Da importância da coerência
- Detalhes
- Andrea
- 05/05/2009
O delegado Protógenes tem todo o direito de aproveitar a popularidade que granjeou na Operação Satiagraha para disputar algum cargo eletivo. A notoriedade constitui mesmo um dos primeiros requisitos para o início de uma carreira política. Portanto, que ele esteja à procura de uma legenda para candidatar-se a qualquer coisa em 2010 está na ordem natural das coisas.
O que não está na ordem natural das coisas é sua filiação ao PSOL. Até o dia 1º de maio, podia-se argumentar que o delegado era – ou podia tornar-se – um autêntico socialista. Não, porém, a partir dessa data, porque sua presença no palanque da Força Sindical – uma central operária notoriamente governista – evidencia a incompatibilidade de sua filiação a um partido socialista.
A comemoração do massacre de trabalhadores pela polícia em Chicago, em 1896, tornou-se o símbolo da luta da classe operária contra o regime burguês e obviamente não combina com o sorteio de automóveis e apartamentos entre os participantes nem com shows milionários, a fim de reunir milhões de pessoas e demonstrar uma força que já não possuem, como se tornou usual entre as centrais sindicais que abandonaram a causa da classe operária.
Pois bem, nesse mesmo dia, nessa mesma hora e nessa mesma cidade, as centrais sindicais apoiadas pelo PSOL – Conlutas e Intersindical – realizavam, juntamente com o PCB, PSTU, MST, Pastorais Sociais da Igreja, CNBB e dezenas de movimentos e organizações populares, a verdadeira comemoração do Primeiro de maio.
Portanto, a presença do delegado Protógenes no palanque da Força Sindical ou demonstra sua rejeição à proposta classista ou revela uma ignorância política incompatível com o início da carreira política já com a enorme responsabilidade de exercer um cargo eletivo em representação dos socialistas.
Ora, sendo o PSOL um partido socialista, não pode compor sua lista de candidatos com o critério do número de votos que estes poderão trazer para a legenda, independentemente de suas posições ideológicas, pois, se assim o fizer, sua imagem se confundirá automaticamente com a dos demais partidos burgueses.
Numa hora de profunda desmoralização dos partidos, a queixa que mais se ouve no meio da massa popular é a incoerência entre o discurso dos políticos e sua prática. Nesse contexto, o grande trunfo dos partidos socialistas é a sua coerência. Perdendo-a, caem na vala comum dos partidos eleitoreiros.
{moscomment}
Comentários
Aguardo os arguentos de Robaina para ver se mudo de opinião.
Até lá mantenho minha concordância com o editorial.
Axé
BAguinha
Afonso (Diretório Estadual do PSOL-SP)
O espaço eletrônico do Correio está inteiramente à sua disposição para retrucar o editorial em questão. Aliás, o debate sobre o assunto Protogenes é altamente salutar, a fim de ajudar a definir claramente a ideologia do nosso partido.
O articulista não é contrário à filiação do delegado ao PSOl, mas sim, questiona a perigosa falta de coerência do mesmo (ou talvez sua indecisão, ou seu desconhecimento do que seria socialismo) ao se colocar em dois lugares opostos-burguês e socialista-ao mesmo tempo. Quanto ao Psol, há uma clara defesa do partido ao chamar a atenção para que se preserve a dependência ideológica dos seus integrantes e recusando como critério de composição, a de números. Já sabemos aonde isso nos leva!
Assine o RSS dos comentários