores já ouviram o comandante dizer aos passageiros: "neste momento estamos com a proa para o aeroporto "x" e, em seguida, rumaremos para o nosso destino final".
Proa, na linguagem do piloto, quer dizer: direção.
É isto: desde a volta ao regime institucional, a esquerda navegou com a proa voltada para reformar o capitalismo brasileiro, como uma etapa intermediária no roteiro do socialismo.
Não se trata de discutir agora a respeito da correção dessa estratégia no passado, trata-se de constatar que, atualmente, ela não se coloca. A proa dos socialistas é a ruptura do sistema capitalista para implantação de uma forma renovada de socialismo.
Alain Badiou afirma que estamos entrando na terceira fase do movimento socialista. A primeira foi do seu nascedouro, na Revolução Francesa, até a Comuna de Paris, em 1871 – uma fase de afirmação da proposta; a segunda desta data até a autodissolução da URSS, em 1991 – uma primeira tentativa de concretização da proposta. Estamos na terceira: formulação de uma nova forma concreta de realizar a proposta socialista.
Se nosso roteiro de viagem termina em Brasília e apontamos a proa da nossa aeronave para Porto Alegre, obviamente a viagem levará mais tempo do que necessário.
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