Correio da Cidadania

Como no futebol: professor agora ganha “bicho”

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A gravidade do problema da educação primária e secundária do país não se mede pela insuficiência da rede escolar (que não consegue sequer matricular toda a população juvenil do país), nem pela precariedade dessa rede (tanto em decorrência da falta de preparação e de motivação dos docentes quanto da precariedade das instalações físicas) e nem mesmo da violência que campeia tão solta a ponto de freqüentar escola constituir risco de morte.

 

O quadro é muito mais grave, resultante do comportamento irresponsável dos governos petistas e tucanos, cujas políticas educacionais solapam os fundamentos da cultura, da ética e da própria dignidade de professores, funcionários e alunos.

 

Constrangidos pelo impacto da crise do capitalismo no Brasil, tais governos, incapazes de reagir a ela com dignidade, sabem que não estão autorizados a gastar dinheiro com a educação. Pelo contrário, sabem que terão de arrochar salários de professores e de funcionários, bem como reduzir investimentos em edifícios escolares e equipamento pedagógico. A saída para esconder a vergonha é a corrupção do caráter do professorado, do funcionalismo e dos alunos.

 

O método usado para isto é a concessão de bônus. Se a escola consegue um resultado positivo em relação a uma certa meta que o governo estabelece, os professores recebem um "bônus" em dinheiro – bônus este que pode ser efetivado pelo próprio governo ou por alguma empresa privada, como parte de sua política de limpar a imagem.

 

O mesmo acontece com o aluno pobre. Se obtiver nota superior a um certo número, sua mãe receberá um pequeno aumento na Bolsa Família.

 

Mas tem ainda mais: lei recentemente aprovada pela Assembléia Legislativa de São Paulo criou vários "incentivos" aos professores. Vejam estas duas "pérolas": o professor que cumprir uma série de condições (por exemplo, não faltar, não pedir remoção etc.) pode ser selecionado para fazer uma prova de avaliação de sua competência docente. Tirando nota superior a 6 nessa prova, estará credenciado a receber um aumento que poderá representar até 20% do seu salário. Ou então essa outra: o professor substituto que for contratado para dar aulas em 2010 terá de purgar uma quarentena de 200 dias, para ser recontratado em 2.011. Tem algum cabimento nesse tipo de "incentivos"?

 

O incrível é a sociedade não perceber que esta política é obscena, corrompe totalmente o processo educacional da juventude – fundamento da reprodução física e ética de todo o corpo social.

 

A corrupção atinge todo o professorado na medida em que o bônus, a avaliação e outros "incentivos" da mesma espécie são esmolas destinadas a substituir o salário e a dividir a classe. É assim que o caráter desse professorado se corrompe, porque cada candidato a recebê-los sabe que está aceitando esse benefício espúrio unicamente porque não tem coragem de lutar pelo seu direito legítimo a uma remuneração digna da importância e da nobreza da função que cumpre na sociedade. A opção pela esmola infecta a sua consciência e torna o professorado, como um todo, um corpo amorfo incapaz de influenciar na sociedade.

 

A corrupção dos alunos começa aí. Como pode o aluno respeitar um professor que não respeita a si próprio? Acaso, não é o mestre, depois dos pais, a referência mais forte na formação ética do jovem? Quando o jovem se depara com um professor que aceita a humilhação sem luta, é este o paradigma que incorpora no universo da sua consciência. Pode-se imaginar a Pátria que surge daí.

 

Mas o problema é ainda mais grave: logo o jovem percebe que está integrado numa instituição farsesca. Sem uma referência institucional clara, ele tende a buscar no traficante que o ronda na saída das aulas uma escapatória para sua falta de orientação e de estímulo.

 

Este monstruoso crime está sendo cometido por pseudo-intelectuais que conseguem a proeza de aliar soberba e servilismo, sob as vistas de uma geração de brasileiros que desertou das suas obrigações.

 

Esta obscenidade precisa ser denunciada com toda força hoje, para que o povo brasileiro possa cobrá-la amanhã.

 

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Comentários   

0 #12 ler o mundo e aprender a aprenderSevrino 24-12-2009 08:08
Plínio,

A situação de "descaso" com a instrução parece ser generalizada. Você teria um documento ou colatânea de avaliações por estado? Eu conheço um pouco as realidades da cidade de São
Paulo e de algumas cidades de MG.

Este aparente descaso é de fato uma política proposital de desestímulo ao raciocínio e à compreensão da realidade. Você não acha?
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0 #11 plinio sampaio 21-12-2009 08:21
Prezado Roberto,
Muito obrigado pela sua mensagem. Concordo inteiramente com o diagnóstico, Não vejo muita saida dentro do atual sistema político, porque, na verdade, os que mandam não têm nenhum interesse em que o povo seja instruído.
Um abraço, Plinio
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0 #10 O foco tem que ser outro...Tadeu Batista 20-12-2009 20:44
A esperança sempre é que os políticos façam pela educação o melhor.
Costumo perguntar: o que a educação pode fazer pela política?

A educação é tudo e tem que partir de uma formação baseada em valores éticos, morais e acadêmicos para a verdadeira transformação social.
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0 #9 como no futebol professor agora ganha biraul 19-12-2009 12:30
Um dos grandes desafios é como dialogar com esses setores marginalizados que elegem sempre seus próprios carrascos? Como despertar milhões de consciências para a política? Não devemos ter respostas simples para isso , mas qual organização social tem em sua prática política a de seus ativistas saírem de dois em dois ajudando a fundar núcleos de alternativos de ação e de resistências culturais? As igrejas pentecostais conseguem fazer isso.Ah , dirão alguns , lidar com as coisas da religião é bem mais fácil.
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0 #8 Roberto 18-12-2009 09:25
O desrespeito é generalizado. O MEC batalha por um plano de carreira há 20 anos. Em abril de 2006, o próprio Lula anunciou a criação do plano, mas era uma mentira. Até hoje o Governo não fez nada. A estrutura está sucateada. A irracionalidade tomou conta da política de remuneração (um menino de 18 anos que entrar na CAPES ou no FNDE terá um salário superior ao de um servidor do MEC com doutorado!). É muita balela sobre a valorização dos profissionais em educação. Não vejo a hora dessa turma do Haddad deixar o poder. Longe de mim deixar de reconhecer alguns avanços no Governo Lula, mas parece que, por uma infelicidade do destino, os piores quadros do PT foram indicados para o MEC. Haja fisiologismo, haja falta de coerência nas propostas, haja politicagem para manter tantas ações rasas que insultam a inteligência dos que trabalham com educação!
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0 #7 plinio sampaio 16-12-2009 12:53
Prezada Marilesia,
A situação retratada em São Paulo e que voce retrata no Rio Grande do Sul repete-se em todo o país. A educação brasileira precisa ser totalmente revolucionada. China, Taiwan e Coreia fizeram isto, por isso passaram na frente do Brasil.
Muito obrigado pelos seus comentários.
Um abraço, Plinio
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0 #6 plinio sampaio 16-12-2009 12:52
Prezado Esdras,
Muito obrigado pelo seu comentário, que completa a denuncia feita. É mesmo indispensável ativar mais a Apeoesp e organizar o protesto dos professores.
Abraço, Plinio
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0 #5 Tucanos agem igual aqui no RSMarilesia Cardoso de Aguiar 13-12-2009 19:29
A Governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, também está usando a falácia de que prêmios ou bônus por produtividade servem de incentivo aos professores.Questionou no STF piso de 1.100 definido pelo Governo Federal e aplicou um golpe no magistério. Além disso, quer emendas à Constituição Estadual, caçando a licença prêmio e os adicionais por tempo de serviço. Aliás, ela já não cumpre esta Constituição, pois não reajusta o salário do funcionalismo de forma linear, na mesma data e percentual, como deveria. Mas aumenta o próprio salário em 147% pouco depois de assumir o cargo,faz carinhos em algumas categorias, engambelando-as com índices vexatórios e retira direitos, por baixo dos panos, aumentando ainda mais a disparidade entre o menor e o maior salário pago ao funcionalismo. Judiciário e Legislativo, Tribunal de Contas, Defensoria Pública e Oficiais da Brigada militar são os beneficiados, além, é claro, de todo o secretariado, presidentes de autarquias e fundações e demais apaniguados. É uma vergonha!!!
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0 #4 COMO NO FUTEBOL:PROFESSOR AGORA GANHA \"ESDRAS JOSÉ FERREIRA 13-12-2009 14:45
Até quando?
A política neoliberal implantada no Brasil pelo governo Collor,depois seguida a rica por Fernando Henrique Cardoso,e até o momento,pelo governo Lula vem fazendo um estrago muito grande em nosso país.O neoliberalismo no Estado de São Paulo,de Mario Covas até o governo atual de José Serra,veio para destruir os serviços públicos,no caso específico do texto do Plínio, a EDUCAÇÂO.Como não foi e não é fácil colocar 200 mil professores de joelhos para adorar a política neoliberal,o governo implantou a política de bonus (com 10 anos de vida),a meritocracia,ou seja,para se ter um aumento de salário o professor terá que se submeter a uma provinha em janeiro,sem contar os inúmeros ataques aos professores implementados durante os governos tucanos.Apesar de sermos o maior sindicato do Brasil e da América Latina,a APEOESP,não tem conseguido fazer o enfrentamento necessário para barrar as investidas tucanas contra os professores.A DIRETORIA CENTRAL parece que não quer ver como é grande a revolta dos professores contra esse estado de coisas.Se a mesma visitasse as escolas,talvez veria que o caminho adotado está errado e que o professor quer um sindicato nas escolas em contato direto com os mesmos,pois não dá mais para aguentar tanta humilhação.Se a APEOESP não conseguir catalizar os clamores dos professores,os desmandos irão continuar e isso é muito perigoso para uma sociedade que quer superar suas trágicas mazelas sociais.E a educação de qualidade e com liberdade è imprescindível para tal empreitada.Até quando a EDUCAÇÃO vai continuar sendo política de partidos políticos e não POLÍTICA DE ESTADO?
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0 #3 plinio sampaio 11-12-2009 15:12
Prezado Oscar
Muito obrigado pelo comentário. Uma dúvida: por que "quase"?
Na minha avaliação, a situação dos professores é terrível e precisamos dar-lhes todo o apoio.
Um abraço, Plinio
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