Da necessidade de CPIs
- Detalhes
- Andrea
- 20/05/2009
A CPI da Petrobrás deve ser levada adiante. Afinal, um dos deveres do Congresso consiste em fiscalizar a administração pública e a apuração de irregularidades não pode ser obstada por "razões de Estado", especialmente quando alegadas pela parte a ser investigada.
Mas o Congresso está devendo ao povo brasileiro uma outra CPI, bem mais importante: a CPI sobre a qualidade do ensino que a sociedade brasileira está fornecendo à nossa juventude. Uma CPI que constitua um inquérito exaustivo sobre todo o sistema, abrangendo o ensino público e privado, os vários níveis de ensino e as redes nacional, estadual e municipal de escolas públicas. Algo como foi feito nos Estados Unidos quando o vôo espacial de Yuri Gagarin revelou ao povo americano que o sistema de ensino soviético estava anos na frente do americano.
Como é que nós queremos viver em um país civilizado se a nossa escola, em todos os níveis, é um descalabro? Sim. Descalabro: professores mal pagos, mal preparados e, pior, desrespeitados; currículos escolares defasados; prédios escolares sucateados; livros didáticos nas mãos do cartel das cinco grandes editoras; faculdades privadas que não passam de fábricas de diplomas.
Diante desse inominável descaso, de espantar seria se não houvesse falta de aproveitamento, indisciplina nas escolas, vandalismo, armas, drogas e violência entre os alunos. Barbárie chama barbárie.
Tivemos nesta semana um bom exemplo da barbárie que tomou conta do sistema de ensino no Brasil. Reportagem da Folha de São Paulo (19/5) reproduziu trechos e imagens de um livro adquirido pela Secretaria de Educação de São Paulo para distribuição gratuita aos alunos.
Se a existência de mercado para um livro tão chulo, primário, grosseiro, pornográfico, fescenino, causa surpresa, o fornecimento desse livro aos alunos das escolas públicas é estarrecedor e dá bem a medida da falta de respeito com que o Estado brasileiro trata a sua juventude. É espantoso. E mais espantoso ainda quando se sabe que foi adquirido pela Secretaria da Educação para distribuição aos alunos, num programa que – pasme-se!- visa estimular a leitura extracurricular.
Aliás, o próprio autor ficou surpreso com a compra do seu livro, pois declarou ao repórter da Folha que certamente o funcionário que os comprou não os havia lido.
Entretanto, a nota de esclarecimento da Secretaria, longe de manifestar indignação pelo ocorrido, procurou minimizar o fato afirmando que os exemplares comprados são poucos em relação à enorme quantidade de livros que adquire. Senhor dos Céus, isso lá é justificativa!
O governador José Serra precisa vir a público dizer o que determinou a respeito do episódio. E seria bom que já viesse com a lista dos funcionários afastados e dos inquéritos administrativos instaurados para expeli-los do serviço público por incompetência ou desídia.
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Comentários
Muito obrigado pela sua mensagem. Pena é que são tão poucos os que preferem discutir a educação brasileira a fazer picuinha política.
Um abraço, Plinio
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